domingo, 15 de abril de 2012

Nós literários

ENCONTRO VITAL

Ontem, 14 de abril do ano 2012 da era cristão, tive o prazer de participar de uma ceia sagrada, um encontro de seres afins que compartilharam não apenas comida, mas suas próprias Vidas. Éramos nove pessoas: três crianças, três professor@s, tínhamos um líder, uma artista, e duas pessoas em um processo de busca. Bem, apenas apresentei as personagens presentes neste encontro. Mas vou desenvolver minha reflexão.

Três professor@s, começarei por nós, pois sou um deles: uma Professora de Geografia, um Professor de Português e um Professor de História, eu. Nosso líder, que estava com o olhar à nossa frente, quem promoveu o encontro, quem tinha um objetivo para o encontro, quem tinha um plano para a transcendência deste encontro. A artista, que não precisa de descrição, pois o próprio nome já a define. Três crianças lindas, os anjos do encontro: a Amelie, o Santiago e o Antônio, alegrando e tornando nosso encontro mais belo e agitado. E as duas pessoas em um processo de busca mais pontual, embora todos nós nos encontrássemos ali para desenvolver este processo.

Hoje estou preenchendo meus diários das minhas classes do Ensino Fundamental, e percebo os efeitos transcendentes de nosso encontro. Ganhei de presente da artista o conhecimento do Ho’oponopono, um processo de meditação e cura havaiano, e comecei meu dia estudando um pouco deste processo. A partir dele, minha visão do trabalho de preencher diários escolares mudou completamente. Não é mais uma atividade burocrática, mas espiritual. A cada marca nos diários acompanha um pensamento naquele ser vivo que está sob minha responsabilidade. Nunca antes havia percebido a profundidade deste momento. Aqui em minha gruta, ouvindo músicas clássicas da Rádio Cultura FM, vendo minhas anotações, relembrando minhas aulas e momentos em sala da aula, rememorando a vida e as relações com cada um destes alunos. O preenchimento dos diários se tornou um momento de reflexão, contemplação, meditação e oração. Mais do que um transferidor de conteúdos, sou alguém que “vela” por estes seres que compartilham do mesmo mundo que eu. Aloha, palavra havaina, significa “estar na presença” (Alo) do divino (Ha).

Este é um dos reflexos do encontro, mas um encontro entre seres vivos é sempre muito mais. Compartilhados alimentos deliciosos, uma mesa com abundância, sabores, delícias. Mas além do alimento físico, a troca de experiências, de planos, de histórias de nossas Vidas, de interrupções para a realidade lúdica que também estava ali em nosso convívio e exigia nossa atenção e cuidado.

Nosso líder tinha um plano, com seu olhar adiante: a constituição de um grupo de escritores para descrever experiências literárias. O grupo (blog) deverá se chamar nosliterarios, referindo-se a nós, pessoas ali presentes, referindo-se a nós, aquele nó que usamos para unir linhas, cordões, ideias, experiências, vidas. Não são linhas, cordões, ideias, experiências e vidas que simplesmente se cruzam, são linhas, cordões, ideias, experiências e vidas que se cruzam e cuja união não se desfaz. O encontro fica marcado de forma definitiva, unida, amarrada. As linhas, cordões, ideias, experiências e vidas seguem sua trajetória, mas o nó foi atado, não se desfaz.

Amém (assim seja, assim está feito)!

sábado, 10 de março de 2012

Elucubrações bêbadas!!!


Não me pergunte o que eu tenho a lhe dizer
Ouça Louça Louc@
o que você diz a si mesm@!
- Ninguém possui a resposta que te pertence.
Ao final, é ela que te pertence
pelo menos, ou, ao menos,
talvez seja tudo o que te/nos reste.
Papéis avulsos, paridos, párias
na mesa de qualquer
um
bar
qualquer.
só possível pela presença + pré-sensa + de todos em mim.
Pois, ao final, eu não quero falar sobre ou para obter, o que seja, sexo,
pois o desejo: realidade, mesmo, é fantasia
e meu grito é silêncio!
com ponto de ex-clama-ação
ou inter+roga+(qualquer)ação
e enfim, apenas um ponto. final
além dos nós em mim.

O artista não precisa,
e quando pode, vira mercadoria.

sábado, 26 de novembro de 2011

A verdadeira logo dos partidos:




Kassab, Alkmin e Anastasia... ou, como prefiro chamá-los: Kussab, Aikmin e Anestesia - autoritários e mentirosos - estão destruindo o sistema de ensino em São Paulo e Minas Gerais.
E o falecido Partido Comunista, utilizando a mesma tática de Hitler para ganhar eleições e "depois" aplicar o comunismo... lorota feita. Querem o Netinho como prefeito de São Paulo!!! SOCORRO!!!
São todos partidos neo-liberais peçonhentos, corruptos e que enganam a população para estabelecerem seus privilégios.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entre amigos - um epílogo.

Entre amigos - um epílogo.
In: Humano, demasiado humano. p. 309.

1.
É belo guardar silêncio juntos
Ainda mais belo sorrir juntos -
Sob a tenda do céu de seda
Encostado ao musgo da faia
Dar boas risadas com os amigos
Os dentes brancos mostrando.

Se fiz bem, vamos manter silêncio
Se fiz mal - vamos rir então
E fazer sempre pior
Fazendo pior, rindo mais alto
Até descermos à cova.

Amigos! Assim deve ser? -
Amém! E até mais ver!

2.
Sem desculpas! Sem perdão!
Vocês contentes, de coração livre,
Queiram dar, a este livro irrazoável,
Ouvido, coração e abrigo!
Creiam, amigos, a minha desrazão
Não foi para mim uma maldição!

O que eu acho, o que eu busco -
Já se encontrou em algum livro?
Queiram honrar em mim os tolos!
E aprender, com este livro insano,
Como a razão chegou - "à razão"!

Então, amigos, assim deve ser?
Amém! e até mais ver!

domingo, 17 de julho de 2011

Tolstoi: Anarquista? Cristão!

Não pensem que abandonei meus estudos sobre Anarquia, muito pelo contrário, minhas ideias estão mais acraciadas do que nunca.

Quando falo sobre Clarice Lispector, não estou distante da anarquia. Clarice foi uma escritora que não se vinculou a qualquer tradição literária, embora muitos estudiosos tentem enquadrá-la através de suas críticas e análises. Eu prefiro sintetizar suas obras, acrescentar a elas minhas leituras e interpretações. Ao começar a tentar escrever um ensaio sobre ela encontrei mais de 430 trabalhos acadêmicos já “defendidos” no site da CAPES. Clarice foi analisada por estudiosos das mais diversas áreas, em seus aspectos não apenas literários, mas também filosóficos e místicos, ou qualquer outra faceta que se queira observar. Vale lembrar que o conto “O ovo e a galinha” foi apresentado pela própria autora no primeiro Congresso Mundial de Bruxaria. É preciso dizer algo mais?

Mas o assunto desta postagem é outro grande escritor: Leon Tolstoi.
Tolstoi é mundialmente famoso por seus romances: Guerra e Paz publicado em 1868 e Anna Karienina publicado em 1875. Mas vamos falar aqui do segundo período da vida deste escritor; após uma violenta crise espiritual pela qual passou ao completar 50 anos (1878) e que é apresentada no livro Minha Confissão de 1882. Poucas pessoas sabem sobre seus debates com filósofos e teólogos da época, e que é no meio do povo pobre que ele dá-se conta do que é na verdade a fé para essa gente; que a fé não é um assunto de conversas inconsequentes, mas uma questão vital, e é isso que provoca sua “conversão”.

O Reino de Deus está em Vós é considerada a obra máxima de Tolstoi deste período e lhe tomou três anos para completá-la (1890-1893), justamente no momento em que ele chegava ao cume de sua maturidade intelectual – 65 anos de idade. A dificuldade na execução desta obra não está apenas no tema abordado, mas também no fato de ter que andar por toda a parte organizando refeitórios populares para ajudar os pobres a vencer a terrível crise de 1891, o que mostra seu verdadeiro comprometimento com suas ideias.

Apesar de atualmente esta obra ser praticamente ignorada, logo após sua publicação ela foi traduzida nas principais línguas europeias e um de seus leitores mais notórios foi Gandhi, que leu o trabalho em inglês em 1894. Gandhi se encontrava então em uma crise de ceticismo e dúvida e, como ele mesmo conta; “a leitura do livro me curou do ceticismo e fez de mim um firme seguidor da ahimsa”.
A-himsa é o pensamento puro da Índia, inspirado pelo amor universal. Himsa significa querer matar, querer prejudicar. A-himsa é a renúncia de toda intenção de morte ou dano ocasionado pela violência. Gandhi leva este livro consigo para a prisão em 1908 e declara que Tolstoi era o “maior apóstolo da não-violência” e o homem “mais autêntico de seu tempo”.
Depois das primeiras reações contraditórias – aplausos de um lado e vetado pelo regime czarista, além de seu autor ter sido excomungado pela igreja ortodoxa, pois Tolstoi recusa radicalmente as ideias de Estado e de Igreja, considerando estas duas instituições como essencialmente opressoras do povo – a opinião pública internacional relegou esta obra ao esquecimento. Entre nós, mais que de esquecimento, devemos falar mesmo de falta de conhecimento, pois conhecemos apenas o Tolstoi romancista, contista ou novelista.

O que Tolstoi sustenta em todo o livro é a validade social do preceito de Cristo no Sermão da Montanha: “Não resistais ao mal” (Mateus 5:39). O sentido que Tolstoi defende é: não resistais ao mal com o mal, ou seja, não responder à violência com a violência, ele não aceita a máxima jurídica comumente aceita: vim vi repellere (repelir violência com violência). A violência jamais pode ser legitimada apelando para o direito de “legitima defesa”, porque a violência é sempre um mal, e não se pode responder ao mal com o mal, e isso vale tanto para o cristão como para um cidadão qualquer.

Mas também não se trata de o indivíduo permanecer passivo frente ao mal ou à violência, mas de responder a ela pela não-violência: a bondade, a mansidão e a caridade. Os preceitos do Sermão da Montanha, no caso a não-violência, são realmente imperativos. Não se trata de leis morais ou regras jurídicas fixas que devam ser aplicadas mecanicamente. São indicações de um ideal, apelos éticos, “via de perfeição infinita”. São exigências morais absolutas, que têm a força de pôr em movimento a relatividade do agir humano concreto. Têm um caráter assintótico: aproximam da perfeição divina, sem nunca chegar a atingi-la, mas movem a vontade naquela direção. Manifestam a essência da alma humana, e por isso vale para cada um e para toda sociedade. Tolstoi usa uma bela comparação com um barqueiro, que, para chegar à outra margem de um rio rápido, não pode se dirigir em linha reta, mas deve remar contra a corrente.

A não-violência tolstoiana se exprime na não-cooperação, na desobediência civil e particularmente no repúdio ativo a toda a servilidade. Tolstoi sabe que o poder se alimenta da aceitação e do consenso; pior: da obediência cega e da submissão. A ética de Tolstoi é radicalmente libertária; a liberdade é um atributo inalienável e definitório do ser humano. Para isso apresenta no frontispício do livro, uma citação de Paulo na I carta aos Coríntios 7:23: “Não vos torneis servos dos homens”. Também não acredita nos efeitos libertadores de uma revolução violenta, mesmo de tipo popular. Considera politicamente inviável devido à complexidade e a potência do Estado moderno; e ineficaz, pois instaura uma opressão mais cruel que a anterior, como se verificou no regime de Goulag.

Pode-se afirmar um amadurecimento da consciência moral da humanidade, porque a violência se mostra cada vez mais ineficaz para resolver os conflitos sociais, tanto no interior das nações como nas relações internacionais. Retomando uma distinção de Kant, é possível constatar certo progresso em termos de legalidade (no nível dos princípios), embora não necessariamente em termos da moralidade (no nível das práticas). Frente à complexidade dos Estados e das sociedades modernas, a violência não funciona mais.

A defesa intransigente da não-violência vai junto com a deslegitimização do Estado, que para Tolstoi é a violência encarnada; não só um Estado autocrático, mas todo Estado, inclusive o democrático, onde a violência apenas deixaria de ser concentrada para ser mais difusa.
Para Tolstoi o exército existe para subjugar o povo em benefício de uma minoria, é o sustentáculo da tirania, sua função é matar. Sendo a vida um valor absoluto, não existem mortes legítimas, por isso, mandando matar, o exército transforma o soldado em um carrasco. Assim, o serviço militar deve ser condenado sem remissão pois trata-se nada menos do que uma preparação ou exercício para o assassinato, é uma forma especiosa de autotirania. Tolstoi chega a prever profeticamente o horror de um conflito mundial, que efetivamente irrompeu com a Primeira Grande Guerra.

A igreja é outro sustentáculo da violência paraTolstoi, não apenas esta ou aquela igreja concreta, mas a ideia mesma de igreja. As igrejas seriam fundamentalmente anticristãs, e se nelas se encontram pessoas boas, isso se deveria à própria virtude dessas pessoas e não à sua pertença à igreja. Todo o rico sistema simbólico da igreja é atacado como meio para “hipnotizar”, impressionar e adormecer a consciência do povo. As igrejas têm que escolher entre o Evangelho e o Dogma. Está convencido de que chegou a hora de entender e assimilar o cristianismo em sua forma pura, porque até hoje os cristãos não teriam compreendido sua verdadeira essência.

Tolstoi seria, por tudo isso, um anarquista? Ele confessa: “Não sou anarquista, sou cristão.” Acrescenta que os adeptos da não-violência são muito mais perigosos para o Estado do que quaisquer pretensos revolucionários, sejam socialistas, comunistas ou anarquistas. Pois o Estado sabe muito bem tratar com estes, que jogam pelas mesmas regras, mas já não sabe como se haver com os adeptos da não-violência, que se situam num campo onde o Estado já está de antemão derrotado.

Infelizmente, até mesmo as ideias de Tolstoi foram transformadas em dogmas e utilizadas de forma humana para exercício de controle e poder por seus seguidores; nada de novo na história do homem sobre a Terra. Para os que não gostam de ler, existe um excelente filme: A Última Estação, que traça os últimos momentos da vida deste grande escritor e filósofo, ilustrando não apenas suas ideias, mas também os conflitos e sofrimentos gerados por seus seguidores.

Pode-se então perguntar se esta visão é realista, se não é meramente utópica. Existem conflitos na sociedade e é preciso manter certa ordem social. Tolstoi acha que para isso não se precisa de um Estado, mas de uma sociedade civil madura, acredita na força da consciência moral, que chama de “opinião pública”. Mesmo assim, pode-se perguntar se e possível algum dia na sociedade prescindir de um órgão central de coordenação e direção, especialmente para as nossas sociedades complexas. Todavia, da provocação de Tolstoi podemos extrair seu núcleo positivo: Não se trata de o Estado se ocupar cada vez mais da “administração das coisas” e cada vez menos do “governo dos homens”? A função “política” do Estado não deve se reduzir aos limites mínimos possíveis? Nessa linha não seria perfeitamente pensável e desejável a superação gradual do sistema repressivo-defensivo?

Enfim, segue firme meus nossos sonhos e anseios por um mundo de paz, com menos miséria e injustiça.


(PS.: este texto é um resumo da apresentação feita pelo Fr. Clodovis Boff na segunda edição de O Reino de Deus está em Vós editado pela Rosa dos Tempos em 1994.)

Para comprar: O Reino de Deus está em Vós. (edição de bolso). Best Bolso, 2011.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Encontros e devaneios

O melhor no mundo da pesquisa é quando encontramos aquilo que não estamos procurando.

É assim que, pesquisando sobre “anarquia”, me defrontei com um anarquista cristão, Tolstói, que influenciou Gandi, e cujas ideias, ao serem usadas como dogma, deixaram de ser anárquicas para serem conservadoras, ou outra coisa qualquer – vide o filme A última estação, que nos brinda com os últimos dias na vida deste grande escritor e filósofo e também com os conflitos gerados pelas pessoas que usaram suas ideias transformadas em dogma. É por essas e outras histórias que afirmo que a anarquia está apenas no mundo das ideias, ela não existe no mundo dos homens. A única forma essencialmente anárquica que existe é o pensamento.
Mas não abandono minha intenção de criar zonas autônomas temporárias em minha vida, sempre que a vida me permite.
Foi assim que, estudando filosofia, passei a ler Clarice Lispector com outro olhar, ou melhor, outro entendimento. É incrível os elos que conseguimos estabelecer entre obras de Clarice e ideias filosóficas. É difícil afirmar se estas ideias derivaram da leitura de textos filosóficos ou se são fruto do próprio exercício da escrita de Clarice, obviamente, sem ignorar toda a sua formação, influências e vida.
Em um passo seguinte começei a pesquisar mais a obra desta escritora, textos que analisam sua obra e vida e me defrontei com mais uma descoberta inesperada: Clarice, - uma biografia de Clarice Lispector, escrita por Benjamin Moser. A grande descoberta não está na narrativa de uma vida, da vida de uma escritora, da vida de Clarice Lispector; a grande descoberta está no excelente livro de História que Benjamin Moser produziu, tendo como eixo, a vida de Clarice Lispector. Esta é uma leitura altamente recomendável, a quem gosta de Clarice, a quem nunca leu suas obras, a qualquer pessoa que goste de uma leitura agradável e consistente.
Obrigado Benjamin Moser!


(Veja também o livro Clarice, em uma edição de bolso, mais barata. Porém, para os amantes, recomendo a edição em capa dura, com link no texto acima.)

sábado, 9 de julho de 2011

Clarice Filósofa

Em setembro devo apresentar uma comunicação oral sobre Clarice Lispector no VII Colóquio 'As Margens da Filosofia', em uma mesa conduzida pela Profª Marília Mello Pisani sobre mulheres na filosofia. O Colóquio é promovido pela Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo. Ainda aguardo a aceitação de meu trabalho, mas segue aqui um resumo para quem se interessar.

Seguindo a afirmação de Friedrich Nietzsche que nos diz que o filósofo está mais próximo do poeta, mas pretende ser um cientista, queremos aproximar um texto da escritora Clarice Lispector a um texto do filósofo Jean-Jacques Rousseau. O texto de Clarice A menor mulher do mundo apresenta inúmeras referências subjetivas ao Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens de Jean-Jacques Rousseau. Podemos começar com a personagem do explorador francês Marcel Prete que assume um papel cético, sem dogmatismo ou opinião; "sentindo necessidade imediata de ordem, e de dar nome ao que existe"; "pelo menos ocupou-se em tomar notas". Temos a descrição literária da tribo de pigmeus existente "nas profundezas da África Equatorial", "que, não fosse o sonso perigo da África, seria povo alastrado", "mesmo a linguagem que a criança aprende é breve e simples, apenas essencial" e "como avanço espiritual, têm um tambor", para os quais "não ser devorado é o objetivo secreto de toda uma vida" - muito próxima da descrição do homem selvagem do filósofo. Mais rico ainda é analisarmos os devaneios de senso comum, quando pessoas civilizadas tem contato com a descoberta da menor mulher do mundo através do "suplemento colorido dos jornais de domingo, onde coube em tamanho natural", como por exemplo; a mãe que "enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro", "olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho" e "sabia que este seria um domingo em que teria de disfarçar de si mesma a ansiedade, o sonho, e milênios perdidos". Não podemos deixar de citar a análise sobre "um velho equívoco sobre a palavra amor", "que exige que seja de mim, de mim!, que se goste, e não de meu dinheiro. Mas na umidade da floresta não há desses refinamentos cruéis, e amor é não ser comido, amor é achar bonito uma bota, amor é gostar da cor rara de um homem que não é negro, amor é rir de amor a um anel que brilha". E no final do texto a escritora nos dá aquela resposta sempre aceita, arduamente questionada: "Deus sabe o que faz.".
O texto da escritora é curto, muito menor em número de palavras que o discurso do filósofo, e provocamos: será ele menos claro e distinto, menos significativo, menos verdadeiro? Onde não existe ciência, não existe verdade? Sem seguir qualquer norma ABNT, será ele menos valioso para o conhecimento do homem? Ser ou não ser não é a única questão.
(E eu, com minha subjetividade, penso que a superação da bestialidade no ser humano depende mais da arte que da ciência. Albert Einstein concordaria comigo.)