domingo, 28 de março de 2010

Idade da Vergonha

Se a humanidade sobreviver a este período, é bem provável que ele fique conhecido como a Idade da Vergonha. Tomemos como ilustração o filme ganhador do Oscar neste ano de 2010, Guerra ao Terror... será que reconhecer que a guerra existe porque nos a desejamos pode sinalizar alguma possibilidade de mudança futura? Assim como Kant projetou alguma melhora ao ver as convulsões humanas durante a Revolução Francesa? Leso engano, creio eu. Ao vermos a miséria e ignorância impregnadas neste mundo, ao vermos toda a degeneração humana, toda a violência, todo o planeta convulsionando, tudo em nome de um pseudo progresso, de um processo econômico peçonhento... Repito, se a humanidade sobreviver a tudo isto e conseguir olhar este momento com o distanciamento necessário, sentirá a vergonha pela história que aqui se estabelece.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Apresentação do curso de Filosofia na USJT

Eu tentei ignorar, mas agora, como Filósofo, meu ser interior não me deixou em paz. Então, aqui vai a descrição e crítica de uma palestra de apresentação do curso de Filosofia da Universidade São Judas Tadeu.
Era a segunda semana de aula, ainda estávamos todos um pouco perdidos com tantas informações, disciplinas, textos, pessoas e professores. Ao chegar à sala de aula, o aviso: Palestra sobre o curso no Auditório da Reitoria. Depois de uma longa caminhada e entrar em alguns auditórios que não eram o da reitoria, encontrei o lugar. Como estava atrasado fui entrando mas ao ver quem estava no palco parei na porta e voltei. Perguntei ao garoto que estava em um balcão próximo: - É o Kid Vinil que está nesta sala?
Ele riu e disse que não, aquele era o reitor e estava falando sobre o curso de Filosofia para os alunos novos. - Você é aluno de Filosofia?
Depois de um aceno afirmativo voltei a entrar no auditório e demorei um pouco a atender o que estava acontecendo. O reitor falava sobre pensamento positivo, ser feliz apesar das dificuldades pois existem pessoas que são cegas e são felizes, e lorota afora.
Um colega de classe chegou a anotar oito razões pelas quais ele poderia sair da sala, mas manteve-se até o final pois determinou a si mesmo o limite de dez razões. O ápice do meu espanto foi quando ele citou o fundador do McDonald's como modelo para nós, contou toda a história de vitória e sucesso daquele vendedor de máquinas de sorvete. A partir deste momento passei a ver os estudantes da São Judas passeando pelo pátio de alimentação como vários BigMac's, Quarteirões com Queijo, Crispy Chicken's, tortas de maça, sundaes de chocolate etc.
Mas o pior ainda estava por vir.
Para ilustrar sua "mensagem" ele passou uma apresentação em powerpoint, daquelas que nós recebemos milhares todos os dias, de amigos e inimigos, de variações sobre o mesmo tema, com cachorrinhos, paisagens bucólicas, musiquinha zen no fundo e nos dizendo que o mundo é lindo se conseguirmos ignorar a realidade.
Putz. Eu apago este tipo de merda do meu e-mail todos os dias e o reitor me obriga a engolir uma.
E a apoteose final: mais uma animação em powerpoint com a propaganda daquele livro conhecido por todos: "O Segredo". Definitivamente, não era o Kid Vinil. O Kid Vinil não falaria tanta inutilidade. Suspiro.
Ao invés de nos falar sobre a importância da Filosofia para o mundo contemporâneo. A necessidade de crítica, de não sucumbirmos ao consumismo desenfreado, de refletirmos e provocarmos reflexão em todos os meios possíveis, de nos propor a lutar pelo fim da miséria e mediocridade humana...
Já tivemos a geração Coca-cola (eu me considero parte dela). Pelo menos havia alguma ideologia e protesto envolvido com esta marca. A União Soviética não permitia a entrada da Coca-cola, só podia ser Pepsi. Eu só tomava guaraná. rsrs.
Hoje nós temos a geração BigMac. O mesmo sabor em qualquer lugar do mundo. E todas as populações almejam ter em seu território pelo menos um McDonald's, ou estou enganado? E não foi o local com maior movimento no último Forum Social?
Na realidade o reitor esta certo. Trabalhe, produza, compre, jogue fora, compre novamente, produza mais, compre mais, recicle, compre novamente reciclado; siga o ritmo da vida, acorde cedo, vá trabalhar, sacrifique sua família para ser pró-ativo e ter sucesso, deixe a vida te levar! Afinal, este é o sentido da vida em um mundo McDonald's.
Estava esquecendo: tome sua dose diária de felicidade mágica! Mas saiba que a felicidade mágica é tão útil para a solução dos problemas da humanidade quanto a morfina é útil para a cura do câncer.

PS: Se queremos falar sobre felicidade, recomendo a leitura de Ética a Nicômaco de Aristóteles. Indico a tradução do grego pelo Professor Antonio de Castro Caeiro, publicada recentemente pela Editora Atlas. Aqui sim pode-se encontrar uma Felicidade que seja necessária a nosso mundo e a nós mesmos.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Iorgute ou iogurte? Eis uma questão...

Ufa! Após meses de vácuo eis que ressurjo entre cinzas como Angelus Novus do Paul Klle, a mesma imagem que Walter Benjamin usa em seu texto "Sobre o Conceito de História":

"Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso."

Tenho frequentado o curso de Filosofia na Universidade São Judas Tadeu e me sinto embriagado em idéias e palavras e luto para não perder completamente a lucidez.

Mas o mundo grita!

Em frente à minha casa vi um quadro anunciando os comes e bebes de um destes novos barzinhos da baixa Augusta. Me intrigou a grafia: "Yorgute batido".

Estranhamento. Riso.

Com a memória não plenamente esvanecida, eis que, na lanchonete da Universidade São Judas Tadeu ouço uma estudante (colega?) pedindo no balcão: - Iorgute com morango.

Pausa. Silêncio. Pensamento.

As pessoas são profundamente influenciadas e perdem a noção das coisas: o novo ioRgute é uma contaminação da palavra Orkut?

Até entendo as transformações da linguagem, mas, de iogurte para iorgute ou yorgute?

SOCORRO!!!

Vejo neste pequeno detalhe o sintoma da doença de nossa época... absorvemos, engolimos e defecamos. Processo contínuo e voraz.

O momento é agora! Temos que parar! Temos que nos opor a esta temporalidade da produção e do consumo capitalistas! Não somos marcas ou grifes, não somos mercadorias ou mercado!

O momento é agora, de buscarmos alguma identidade, antes que nada reste do que somos ou fomos um dia. Não quero 15 minutos de fama, mas preciso imensamente de 15 minutos de Vida!

Se alguém realmente quer salvar o mundo ou a humanidade, por favor, grite comigo: ABAIXO A ALIENAÇÃO!! E não me desculpem, mas dentre os alienados, os jovens fazem coro.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Mensagem para um Natal

Não me sinto à vontade para desejar um Feliz Natal...
Soa aos meus brios algo hipócrita em mim,
desejar um dia feliz depois de ler uma página como esta:
As dez maiores crises humanitárias de 2009.
Desejaria que milhões de pessoas em estado de miséria
tivessem pelo menos um dia feliz, ou pelo menos um dia com comida.
Mas meu desejo não os afeta, minhas ações menos ainda.
Me resta agradecer ao Deus Todo Poderoso pelo fato
de a mesa em minha casa ser farta,
e nada faltar na mesa de meus amigos!
E vamos começar um ano novo, 2010.
Novamente desejos puros:
Saúde, Sucesso, Dinheiro!!!
Talvez seria melhor um pouco mais de reflexão,
meditar sobre a realidade de nosso mundo e de nossa existência.
Acreditar no poder do pensamento positivo!
Mas para o pensamento ser positivo ele precisa existir...
não basta eu repetir frases de papagaio se eu, de fato,
não penso, não reflito, não medito sobre a realidade que quero mudar.
Posso abraçar alguém que odeio e dizer as palavras:
Feliz Natal!
Posso abraçar alguém que não conheço e dizer as palavras:
Feliz Ano Novo!
Posso repetir milhões de vezes: Feliz Natal e Próspero Ano Novo!
É sobre isto que vou pensar/refletir/meditar,
por horas e horas e horas,
para que eu realmente contribua de alguma forma para que
exista um Natal Feliz e um Ano Novo Próspero,
para todos nós!
George Carlin - Save the planet

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sinos

Ouvi os sinos da Ave Maria.
Exata a mente. Era 6 horas da tarde, anunciando a noite.
Há muito tempo que eu não os ouvia, e nunca os ouvi como neste momento, no alto da Avenida Paulista, sobre o som de motores de automóveis e suas buzinas, sobre o ronco monótono do ar condicionado central do edifício ao lado.
Ouvi-los em Araras, minha terra natal, é nostálgico e vital. Minha infância teve muito som de sinos, eu mesmo os badalei quando era coroinha.
Ouvi-los em Ouro Preto era um êxtase, uma apoteose, um festival!
Ouvi-los neste momento me trouxe um pouco mais de fé no mundo e nas pessoas - talvez seja efeito (colateral) do Natal.
Ouvi-los neste momento me trouxe um pouco de razão, ao menos a razão para escrever este texto.
Que badalem os Sinos; eterna a mente!!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Domingo no Parque

Mais um domingo delícia. Programa para quem não tem dinheiro. Passear pelo Ibirapuera. Depois de ver a Orquestra do Auditório, ao ar livre. Jovens músicos transcendendo a mediocridade do dia após dia. A Dança das Águas. Muita gente, muita criança, muita vida, conhecer novas pessoas, pessoas que talvez nunca mais encontremos. Valeu o dia, valeu a música, valeu viver! São Paulo também tem vida! Basta vivê-la, bem!

domingo, 11 de outubro de 2009

Crônica para 11 de outubro

Dizem que tô louco
Por te querer assim
Por pedir tão pouco
E me dar por feliz
Em perder noites de sono
Só pra te ver dormir
E me fingir de burro
Pra você sobressair

Dizem que tô louco
Que você manda em mim
Mas não me convencem, não
Que seja tão ruim
Que prazer mais egoísta
O de cuidar de um outro ser
Mesmo se dando mais
Do que se tem pra receber
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê

Dizem que tô louco
E falam pro meu bem
Os meus amigos todos
Será que eles não entendem
Que quem ama nesta vida
Às vezes ama sem querer
Que a dor no fundo esconde
Uma pontinha de prazer
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê

Cazuza / Dé / Bebel Gilberto

11 de outubro de 1991 – 11 de outubro de 2009
18 anos – A maioridade de um sentimento.
Em uma certa noite Adriana me perguntou se eu achava mesmo que o Amor é eterno, e eu confirmei, SIM. O Amor é eterno. As relações se transformam, mas o Amor é eterno. Haja visto que hoje comemoro 18 anos de um Grande Amor e quero me dedicar a um texto em sua memória.
Um dia Clarice me revelou: “Medo de não amar, maior que o medo de não ser amado.” Eu me senti triste pois naquele momento achei que nunca havia amado ninguém. Riso. Mas este era um auto-engano que a pouca vida oferece para dar mais ênfase, mais dramaticidade, mais consistência àquele pouco que vivemos.
Quando olho para o meu passado percebo que amei muito, que tive GrandeS AmoreS! Graças a Deus! Sempre fui muito rico em Amores. Hoje me sinto pobre, hoje também sinto medo de não amar. Mas me salvam as memórias, e a elas recorro para festejar este dia e todos os meus Amores:
Estávamos viajando há mais de uma semana. Foram várias cidades no interior de São Paulo, vários hotéis, vários restaurantes, várias platéias. Naquele 11 de outubro chegávamos em Belo Horizonte para conviver em mais um hotel, mais um restaurante. No dia seguinte teríamos mais uma platéia. Éramos um Grupo de Teatro cheio de vitalidade, cheio de alegria, montando e desmontando nosso cenário, fazendo e desfazendo nossa maquiagem. Acordávamos juntos, tomávamos café da manhã juntos, trabalhávamos juntos, nos alimentávamos juntos e conversávamos, e conversávamos, e ríamos, e ríamos, e brigávamos também, poucas vezes.
Estávamos viajando há mais de uma semana e naquele dia 11 de outubro chegamos em Belo Horizonte e eu não aguentava mais tanto convívio em comum. Risos.
Então, como não era difícil para mim, jantei com o grupo no hotel e com a desculpa de ir ao banheiro sai de mansinho, sem convidar ninguém para a tradicional cerveja. Eu adorava e adoro todos aqueles amigos, mas Belo Horizonte era uma cidade com um apelo diferente, eu sabia que algo especial me aguardava nas Minas Gerais, entre montanhas.
A noite estava deliciosa. Estava na Savassi, um bairro bacana, véspera de feriado. Sentia a vida fervilhando sob as estrelas. Andava perdido, sem ter onde ir, sem conhecer qualquer rua, qualquer lugar. Ao chegar em uma esquina me deparei com uma Torre Eiffel de 2 metros no meio da calçada.
Uau! A memória dos poucos dias que passei em Paris tomaram meu humor e me deram a garantia de que aquela noite seria memorável. Entrei no local para ver do que se tratava. Era uma boate, a Troisieme. Não tive dúvidas. Entrei.
A noite não estava cumprindo o prometido... a música era legal, havia um telão com imagens de aviões fazendo acrobacias, muitas pessoas como as muitas pessoas que sempre encontramos em muitas boates. O tédio começou a me dominar.
Em meio ao movimento eu vi quando ele entrou, acompanhado de uma menina. Um casal interessante. Não sei exatamente o porquê, mas minha atenção se fixou nele e meu pensamento o escolheu como tema. Ele era o escolhido. Mas eu, tímido, pouca inteligência relacional (riso) fiquei na minha, pensando, sem ação, me entregando ao tédio.
Quando o tédio venceu meu desejo de ficar tomei o caminho da saída. Som, luzes e eis que eu o vejo, encostado em uma coluna, só. Meus olhos se fixaram nele, o caminho da saída me levava a cruzar com ele, e meus olhos não conseguiram abandoná-lo. Parei quase em frente a ele, os olhos ainda fixos, minha cabeça enlouquecendo: eu preciso dizer algo! o que eu digo? que palavras usar? Ali, parados, olhos nos olhos. De repente ele apenas pegou em meu braço e me levou para dançar.
Nunca fui um bom dançarino apesar de frequentar muitos bailes na cidade onde nasci, no interior de São Paulo. The Cure e Joy Division me ajudaram neste sentido e meu jeito desengonçado podia ser tido como uma dança, mas ele era ainda mais desengonçado que eu, porém, naturalmente. E aquele jeito natural de ser desengonçado me deixou à vontade e poucos momentos depois estávamos nos beijando.
Da pista para uma área vazia no fundo da boate foi uma transferência instantânea. Lá ficamos, em pé, abraçados, excitados, falando sem parar sobre Clarice, sobre música, sobre teatro, sobre cinema. Aquela conversa, em outro momento, seria brochante, ou pelo menos desviaria o pensamento de uma pessoa para temas mais conceituais, mas entre nós, aquela conversa nos deixava ainda mais excitados. A necessidade do abraço era forte, nossos corpos de entrelaçavam, nossas mãos buscavam tocar todos os detalhes escondidos pelo pudor.
Suspiro profundo.
Ao me despedir dele na frente do hotel eu percebi que havia acontecido algo definitivo. O dia seguinte foi uma sequencia de atividades mas meu pensamento não o abandonou. À noite, na van, na estrada, voltando para Campinas eu olhava as estrelas sem conseguir dormir, observando a sensação que se manifestava dentro de mim, no corpo? Na alma? Em meu ser.
Em poucos dias recebi a primeira longa carta. Eu já havia postado a minha. Elas devem ter se encontrado pelo caminho. A partir daí muitas outras histórias aconteceram. Em poucos meses eu estava morando em Belo Horizonte e passamos a viver juntos, cada dia.
Como eu disse, o Amor é eterno, os relacionamentos não.
Hoje me restam memórias que me acalentam e inspiram meu viver, dando um bom sentido a cada novo dia.
Obrigado Deus! Amo, logo existo!