quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Custo da responsabilidade de nossos vereadores em 2012.

   Finalmente, fechei o levantamento de quanto tivemos que pagar pela responsabilidade de nossos vereadores no ano de 2012.
   Em 2011, eles gastaram R$ 7.539.136,26. Em 2012, ano de reeleição, o gasto foi de R$ 7.828.882,40. O campeão é Paulo Frange (PTB), que sozinho conseguiu gastar R$ 206.77,11. Como disse o excelentíssimo senhor José Américo, é muita responsabilidade.
   Apenas com combustível, foi gasto R$ 347.713,32. O vencedor neste item foi, pelo segundo ano seguido (em 2011 ele também foi o campeão neste quesito) Toninho Paiva (PR), que gastou R$ 14.706,18.
   Outro item que revolta qualquer contribuinte é o dinheiro gasto com “locação de veículos’. E 2012 foi gasto R$ 31.216,24 com cada vereador, é praticamente doar um carro popular para cada vereador por ano! Apenas 6 dos 55 vereadores não fizeram uso deste “privilégio”.
   Com cópias fotográficas (xerox) nossos vereadores gastaram R$ 69.425,64. A medalha ficou com o Alfredinho (PT) que, sozinho, gastou 27.488,90 e, lamento informar, ele foi reeleito, prometendo gastar muito mais no próximo mandato.
   Com material de escritório, as excelências gastaram R$ 426.594,05, e o Toninho Paiva (PT) aparece novamente como o que mais gasta: R$ 36.110,15. Divida este valor por 12. Muitas escolas que atendem mais de 1000 alunos, não gastam tanto com material de escritório.
   Com “locação de móveis”, para aqueles que não gostam dos móveis oferecidos pela Câmara, foi gasto R$ 299.184,36. Neste item Eliseu Gabriel (PSB) gastou R$ 44.640,00. Quantos escritórios não podem ser montados com este valor? Neste item, 19 vereadores não gastaram nosso dinheiro para seu próprio luxo e conforto.
   Com assinaturas de jornais e revistas foram gastos R$ 28.006,94 por 27 vereadores. Aqui temos uma campeã, Juliana Cardoso (PT), que conseguiu investir R$ 3.316,47 neste item (dizem as más línguas que com revistas de moda e decoração, pois ela é uma vereadora chique), e promete gastar muito mais no próximo mandato, uma vez que ela foi reeleita.
   Depois temos o investimento na construção de páginas pessoais na Internet, hospedagem de sites e certificados digitais: R$ 272.983,06. O campeão é Carlos Neder (PT), com um gasto individual de R$ 43.507,70. É importante salientar que estes gastos referem-se apenas ao ano de 2012. Multipliquem estes valores por 4. E é importante salientar que alguns vereadores "restringem" o acesso a suas páginas para cidadãos que "criticam" sua atuação... Se nós estamos pagando pela página, estes digníssimos senhores poderiam, pelo menos, ter o mínimo de caráter e não serem tão mesquinhos, já que somos tão generosos.
   Um item enigmático: gasto com contratação de Pessoa Jurídica. Os vereadores podem contratar assessorias jurídicas e outros serviços. Nossos vereadores gastaram quase um milhão de reais neste item: R$ 906.485,12, sendo que Atílio Francisco (PRB) gastou R$ 92.261,70, seguido de Noemi Nonato (PSB) com um gasto de R$ 88.812,64. Novamente, dividindo por 12, podemos chorar com tanta generosidade.
   Com contas de telefone, nossas excelências gastaram R$ 309.085,10, sendo R$ 94.754,03 com telefonia fixa e R$ 214.331,07 com telefonia móvel. O campeão é o querido Agnaldo Timóteo (PR), que conseguiu gastar R$ 11.892,72 com celulares e na telefonia fixa Ushitaro Kamia (DEM) conseguiu gastar R$ 10.128,39. Obviamente eles podem falar à vontade pois quem paga estas contas somos nós.
   Restam mais 3 itens. Correio (pasmem) R$ 1.449.251,90 tendo Edir Sales (PSD) como campeão nesta categoria. R$ 114.852,18. Mais um vereador reeleito para garantir a manutenção destes gastos absurdos.
   Com eventos e seminários, 13 vereadores conseguiram gastar R$ 89.383,10. Só Floriano Pesaro (PSDB) gastou R$ 32.107,20.
   E o item mais impressionante de todos: gasto com Gráficas. R$ 1.631.444,22. E dizem que as campanhas políticas não são patrocinadas com dinheiro público? E todo este dinheiro gasto em gráficas foi utilizado na impressão de livros didáticos e folhetos informativos sobre saúde, trânsito, segurança... E todos nós receberemos um exemplar do livro “Manual do Otário”. O Zelão (PT) gastou R$ 86.582,39, seguido de Claudio Prado (PDT) com um gasto de R$ 82.887,24.
   Todas estas informações estão disponíveis na página da Câmara dos Vereadores de São Paulo, obviamente que não estão organizadas para não denegrir a imagem de nossos representantes. A última atualização do site foi feita no dia 6 de fevereiro de 2012, e a cada atualização, estes valores aumentam! Aparentemente não existe um prazo limite para nossas excelências apresentarem suas notas e obterem ressarcimento destes valores. E é bom lembrar que nas escolas falta papel, nos hospitais faltam equipamentos e nossos policiais não tem colete à prova de balas. Para nossos vereadores, tudo, para a população, a realidade.
   Outra observação que gostaria de fazer: o limite de gastos de cada vereador em 2012 era mais que o dobro de seu salário, e mesmo com o aumento de 63%, este limite de gasto é superior ao salário do vereador. Salário = R$ 15.000, verba de gabinete acima de R$ 18.000. Imaginem se um professor tivesse o privilégio de ter uma "verba" superior a seu salário para investir em sua própria formação? Imaginem se um médico tivesse o privilégio de ter uma "verba" superior a seu salário para investir em sua própria profissão? Isto é utopia somente para os plebeus, para a nobreza isto é chamado de "responsabilidade".
   A quem se interessar, mantenho uma planilha onde atualizo estas informações e terei imenso prazer em disponibilizá-la. Um leitor chegou a comentar que o "vereador dele" não havia sido citado em meu texto... ofereci-lhe a planilha, mas ele não me respondeu. Para não ser injusto vou disponibilizar aqui e em meu site uma imagem da planilha onde estão especificados TODOS os gastos de TODOS os vereadores.
Fica aqui registrada a minha indignação!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Indiferença



Travesti assassinada em Simões Filho, Bahia, em 4/8/2010.


     Em 1934, na Alemanha nazista, Martin Niemöller era um pastor luterano e acreditava ainda que poderia discutir com os novos donos do poder. Numa recepção na Chancelaria em Berlim, ele contestou Hitler, que queria eximir a Igreja de toda responsabilidade pelas questões "terrenas" do povo alemão:
   "Ele me estendeu a mão e eu aproveitei a oportunidade. Segurei a sua mão fortemente e disse: 'Sr. Chanceler, o senhor disse que devemos deixar em suas mãos o povo alemão, mas a responsabilidade pelo nosso povo foi posta na nossa consciência por alguém inteiramente diferente'. Então, ele puxou a sua mão, dirigindo-se ao próximo e não disse mais nenhuma palavra."
     Logo depois deste encontro Martin Niemöller foi preso. Hitler enviou o pastor como seu "prisioneiro pessoal" para um campo de concentração. Até o fim da guerra, durante mais de sete anos, permaneceu preso – inicialmente, no campo de concentração de Sachsenhaysen, depois no de Dachau. Niemöller é o autor de uma célebre citação: “E Não Sobrou Ninguém” tratando sobre o significado do Nazismo na Alemanha:
   "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse."
     Existe um poema chamado “Indiferença” que é atribuído a Bertold Brecht, mas na verdade é uma das muitas versões desta citação de Martin Niemöller:

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afetou
Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.


     No Brasil também tivemos uma variação deste poema, escrita por Eduardo Alves da Costa. Este poema se chama “No caminho com Maiakóvisky”, o que também gerou bastante confusão em relação à sua origem: 

“Na primeira noite eles se aproximam
E roubam uma flor
Do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem
Pisam as flores
Matam nosso cão
E não dizemos nada.
Até que um dia,
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a luz, e,
Conhecendo nosso medo,
Aranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.


     Estou postando estes textos para lembrar a importância de questionarmos um comentário infeliz como o de Danilo Gentilli. Concordo com o fato de que todas as formas de violência devem ser combatidas, mas enquanto ignorarmos que existe grupos de pessoas que sofrem mais violência do que outras, enquanto não identificarmos estes grupos e a origem destas diferentes formas de violência, e não dermos destaque ao que está acontecendo, estaremos apenas repetindo a mesma história que ocorreu na Alemanha com o pastor luterano Martin Niemöller, e quando a violência invadir nossa casa, talvez já não possamos dizer nada.


Igor Xavier, bailarino e coreógrafo, assassinado em 1/3/2002.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Um linfoma chamado Hodgkin - V

Os chamados “ciclos de quimioterapia” seguiram-se, sem percalços. Houve uma ameaça de interrupção do tratamento por falta de medicamento na farmácia do HSPM, mas felizmente sua reposição chegou a tempo sem provocar interrupções no meu tratamento. O mesmo não pode ser dito no caso de outros pacientes, infelizmente.
Apesar de nunca faltar nada nos gabinetes de nossos ilustres vereadores; que também deveriam ser responsáveis pelo bom funcionamento dos serviços públicos; as escolas, postos de saúde e hospitais de São Paulo só não estão mais abandonados porque a população sempre “põe a boca no trombone” e a mídia adora uma notícia destas para ter IBOPE. É mais uma vergonha para nosso país, tão rico e miserável ao mesmo tempo.
Fisicamente, o corpo se desgasta com o passar das sessões. O estômago fica mais sensível, as veias também sofrem com os medicamentos que são injetados (como é dito no jargão hospitalar, as veias “fritam”). É por esta razão que o cuidado com a alimentação e com o descanso é muito importante. Uma única vez que não resisti à tentação de comer uma coxinha, eu passei a vergonha de dar uma mordida nela e sair correndo para vomitar no banheiro, e nem deu tempo de chegar até lá. Acabei trocando o meu vício em cerveja e bebidas alcoólicas por vício em água e sucos (sorriso). É incrível como, mesmo com uma pausa no tratamento, o meu desejo por estas bebidas ficou menor, e a necessidade por água e sucos ficou mais intensa. Para o problema das veias, uma boa compressa com chá de camomila proporciona uma melhora significativa.
Inicialmente fui encaminhado para 8 ciclos de quimioterapia e terminados estes ciclos, realizei novos exames de tomografia e cintilografia. Apesar de os exames não apresentarem mais nenhum linfonodo, o médico me encaminhou para mais 4 ciclos de quimioterapia afim de aumentar o possibilidade de não reincidência do linfoma. No caso de reincidência do linfoma, o tratamento é mais agressivo, o que torna este cuidado, neste momento, muito mais adequado e com menor sofrimento, já que estou reagindo bem aos medicamentos e o tratamento não tem causado tantos danos colaterais. O “presente” de mais 4 ciclos de quimioterapia não é muito animador, mas é necessário, portanto, mais uma vez, é preciso transformar nossa vida não em uma sucessão de problemas, mas em uma sucessão de vitórias! Como diz o poeta: “Nunca me esquecerei desse acontecimento / na vida de minhas retinas tão fatigadas. / Nunca me esquecerei que no meio do caminho / tinha uma pedra.”
Já foram cinco meses de tratamento, agora são mais dois meses de quimioterapia e depois vou passar por sessões de radioterapia, e após tudo isto, alguns anos de exames e acompanhamento para averiguar se não ocorre a reincidência do linfoma. Mas posso dizer, com toda a certeza, que todos os resultados são extremamente positivos.

Um linfoma chamado Hodgkin - IV

Após a terceira sessão de quimioterapia tudo continuou muito bem, nenhum dos efeitos colaterais desagradáveis apareceram. Passei pela médica que me acompanha e meu exame de sangue estava sem alterações, todos os níveis de glóbulos brancos e coloridos excelentes. A Éden (minha querida e admirada médica) fez um exame de toque nos linfonodos do pescoço e... já sumiram!!!
A tomografia que realizei uma semana antes do inicio do tratamento de quimioterapia mostrou linfonodos no tórax e no abdomem também, o que indica que estava no estágio 3 do Linfoma, e não no estágio 2, como estavam prevendo antes do exame. O único problema é que engordei 1,5kg, o que não é normal para alguém em processo de quimioterapia (sorriso).
Para os ciclos de quimioterapia é preciso de um acompanhante na saída das aplicações. Eu chego no hospital às 7h da manhã, e saio entre 11h30 e 12h30. Assim, é preciso sempre ter alguém no HSPM por volta de 11h. Aí, é só me acompanhar até minha casa onde já estou com todo o esquema preparado para me virar sozinho. Então, faço aqui meu agradecimento a estes amigos maravilhosos que dispuseram de seu tempo para me ajudar neste momento:
A minha irmã e meu cunhado, sempre presentes e carinhosos comigo; à Márcia Fráguas por seus deliciosos presentes (além da companhia); ao Miguel Anselmo que além da companhia me ajudou muito sobre como lidar com todo o processo; ao Adilson Rodrigues, sempre alegre e dando a maior força; à Patrícia Weiss que me acompanhou mesmo estando em férias; ao Fábio Tamizari com seu apoio e alegria insuperáveis e a minha queridíssima amiga Michele Krepschi, que mesmo “atarefada”, conseguiu dedicar uma manhã para mim.

Um linfoma chamado Hodgkin - III

Relatório do primeiro dia.
Entre as inúmeras surpresas que tive no decorrer do ano de 2012, esta foi uma surpresa positiva. Hoje considero toda a propaganda sobre quimioterapia enganosa. A primeira sessão de quimioterapia foi muito tranquila, até mesmo divertida. As enfermeiras Cecília e Roberta são maravilhosas, na falta de uma palavra melhor. A sessão começa com um pouco de soro, depois um medicamento para náusea e enjoo, depois seguem os quatro medicamentos do tratamento, intercalados por um pouco de soro.
No meu caso, não tive nenhuma das reações desagradáveis que tanto propagam. É fato que, cada caso é um caso. Eu me preparei com uma alimentação mais leve, muita água, e um omeoprazol logo pela manhã. A sessão durou quase 6 horas, com direito a almoço (mas eu não almocei desta vez) e muita conversa, afinal, 10 pessoas passam por aquela sala todas as manhãs, com um processo semelhante, com muitas histórias para contar. Este é um detalhe importante: todos os dias 10 pessoas passam por um processo semelhante. Não sou o único.
Levei uma sacola de piquenique, mas ela não foi tão necessária. Acabei só tomando um pouco de iogurte e água de coco, e algumas bolachas com gergelim. Teve um dos medicamentos que apelidamos de “ardida”, mas também foi sem maiores problemas. A Cecília começou com gotejação bem lenta e foi aumentando aos poucos, o que fez com que este medicamento não fosse diferente dos outros, e as etapas de soro são sempre refrescantes, até agradáveis.
Minha querida irmã, com meu incrível cunhado estavam me esperando. Sai da sessão da mesma forma que entrei. Paramos em um restaurante para almoçar e depois fizemos uma visita rápida na tia Graça, que mora na Pompeia. Foi aí que a situação ficou um pouco intranquila. Senti calafrios, cansaço, mas não cheguei a ter febre. Fizemos a viagem para Araras, aonde cheguei bastante abatido. Mas o descanso foi milagroso. Não era 8 horas da noite e eu já estava bem novamente. Sem febre, sem calafrios. Não parei de tomar líquidos durante o dia, sempre tomando água de coco e água. À noite tomei uma sopa, mas não resisti à tentação de comer um lanche junto com minha irmã e meu cunhado.
No dia seguinte acordei muito bem, tomei o omeoprazol que vai me acompanhar durante todo o tratamento e já estava tomando um comprimido de Vonau a cada 8 horas. Existe uma série de medicamentos que “ajudam” no tratamento contra os efeitos colaterais da quimioterapia, e é muito importante seguir este procedimento a risca. De resto, tive um dia cheio, fiz minha inscrição para a prova de mestrado e iniciei a leitura da biografia do Jean Genet escrita por Edmund White. A partir do terceiro dia, inicia-se uma série de cinco aplicações subcutâneas de um medicamento para reforçar o sistema imunológico, que é fortemente abalado pela quimioterapia.
Uma grande alegria para mim foi que me dei conta que tenho amigos e amigas das mais diferentes religiões e crenças, e amigos e amigas ateus também. E TODOS, sem exceção, tem sua participação e colaboração para me ajudar. Os evangélicos são os mais chatos, pois confundem Deus com igreja (embora afirmem o contrário), confundem fé com comportamento. Enfim, cada um com seu jeito de ser. Os mais divertidos são os ateus, que usam o otimismo e a alegria prática, sem recorrer a orações, embora eu acredite que pensamento positivo seja uma forma de oração. E eu, de família cristã, que sempre tive as religiões afrodescendentes como demoníacas, reconheço agora meu erro, é o mesmo Deus em suas diferentes manifestações.
Ser professor de História tem me ensinado muito neste aspecto, conhecer e transmitir estas diferentes histórias de mundo, conhecer e falar sobre diferentes culturas, tudo isto tem me mostrado que somos os mesmos seres humanos, na tentativa de construir um mundo que seja melhor, com menos violências, com menos sofrimentos, com menos miséria econômica e humana, para que as diferenças sejam motivo de admiração e não de medo, para que as diferenças sejam sinônimo de riqueza e não de miséria, de liberdade de não de controle, para que as diferenças sejam sinônimo de fraternidade, e não razão para disputas e intolerâncias.

Um linfoma chamado Hodgkin - II

Mais um ano começou: 2012. Minhas férias de janeiro foram dedicadas a esclarecer minhas preocupações. Através de minha médica, que tinha um amigo que trabalhava no Hospital Dia, fui orientado a procura-lo com um relatório detalhado, e tentar conseguir a biopsia através deles. Junto a isto, consegui agendar atendimento com um Clínico Geral no HSPM.
Depois de muita dificuldade burocrática, e graças à boa vontade do médico e atendentes do Hospital Dia, consegui agendar uma biopsia para o início de fevereiro. No HSPM também estava agendada a consulta com o Clínico Geral. Estes dois procedimentos foram acontecendo ao mesmo tempo: no Hospital Dia realizei a biopsia e aguardei o resultado; no HSPM passei pelo Clínico Geral, que me encaminhou para Moléstias Infecciosas, que me encaminhou para a Dra. Éden, na Clínica de Hematologia.
Quando fui atendido pela médica da Hematologia, a maravilhosa Dra. Éden, já estava com o resultado da biopsia em mãos: linfadenite atípica. Como o atendimento pelo HSPM acabou sendo mais rápido, eficaz e conveniente que o atendimento pelo SUS, resolvi focar todo o caso no HSPM.  Para a Dra. Éden a biopsia do Hospital Dia não dizia nada, era totalmente inconclusivo, e como não havia a possibilidade de solicitar uma nova análise do material obtido na biopsia, foi necessário outro encaminhamento, para a Clínica de Pescoço e Cabeça no HSPM, e a realização de uma nova biopsia.
Mais consultas, mais exames, biopsia agendada. Já estávamos em junho, final de semestre, minha viagem pelo Rio Amazonas (Manaus-Santarém-Belém) estava completamente programada. Meu querido amigo Ulisses me acompanhou durante a biopsia, mas o resultado só ficaria disponível após minhas férias. Uma preocupação a menos, pois considero que um problema sem solução, resolvido está. Novas consultas com a Dra. Éden e na Clínica de Pescoço e Cabeça para conhecimento do resultado da biopsia foram agendadas para a última semana de julho, depois da viagem.
Minha viagem de descobrimento pelo Rio Amazonas foi maravilhosa: os dias no barco foram lindos e instrutivos, meu único dia em Alter do Chão foi paradisíaco e Belém foi uma grande festa de encerramento da viagem. Tudo fotografado e relatado, como é de meu feitio.
De volta à realidade, com o resultado da biopsia em mãos, desta vez, sem dúvidas: Linfoma de Hodgkin.
Nada a fazer senão encarar os fatos e enfrenta-los. A Dra. Éden, com seu comprometimento além de qualquer expectativa já havia encaminhado alguns exames que seriam necessários e agendado uma consulta com o médico que iria administrar o tratamento do Linfoma: quimioterapia e radioterapia.
No site da ABRALE consegui inúmeras informações e orientações, entre elas, um excelente “Manual de Cuidado Nutricional em Quimioterapia”. Outro amigo que já passou por um processo semelhante me tranquilizou e me orientou ainda mais. Enfim, todas as providências foram tomadas, e no dia 9 de agosto, praticamente um ano após eu ter observado a alteração em meu pescoço, eu iniciei meu tratamento com quimioterapia para me curar do Linfoma de Hodgkin.

Um linfoma chamado Hodgkin - I



Tudo começou em mais um daqueles momentos em que nos defrontamos com nós mesmos na frente do espelho. O final de semana havia sido intenso e uma nova semana com sua rotina devia começar. Lá estava eu, na frente do espelho, averiguando quem estava ali comigo; se havia ocorrido alguma mudança; se os cabelos brancos continuavam desalinhados; se o diâmetro da cintura continuava maior do que o desejado; se o meu olhar tinha algo para me dizer. Foi entre estas divagações e olhares que notei algo estranho no meu pescoço; o lado esquerdo estava maior do que de costume; havia um inchaço que deformava a linha do pescoço. Apalpei o inchaço para averiguar sua existência, não havia dor, curvei a cabeça para todos os lados; o inchaço continuava lá.
Estávamos em agosto de 2011 e os compromissos da vida eram inadiáveis, assim sendo, segui minha rotina, sem abandonar o pensamento sobre aquela alteração em minha fisionomia. Alguns dias se passaram sem que ninguém observasse algo diferente em meu pescoço, além de mim mesmo. A possibilidade de ser apenas algo momentâneo foi sendo eliminada com o passar dos dias e a permanência da alteração. Junto com o pensamento vieram as preocupações e uma consequente busca de informações que indicaram várias alternativas: lipodistrofia, tireoide, um simples deslocamento na musculatura, um linfoma chamado Hodgkin.
Passadas algumas semanas tive uma consulta com a médica que me acompanhava e apresentei minha preocupação sobre a alteração em meu pescoço.  A médica examinou e eliminou a possibilidade sobre a musculatura; havia pelo menos um nódulo grande no pescoço. Iniciou-se então uma sequência de exames e encaminhamentos para diagnóstico.  Após alguns exames a tireoide foi descartada e passamos então ao encaminhamento para uma biopsia do nódulo. Já estávamos em novembro e pelo nosso Sistema Único de Saúde (SUS) este exame poderia demorar alguns meses para ocorrer. Sendo professor na rede pública municipal de São Paulo uma amiga me aconselhou a procurar o Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM). O ano estava chegando ao fim, com muitos compromissos e atividades na agenda, o inchaço no pescoço não apresentava dor ou qualquer incômodo, os dias foram se passando e qualquer atitude mais incisiva foi postergada para o ano seguinte.
No decorrer do processo, já com a possibilidade de ser o Linfoma de Hodgkin, ou algo pior, o Linfoma de não-Hodgkin, procurei orientações no site da ABRALE e recebi ótimas e rápidas orientações sobre como proceder. Mas como disse, o ano estava acabando, e as ações foram deixadas para o início do ano seguinte.