domingo, 6 de fevereiro de 2011

ACRACIA


Acracia significa, em grego, sem governo; é sinônimo de anarquia.

Começo aqui uma série de postagens de minha pesquisa bibliográfica sobre Anarquismo, a história do Anarquismo, Anarquistas que me interessam, onde destacarei alguns textos.

Será um recorte bastante subjetivo, portanto, não me venham com críticas acadêmicas, afinal, pretendo simplesmente exercitar minha liberdade. Mas colaborações, observações e esclarecimentos serão muito bem aceitos.

Para início de conversa, começarei com alguém mais contemporâneo, cujo texto me inspira: HAKIM BEY.

Hakim Bey, o misterioso "Profeta do Caos", é citado por músicos, hackers, poetas, organizadores de raves e os chamados guerrilheiros da comunicação. E recebeu elogios entusiasmados de escritores e poetas como Allen Ginsberg e William Borroughs.

Não há fotos de Hakim Bey. Milhares de histórias a respeito de quem seria ele correm soltas pela internet. A mais frequente diz que Hakim Bey teria sido um poeta em algum lugar no norte da Índia, que por questões políticas teria sido obrigado a fugir para a Inglaterra e depois, por causa do envolvimento em uma ação terrorista, teria fugido para Nova York.

A informação mais segura diz que ele viveu muito tempo no Irã, mas fazendo o quê é um mistério. Quando a Time tentou entrevistá-lo, ele se recusou e passou um tempo desaparecido.

Cogita-se até que Hakim Bey seja Peter Lamborn Wilson (ou vice-versa).

Os conceitos lançados por Bey tornam-se cada vez mais difundidos no universo do ativismo radical de esquerda. Principalmente o conceito de 'Zona Autônoma Temporária - TAZ' (de Temporary Autonomous Zone) que é a ideia de combater o Poder criando espaços (virtuais ou não) de liberdade que surjam e desapareçam o tempo todo. Hakim Bey cruza as referências mais inesperadas; da filosofia sufi aos situacionistas franceses, de Nietzsche aos dadaístas. E vai buscar precedentes para a 'TAZ' entre os piratas dos séculos XVI e XVII, nos quilombos negros da América e nas efêmeras repúblicas libertárias do início do século XX.

Terrorismo Poético, Paganismo, Arte-Sabotagem, Misticismo, Pornografia, Crime. Estes são apenas alguns dos "pretextos" dos quais Bey parte para nos desafiar com sua linguagem delirante, brutal, absurda por vezes. "Dadaismo/Surrealismo linha-dura", como bem observou um crítico. A linguagem do desejo.

Segue abaixo os livros de Hakim Bey (e Peter Lamborn Wilson), publicados no Brasil, aos quais tive acesso.

TAZ - Zona Autônoma Temporária. É um clássico de nosso tempo e para muitos é o texto mais subversivo surgido no final do século XX.

- São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2001. Coleção Baderna.

CAOS - Terrorismo poético e outrao crimes. Não há como passar imune pela prosa/poesia deste livro. E não espere ideias prontas, lugares-comuns e ortodoxia de qualquer espécie. Não se pode pretender um manual de alívio de consciência de alguém que une coisas tão distintas como Artaud, Bakunin, Nietzsche, Situacionismo, Filosofia Sufi e heresias de todas as ordens. E aqueles que consideram Hakim Bey um filósofo político, um mero artífice de cartilhas doutrinárias, fujam deste livro: o autor se levanta contra aquilo que chama de masoquismo revolucionário e de auto-sacrifício idealista, além de atacar/perverter toda tradição da esquerda ocidental. Do Caos e para o Caos, ergue o que ele chama de Associação para a Anarquia Ontológica.

Definitivamente, este não é um livro para espíritos conservadores.

- São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2003. Coleção Baderna.

Utopias Piratas - mouros, hereges e renegados. Na primeira metade o século XVII, em prela costa da Barbária, no Marrocos, norte da África, a república pirata de Rabat-Salé forjou um sistema político e social estranho ao seu tempo. Próxima de portos corsários mais conhecidos, como Túnis, Trípoli e Argel, essa comunidade ensaiou, por cerca de cinquenta anos, uma forma de convivência oportunista, sensual, e bastante funcional.

Uma comunidade que seria descrita em relatos europeus como "domicílio de vilões, antro de ladrões, lar de piratas, ponto de encontro de renegados, matadouro de crueldade bárbara e barbárie selvagem, perdição e vergonha para frotas mercantes e mercadorias, e uma miserável masmorra sombria para cativos cristãos" - ou "democracia por assassinato".

A isso tudo, os estudos de Peter Lamborn Wilson (ou Hakim Bey?) indicam que talvez poderia ser acrescentado, em termos mais atuais, point gay e de maconheiros, além de refúgio para misticos sufis, "irresistíveis" mouras, rebeldes irlandeses, judeus hereges, náufragos, escravos fugitivos e espiões britânicos.

Enquanto os corsários muçulmanos devastavam as frotas européias e faziam milhares de escravos, do século XVI ao XIX, outros milhares de europeus também se convertiam voluntariamente ao Islã, e se juntavam ao surpreendente modo de vida pirata.

Teria sido essa utopia um acidente histórico, ou a própria semente da democracia, precursora do ímpeto insurrecional que, a partir de 1640, emergiu na Inglaterra, e depois na América e na França? Ou o elo perdido entre a república, tal como foi vislumbrada pelos gregos, e a moderna democracia? O que os marinheiros, o proletariado do século XVII, teriam invejado e aprendido com a liberdade dos corsários e renegados?

- São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2001.

Para livros usados, esgotados ou fora de catálogo, acesse:
Estante Virtual

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A cultura tiririca.

"A democracia tem que ser pluralista, sob pena de renegar-se a si própria. No entanto, a palavra "liberdade" não poderá ser usada onde só existe incoerência e impotência. Essa situação, na maioria dos casos, termina na mais humilhante das ditaduras, isto é, daquela que resulta do conformismo, da mediocridade dos produtos culturais, facilmente vendidos às massas, bastante instruídas para se interessarem por eles, mas insuficientemente educadas para poderem exigir uma melhor situação cultural no campo do divertimento e da informação."
in LAZER E CULTURA POPULAR, de Joffre Dumazedier. São Paulo: Editora Perspectiva, 2004. Debates, 82. p 283, 284.
Esta é também uma área de risco, onde os alicerces de nosso futuro podem nos levar a mais uma catástrofe.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Papai Noel não existe e não haverá nada de novo em 2011.

Mais uma vez nossa curtura tende a homogeneizar todos os seres humanos.
Não haverá nada de novo em 2011, nem mesmo o ano. Toda a rotina produtiva e escravagista continuará. Você vai acordar com ressaca no dia primeiro de janeiro extremamente frustrado, pois, se não for ignorante, vai perceber que as horas continuarão passando no mesmo ritmo.
A única coisa que muda são alguns números... e mesmo assim, para uma parcela do mundo:
Para os judeus, o ano novo começou no dia 9 de setembro, no Rosh Hashaná, e o ano continuará sendo 5771 por mais alguns meses. Para os chineses, o ano do Coelho só vai começar em 3 de fevereiro, e será o ano 4709 e para os incompreendidos muçulmanos, no dia 7 de dezembro já teve início o ano de 1432, no primerio dia do Muharram.
Tudo bem, é difícil encarar a realidade, amadurecer, e tomar consciência de que Papai Noel só dá brinquedos e eletrônicos para quem tem cartão de crédito. Os pobres apenas ganham brinquedos por causa da caridade, já que não possuem recursos para conquistar dignidade.
Então, aqui estamos nós, comemorando nossa sociedade cristã ocidental extremamente consumista, acreditando que algo se renova neste dia. Pura balela.
Se você acha que algo em sua vida tem que mudar, é você quem tem realizar a mudança, não o ano.
Se você quer algo novo na sua vida, é você quem tem que renovar, não adianta dizer que o ano é novo e seus dias continuarem os mesmos.
O que eu adoro nesta festa são os fogos de artifício. Adoro vê-los. Considero-os uma linda metáfora para o momento. Então, veja os fogos, mas não faça da sua vida um deles, que dá brilho por apenas alguns segundos e se extingue logo em seguida. Não espere por anos novos para ser feliz e fazer de sua Vida algo melhor para você, para nós, para todos, para este Mundo.
Seja Novo, todos os dias!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Com lágrimas e risos...

Depois de um longo tempo sem postar nada, mas com mil novidades permeando minha vida; hoje eu tenho que parar para escrever mais um pouco sobre este ser que vive em mim.
Comprei e li, entre lágrimas e risos, "Em alguma parte alguma", de Ferreira Gullar.
No metrô devem ter me achado um louco (sem equívoco). Em algumas páginas lágrimas, na seguinte risos.
Há muito tempo que eu não lia poesias... minto, nem tanto tempo assim: "Dias de Colecionar Borboletas", de José Carlos Honório... outro momento de deliciosa fuga.
Enquanto "Dias de Colecionar Borboletas" ecoou neste coração vazio, "Em alguma parte alguma" tocou meu corpo todo; desde a rigidez de meus ossos até a mais tênue sinapse em meu cérebro.
Dois livros para se ter na cabeceira da cama, para se carregar na mochila. Livros necessários quando precisamos gritar para nós mesmos que sim, há vida!
Segue uma migalha para provocar desejos:

OFF PRICE (p 35)

Que a sorte me livre do mercado
e que me deixe
continuar fazendo (sem o saber)
fora de esquema
meu poema
inesperado

e que eu possa
cada vez mais desaprender
de pensar o pensado
e assim poder
reinventar o certo pelo errado

domingo, 28 de março de 2010

Idade da Vergonha

Se a humanidade sobreviver a este período, é bem provável que ele fique conhecido como a Idade da Vergonha. Tomemos como ilustração o filme ganhador do Oscar neste ano de 2010, Guerra ao Terror... será que reconhecer que a guerra existe porque nos a desejamos pode sinalizar alguma possibilidade de mudança futura? Assim como Kant projetou alguma melhora ao ver as convulsões humanas durante a Revolução Francesa? Leso engano, creio eu. Ao vermos a miséria e ignorância impregnadas neste mundo, ao vermos toda a degeneração humana, toda a violência, todo o planeta convulsionando, tudo em nome de um pseudo progresso, de um processo econômico peçonhento... Repito, se a humanidade sobreviver a tudo isto e conseguir olhar este momento com o distanciamento necessário, sentirá a vergonha pela história que aqui se estabelece.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Apresentação do curso de Filosofia na USJT

Eu tentei ignorar, mas agora, como Filósofo, meu ser interior não me deixou em paz. Então, aqui vai a descrição e crítica de uma palestra de apresentação do curso de Filosofia da Universidade São Judas Tadeu.
Era a segunda semana de aula, ainda estávamos todos um pouco perdidos com tantas informações, disciplinas, textos, pessoas e professores. Ao chegar à sala de aula, o aviso: Palestra sobre o curso no Auditório da Reitoria. Depois de uma longa caminhada e entrar em alguns auditórios que não eram o da reitoria, encontrei o lugar. Como estava atrasado fui entrando mas ao ver quem estava no palco parei na porta e voltei. Perguntei ao garoto que estava em um balcão próximo: - É o Kid Vinil que está nesta sala?
Ele riu e disse que não, aquele era o reitor e estava falando sobre o curso de Filosofia para os alunos novos. - Você é aluno de Filosofia?
Depois de um aceno afirmativo voltei a entrar no auditório e demorei um pouco a atender o que estava acontecendo. O reitor falava sobre pensamento positivo, ser feliz apesar das dificuldades pois existem pessoas que são cegas e são felizes, e lorota afora.
Um colega de classe chegou a anotar oito razões pelas quais ele poderia sair da sala, mas manteve-se até o final pois determinou a si mesmo o limite de dez razões. O ápice do meu espanto foi quando ele citou o fundador do McDonald's como modelo para nós, contou toda a história de vitória e sucesso daquele vendedor de máquinas de sorvete. A partir deste momento passei a ver os estudantes da São Judas passeando pelo pátio de alimentação como vários BigMac's, Quarteirões com Queijo, Crispy Chicken's, tortas de maça, sundaes de chocolate etc.
Mas o pior ainda estava por vir.
Para ilustrar sua "mensagem" ele passou uma apresentação em powerpoint, daquelas que nós recebemos milhares todos os dias, de amigos e inimigos, de variações sobre o mesmo tema, com cachorrinhos, paisagens bucólicas, musiquinha zen no fundo e nos dizendo que o mundo é lindo se conseguirmos ignorar a realidade.
Putz. Eu apago este tipo de merda do meu e-mail todos os dias e o reitor me obriga a engolir uma.
E a apoteose final: mais uma animação em powerpoint com a propaganda daquele livro conhecido por todos: "O Segredo". Definitivamente, não era o Kid Vinil. O Kid Vinil não falaria tanta inutilidade. Suspiro.
Ao invés de nos falar sobre a importância da Filosofia para o mundo contemporâneo. A necessidade de crítica, de não sucumbirmos ao consumismo desenfreado, de refletirmos e provocarmos reflexão em todos os meios possíveis, de nos propor a lutar pelo fim da miséria e mediocridade humana...
Já tivemos a geração Coca-cola (eu me considero parte dela). Pelo menos havia alguma ideologia e protesto envolvido com esta marca. A União Soviética não permitia a entrada da Coca-cola, só podia ser Pepsi. Eu só tomava guaraná. rsrs.
Hoje nós temos a geração BigMac. O mesmo sabor em qualquer lugar do mundo. E todas as populações almejam ter em seu território pelo menos um McDonald's, ou estou enganado? E não foi o local com maior movimento no último Forum Social?
Na realidade o reitor esta certo. Trabalhe, produza, compre, jogue fora, compre novamente, produza mais, compre mais, recicle, compre novamente reciclado; siga o ritmo da vida, acorde cedo, vá trabalhar, sacrifique sua família para ser pró-ativo e ter sucesso, deixe a vida te levar! Afinal, este é o sentido da vida em um mundo McDonald's.
Estava esquecendo: tome sua dose diária de felicidade mágica! Mas saiba que a felicidade mágica é tão útil para a solução dos problemas da humanidade quanto a morfina é útil para a cura do câncer.

PS: Se queremos falar sobre felicidade, recomendo a leitura de Ética a Nicômaco de Aristóteles. Indico a tradução do grego pelo Professor Antonio de Castro Caeiro, publicada recentemente pela Editora Atlas. Aqui sim pode-se encontrar uma Felicidade que seja necessária a nosso mundo e a nós mesmos.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Iorgute ou iogurte? Eis uma questão...

Ufa! Após meses de vácuo eis que ressurjo entre cinzas como Angelus Novus do Paul Klle, a mesma imagem que Walter Benjamin usa em seu texto "Sobre o Conceito de História":

"Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso."

Tenho frequentado o curso de Filosofia na Universidade São Judas Tadeu e me sinto embriagado em idéias e palavras e luto para não perder completamente a lucidez.

Mas o mundo grita!

Em frente à minha casa vi um quadro anunciando os comes e bebes de um destes novos barzinhos da baixa Augusta. Me intrigou a grafia: "Yorgute batido".

Estranhamento. Riso.

Com a memória não plenamente esvanecida, eis que, na lanchonete da Universidade São Judas Tadeu ouço uma estudante (colega?) pedindo no balcão: - Iorgute com morango.

Pausa. Silêncio. Pensamento.

As pessoas são profundamente influenciadas e perdem a noção das coisas: o novo ioRgute é uma contaminação da palavra Orkut?

Até entendo as transformações da linguagem, mas, de iogurte para iorgute ou yorgute?

SOCORRO!!!

Vejo neste pequeno detalhe o sintoma da doença de nossa época... absorvemos, engolimos e defecamos. Processo contínuo e voraz.

O momento é agora! Temos que parar! Temos que nos opor a esta temporalidade da produção e do consumo capitalistas! Não somos marcas ou grifes, não somos mercadorias ou mercado!

O momento é agora, de buscarmos alguma identidade, antes que nada reste do que somos ou fomos um dia. Não quero 15 minutos de fama, mas preciso imensamente de 15 minutos de Vida!

Se alguém realmente quer salvar o mundo ou a humanidade, por favor, grite comigo: ABAIXO A ALIENAÇÃO!! E não me desculpem, mas dentre os alienados, os jovens fazem coro.