terça-feira, 4 de setembro de 2012

Dificuldades e problemas, dentro ou fora da Escola?

1- Quais dificuldades vocês identificam em relação à construção de sequências didáticas para o ensino da História?
2- Tendo por base o trecho das Orientações Curriculares: Proposição de Expectativas de Aprendizagem: ciclo II: História sobre os problemas relativos aos conteúdos e métodos no ensino de história (pp. 32-36), quais encaminhamentos podem ser apontados por você?
“Quanto mais me torno capaz de me afirmar como sujeito que pode conhecer tanto melhor desempenho minha aptidão para fazê-lo.
(FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura. p 124).

Talvez ainda existam escolas e professores com práticas arcaicas, como sugere o texto das Orientações Curriculares, onde “entende-se como conteúdo certos conhecimentos concebidos e produzidos fora da escola, para serem transmitidos para alunos passivos, que não interferem no saber”. Talvez ainda existam, mas não é o que ocorre na EMEF Eduardo Prado onde trabalho. Talvez ainda existam, mas não foi esta a forma que me foi ensinada em meu curso de Licenciatura, finalizado há 10 anos atrás.
Em meu curso de História na Universidade Federal de Ouro Preto, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais em Mariana, analisamos muito os textos de autores como Jacques Le Goff, que enfatiza a importância de uma “crítica histórica”, ou de Marc Bloch que inaugurou a noção de “história como problema” e que é notoriamente reconhecido como um historiador que teve a capacidade de transformar seu presente vivido em reflexão histórica.
Na EMEF Eduardo Prado, as chamadas Jornadas Pedagógicas e as Jornadas de Formação, não são apenas uma reunião de professores para uma “roda de conversa”. São reuniões com toda a equipe pedagógica onde se questiona e se planeja a prática escolar, onde se questiona a efetividade e os problemas que surgem no cotidiano escolar. É uma Escola que não fecha os olhos e ouvidos para seus alunos e para a sua comunidade. O resultado disto, apesar de questionável, está na nossa última nota do IDEB que foi, para o 5º ano, 5,1 e para o 9º ano, 4,9. Atingimos a meta do município para o 5º ano, que é 5,1 e ultrapassamos a média do 9º ano, que é 4,4.
E aqui repito um dos textos iniciais de nosso curso, o texto em que Maria Auxiliadora e Tânia Maria apresentam suas questões finais citadas como “última parte da Aula Oficina”: O que você aprendeu de novo nestas aulas? O que você já sabia? O que gostou mais de aprender? O que gostaria de saber mais sobre esse assunto? São nestas questões que encontro a superação dos problemas relativos aos conteúdos e métodos no ensino de História, assim como enfrento qualquer dificuldade em relação à construção de sequências didáticas para o ensino da História.
Evidencia-se aqui a proposta das Orientações Curriculares - mas também de minha formação e prática pedagógica - onde se afirma que “é preciso reconhecer que todos os sujeitos que participam da escola, de algum modo, interferem e constroem o saber escolar: alunos, professores, educadores da escola, pais, editores e autores de livros didáticos, autores de referência da historiografia. Assim, o saber escolar é sempre recriação e, ao mesmo tempo, fruto de escolhas coletivas do que se espera ensinar e do que se aprende realmente de história na escola.” Afirmação esta que é referenciada na obra de Ana Maria Monteiro, Ensino de História – Sujeitos, saberes e práticas. (Rio de Janeiro: Mauad, 2007)
Mas não posso, em nenhum momento, seguindo o exemplo de Marc Bloch, e fazendo do meu presente vivido uma reflexão histórica, ignorar que a comunidade na qual convivo está sufocada por uma cultura de massa que não valoriza a diversidade de crenças, opiniões e representações; que não valoriza um aluno como sujeito ativo no processo de aprendizagem; que não valoriza o saber histórico científico.
Quando vemos um candidato a prefeito que está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos afirmar que gostaria que houvesse uma IGREJA em cada esquina, e não uma ESCOLA, temo e tremo pelo futuro pelo qual tanto nos esforçamos neste momento para construir juntos.
Afirmo que a Escola já mudou bastante, a Escola onde trabalho se transforma a cada ano, porque ela está atenta às mudanças e transformações de nossos alunos, professores, educadores da escola, pais, editores e autores de livros didáticos, autores de referência da historiografia e ao nosso contexto social.
Portanto, também ouso afirmar que as maiores dificuldades em relação à construção de sequências didáticas para o ensino da História estão FORA da Escola, e não dentro dela. A superação dos problemas relativos aos conteúdos e métodos no ensino de História somente ocorrerão quando ocorrer tal superação em nosso contexto politico, social e econômico. A Escola e sua equipe pedagógica serão capazes de superar qualquer problema quando seu papel e seu valor forem reconhecidos e valorizados ao contrário de acusados como causa. A Escola e o professor também são “efeito”, também são fruto de escolhas coletivas do que se espera e do que se aprende realmente fora da escola. E não podemos ignorar este aspecto.