quarta-feira, 3 de junho de 2015

Discurso proferido por Russell Means em julho de 1980.

Em um dia qualquer, encontrei este texto navegando pela Internet. Li e este texto respondeu inúmeras questões que habitavam minha mente... não encontrei este texto em português e minha mente inquietante me levou a traduzi-lo. Não sou um tradutor profissional, portanto, no final, existe um link para o original em inglês. Qualquer correção será muito bem recebida! Leiam, vivenciem... acho que não sou o único que se inquieta com estas questões.


A Revolução e os Índios Americanos: “O Marxismo é tão estranho para minha cultura quanto o Capitalismo”

O discurso a seguir foi proferido por Russell Means em julho de 1980, antes do encontro de milhares de pessoas do mundo todo que se reuniram para o Black Hills International Survival Gathering (Encontro Internacional para a preservação das Colinas Negras), em Black Hills na South Dakota (Colinas Negras em Dakota do Sul). Este é o discurso mais famoso de Russell Means.
Membro da tribo Oglala Lakota, ele talvez tenha sido a personalidade mais destacada no Movimento Indígena Americano, começando com a ocupação do Wounded Knee em 1973. Ele também teve uma carreira artística atuando como Chingachgook no filme Last of the Mohicans (O Último dos Moicanos). Ele morreu em 22 de outubro de 2012 aos 72 anos de idade.

"A única forma possível de iniciar uma declaração deste gênero é dizendo que eu detesto escrever. O processo em si mesmo sintetiza o conceito Europeu de pensamento “legitimado”; o quê está escrito adquire uma importância que é negada ao que é dito. Minha cultura, a cultura Lakota, possui uma tradição oral, portanto, em princípio, eu renego a escrita. Esta é uma das maneiras que o mundo do homem branco tem para destruir as culturas dos povos não-Europeus, a imposição de uma abstração sobre a relação oral do povo.
Portanto, o que você lê aqui não é o que eu escrevi. Isto é o que eu disse e alguém escreveu minhas palavras ditas. Eu permitirei que seja assim porque me parece que a única maneira de se comunicar com o mundo branco é através das folhas secas e mortas de um livro. Eu realmente não me importo se minhas palavras alcançarão os brancos ou não. Eles já demonstraram através de sua história que não conseguem ouvir, não conseguem ver; os brancos conseguem apenas ler (é claro que existem exceções, mas as exceções apenas confirmam a regra). Eu estou mais preocupado com o povo indígena americano, estudantes e outras pessoas, que começam a ser absorvidos pelo mundo branco através de universidades e outras instituições. Mas mesmo assim isto é apenas uma preocupação periférica. É extremamente possível que uma mente branca se desenvolva no interior de uma cara vermelha; e se isto for uma escolha pessoal, então, que assim seja, mas eu não vejo nenhuma utilidade para ela. Isto é parte do processo de genocídio cultural sendo impetrado atualmente pelos Europeus contra o povo Indígena Americano. Minha preocupação é com os Indígenas Americanos que tem escolhido resistir a este genocídio, mas que devem estar confusos sobre como agir.
Vocês notaram que eu uso o termo Índio Americano e não Nativo Americano ou Povo Indígena Nativo ou Ameríndios, quando estou me referindo a meu povo. Tem havido alguma controvérsia em relação a tais termos, e sinceramente, neste ponto, eu acho isto um absurdo. Primeiramente parece que Índio Americano é um termo que tem sido rejeitado como de origem Europeia – o que é verdade. Mas todos os termos acima são de origem Europeia; a única maneira não-Europeia é falar dos Lakota – ou, mais precisamente, dos Oglala, Brule, etc. – e dos Dineh, dos Miccousukee, e todos os demais centenas de nomes corretos de cada tribo.
Existe também alguma confusão sobre a palavra Índio, uma crença errônea de que se refere a alguém do país Índia. Quando Colombo se lavou nas praias do Caribe, ele não estava procurando por um país chamado Índia. Os Europeus chamavam aquele país de Industão (Hindustan) em 1492. Procure nos mapas antigos. Colombo chamou os povos tribais que ele encontrou de "Indio" do italiano in dio, que significa "em Deus”.
É necessário um grande esforço por parte de cada Índio Americano para não se tornar Europeizado. E a força para este esforço só pode vir dos caminhos da tradição, os valores tradicionais que os mais velhos conservam. Deve vir da aliança, das quatro direções, das relações: não deve vir das páginas de um livro ou de milhares de livros. Nenhum Europeu será capaz de ensinar um Lakota a ser Lakota, um Hopi a ser Hopi. Um doutor em "Estudos Indígenas" ou em "educação" ou em outra matéria qualquer não é capaz de transformar uma pessoa em um ser humano ou fornecer conhecimento dentro das formas tradicionais. Ele é apenas capaz de formar em você uma mente Europeia, um estrangeiro.
Eu preciso ser claro sobre uma questão aqui, pois me parece que existe alguma confusão sobre isto. Quando eu falo de Europeus ou de mentalidade Europeia, eu não quero que existam falsas distinções. Eu não estou dizendo que de um lado existe os subprodutos de alguns milhares de anos de genocídio, desenvolvimento intelectual Europeu reacionário, que seja ruim; e de outro lado existe um desenvolvimento intelectual revolucionário que seja bom. Eu estou me referindo aqui à tal chamada teoria do Marxismo e anarquismo e “esquerdismo” em geral. Eu não acredito que estas teorias possam ser separadas do restante da tradição intelectual Europeia. Esta é a mesma velha ladainha.
O processo começou muito antes. Newton, por exemplo, "revolucionou" a física e as chamadas ciências naturais reduzindo o universo físico em uma equação matemática linear. Descartes fez a mesma coisa com a cultura. John Locke com a política, e Adam Smith com a economia. Cada um destes "pensadores" pegaram um pedaço da espiritualidade da existência humana e a converteu em um código, uma abstração. Eles continuaram onde o Cristianismo parou: eles "secularizaram" a religião Cristã, como os "acadêmicos" gostam de dizer – e desta forma eles conseguiram tornar a Europa mais capaz e pronta para agir como uma cultura expansionista. Cada uma das revoluções intelectuais serviram para abstrair a cultura Europeia ainda mais, a remover a maravilhosa complexidade e espiritualidade do universo e substituí-la por uma sequência lógica: um, dois, três. Responda!
E isto é a chamada "eficiência" na mente Europeia. Qualquer coisa que seja mecânica é perfeita; qualquer coisa que pareça funcionar no momento – isto é, prova que o modelo mecânico está correto – é considerada certa, mesmo quando seja claramente falsa. Este é o motivo pelo qual a "verdade" muda tão rapidamente na mentalidade Europeia; as respostas que resultam de tal processo são apenas tapa-buracos, apenas temporários, e devem ser continuamente descartados em função de novos tapa-buracos que garantam os modelos mecânicos e os mantenham (os modelos) vivos.
Hegel e Marx são herdeiros do pensamento de Newton, Descartes, Locke e Smith. Hegel finalizou o processo de secularização da teologia – e isto é posto em seus próprios termos – ele secularizou o pensamento religioso com o que a Europa entende como o universo. E então Marx adaptou a filosofia de Hegel aos termos de "materialismo" que é o mesmo que dizer que Marx e Hegel trabalharam junto neste processo de desespiritualização. Novamente, nas palavras do próprio Marx. E agora isto é visto como o potencial futuro revolucionário da Europa. Europeus podem ver isto como revolucionário, mas os Índios Americanos veem isto simplesmente como ainda mais do mesmo conflito Europeu entre o ser e o obter. As raízes da nova forma Marxista do imperialismo Europeu baseados em Marx – e seus seguidores – está ligado à tradição de Newton, Hegel e outros.
O Ser é uma proposição espiritual. Obter é um ato material. Tradicionalmente, Índios Americanos sempre tentaram ser o melhor povo que podiam. Parte deste processo espiritual era e é abandonar a riqueza, descartar a riqueza afim de não obter. O ganho material é um indicador de um status falso entre povos tradicionais, enquanto é a "prova de que o sistema funciona" para Europeus. Claramente, existem dois pontos de vista completamente opostos em questão aqui, e o Marxismo está bem distante ao da visão do Índio Americano. Mas vamos olhar para uma implicação maior disto; este não é um debate meramente intelectual.
A tradição Europeia materialista de desespiritualização do universo é muito semelhante ao processo mental que passa pela desumanização do outro. E quem parece ser o mais hábil em desumanizar outra pessoa? E por que? Soldados tem um longo aprendizado sobre combate ao inimigo antes de entrar em combate. Assassinos fazem o mesmo antes de saírem para cometer o assassinato. Soldados nazistas da SS agiram assim com os prisioneiros dos campos de concentração. Policiais fazem isto. Líderes de corporações agem assim com trabalhadores quando os envia para minas de urânio e siderúrgicas. Políticos agem assim com todo mundo. E a parte do processo que é comum para cada grupo que desumaniza o outro é que está tubo bem matar ou destruir outra pessoa. Um dos mandamentos Cristãos diz, "Não matarás", pelo menos não matarás seres humanos, portanto o truque é converter mentalmente as vítimas em seres não humanos. Assim você pode declarar a violação de seu próprio mandamento como uma virtude.
Nos termos da desespiritualização do universo, o processo mental funciona de maneira que torna uma virtude destruir o planeta. Termos omo progresso e desenvolvimento são usados para encobrir palavras aqui, as maneiras como vitória e liberdade são usadas para justificar a carnificina no processo de desumanização. Por exemplo, um especulador imobiliário se refere como "desenvolvimento" um pedaço de terra arrasado para abrir uma pedreira de cascalho; desenvolvimento neste caso significa uma destruição total e permanente, quando a própria terra é removida. Mas a lógica Europeia é de obter umas poucas toneladas de cascalho com a qual mais terras podem ser “desenvolvidas” com a construção de estradas de rodagem. Em última análise, o universo inteiro está pronto – na visão Europeia – para este tipo de insanidade.
O mais importante aqui, talvez, é que os Europeus não sentem nenhum senso de perda nisto tudo. Afinal, seus filósofos desespiritualizaram a realidade, portanto não há nenhuma satisfação (para eles) a ser obtida em simplesmente observar a maravilha de uma montanha ou lago ou de um ser humano. Não, a satisfação é medida em termos de ganho material. Portanto a montanha se transforma em cascalho, o lago serve para refrigerar uma fábrica, e as pessoas são adaptadas para este processo através das moendas de doutrinação que os Europeus gostam de chamar de escolas.
Mas cada nova peça deste “progresso” aposta em algo fora do mundo real. Retirar combustível para uma máquina mecânica é um exemplo. A pouco mais de dois séculos atrás, quase todo mundo usava carvão – um item natural, renovável – como combustível para as necessidades humanas de aquecimento e alimentação. Junto veio a Revolução Industrial e o carvão se tornou um combustível, assim como a produção se tornou um imperativo social para a Europa. A poluição começou a se tornar um problema nas cidades, e a terra foi dilacerada a fim de fornecer carvão visto que a madeira sempre havia sido obtida ou colhida sem grandes prejuízos para o ambiente. Mais tarde, o petróleo se tornou o combustível mais importante, assim que a tecnologia de produção se aperfeiçoou através de uma série de “revoluções” científicas. A poluição aumentou dramaticamente, e ninguém ainda sabe os custos ambientais reais que o bombeamento de todo este petróleo do interior da terra poderá causar ao longo do tempo. Agora existe uma “crise de energia" e o urânio está se tornando o combustível dominante.
Capitalistas, pelo menos, desenvolverão o uso do urânio como combustível apenas se isto lhes proporcionar um bom lucro. Esta é sua ética, e talvez isto nos garanta ainda algum tempo. Marxistas, por outro lado, podem desenvolver o uso do urânio como combustível o mais rápido possível pois este é o combustível mais “eficiente” disponível. Esta é sua ética, e eu não consigo ver qual é preferível. Como eu disse, o Marxismo está muito bem inserido no meio da tradição Europeia. É a mesma ladainha.
Existe uma regra de ouro que pode ser aplicada aqui. Você não é capaz de julgar a natureza real de uma doutrina revolucionária Europeia com base nas mudanças que ela propõe fazer de dentro do poder da estrutura e sociedade Europeia. Você apenas a pode julgar pelos efeitos que isto acarretará nos povos não-Europeus. Digo isto porque toda revolução na história Europeia apenas serviu para reforçar as tendências e habilidades da Europa em exportar destruição para outros povos, outras culturas e para o próprio meio ambiente. Eu desafio qualquer um a apresentar um exemplo em que isto não seja verdade.
Então nós agora, como povo Indígena Americano, somos convidados a acreditar que um “nova” doutrina revolucionária Europeia como o Marxismo era reverter os efeitos negativos que a história Europeia teve sobre nós. As relações de poder Europeu serão ajustados mais uma vez, e supõem-se isto fará as coisas ficarem melhores para todos nós. Mas o que isto realmente significa?
Exatamente agora, hoje, nós que vivemos na Reserva Pine Ridge estamos vivendo no que a sociedade branca designou como “Área de Sacrifício Nacional”. Isto significa que nós temos muita reserva de urânio aqui, e a cultura branca (não nós) precisamos deste urânio como material de produção de energia. O mais barato, mais eficiente jeito para a indústria extrair e processar este urânio é despejar os resíduos da produção exatamente aqui nos sítios de escavação. Exatamente aqui onde nós vivemos. Este resíduo é radioativo e tornará a região toda inabitável para sempre. Isto é considerado pela indústria, e pela sociedade branca que criou esta indústria, como sendo um preço “aceitável” a pagar pelo desenvolvimento destes recursos de energia. Ao longo do caminho eles também planejam drenar o lençol de água que está debaixo desta área da Dakota do Sul como parte do processo industrial, assim a região se tornará duplamente inabitável. O mesmo tipo de situação está ocorrendo logo abaixo nas terras Navajo e Hopi, logo acima nas terras dos Cheyenne do Norte e Crow, e outros lugares. Trinta por cento do carvão do Oeste e metade dos depósitos de urânio nos Estados Unidos estão em reservas indígenas, portanto de forma alguma isto pode ser chamado de uma questão menor.
Nós estamos resistindo a sermos transformados em uma Área de Sacrifício Nacional. Nós estamos resistindo a sermos transformados em um povo de sacrifício nacional. Os custos deste processo industrial não são aceitáveis para nós. É um genocídio escavar urânio aqui e drenar o lençol de água – não mais, não menos.
Agora suponhamos que em nossa resistência contra o extermínio comece a agregar aliados (nós temos). Vamos supor ainda que nós fôssemos tomar o Marxismo revolucionário como se diz: que pretende nada menos do que a derrubar completamente a ordem capitalista Europeia que tem apresentado esta ameaça sobre nossa existência. Esta parece ser uma aliança natural para o povo Indígena Americano estabelecer. Afinal, como dizem os Marxistas, são os capitalistas que nos definem como sacrifício nacional. Isto é verdade até aqui.
Mas, como eu tenho tentado apontar, esta “verdade” é muito traiçoeira. O Marxismo Revolucionário está comprometido ainda mais com a perpetuação e perfeição do verdadeiro processo industrial que está destruindo todos nós. Ele oferece apenas a “redistribuição” dos resultados – o dinheiro, talvez – desta industrialização para uma parcela maior da população. Ele oferece retirar a riqueza dos capitalistas e repassá-la adiante; mas a fim de fazer o quê, o Marxismo deverá manter o sistema industrial. Mais uma vez, o poder das relações dentro da sociedade Europeia será alterado, porém mais uma vez os efeitos sobre os povos Indígenas Americanos aqui e os não-Europeus em qualquer lugar continuarão a ser os mesmos. É a mesma coisa quando o poder foi redistribuído da igreja para os negócios privados durante a chamada revolução burguesa. A sociedade Europeia mudou um pouco, pelo menos superficialmente, mas seu domínio sobre os não-Europeus continuou como antes. Você pode ver o que a Revolução Americana de 1776 causou aos Índios Americanos. É a mesma velha ladainha. Ladainha.
O Marxismo Revolucionário, como outras formas na sociedade industrial, almeja "racionalizar" todos os povos em direção à indústria – indústria máxima, máxima produção. Esta é uma doutrina que despreza a tradição espiritual dos Índios Americanos, nossas culturas, nossos jeitos de viver. O próprio Marx nós chamou de “pré-capitalistas” e “primitivos”. Pré-capitalista significa simplesmente que, em sua visão, nós eventualmente iríamos descobrir o capitalismo e nos tornar capitalistas; nós temos sempre sido economicamente atrasados nos termos Marxistas. A única maneira pela qual o povo Indígena Americano poderia participar na revolução Marxista seria unindo-se ao sistema industrial, tornarem-se trabalhadores de fábricas, ou “proletários”, como Marx os chamou. O homem estava bem certo sobre o fato de que sua revolução apenas poderia ocorrer através da luta do proletariado, que a existência de um sistema industrial de massa é a pré-condição para uma sociedade Marxista de sucesso.
Eu penso que existe um problema com a linguagem aqui. Cristãos, capitalistas, marxistas. Todos eles foram revolucionários em suas próprias mentes, mas nenhum deles realmente promoveu uma revolução. O quê eles realmente queriam era continuação. Eles fazem o que eles fazem a fim de que a cultura Europeia continua e se desenvolva de acordo com suas necessidades.
Então, para que todos nós realmente unamos nossas forças com o Marxismo, nós Índios Americanos devemos aceitas o sacrifício nacional de nossa terra natal; nós devemos cometer suicídio cultural e nos tornarmos industrializados e Europeizados.
Neste ponto, eu tenho que parar e perguntar a mim mesmo se eu não estou sendo muito duro. O Marxismo tem uma boa história. Esta história bear out minhas observações? Eu olho para o processo de industrialização na União Soviética desde 1920 e eu vejo que aqueles Marxistas fizeram o que levou 300 anos para a Revolução Industrial Inglesa realizar; e o Marxismo realizou em 60 anos. Eu vejo que o território da USSR possuia um número de povos tribais e que eles foram esmagados para dar caminho para as fábricas. Os Soviéticos se referem a isto como “A Questão Nacional”, a questão se os povos tribais tem o direito de existir como povo; e eles decidiram que os povos tribais eram um sacrifício aceitável para as necessidades industriais. Eu olho para e China e vejo a mesma situação. Eu olho para o Vietnam e vejo Marxistas impondo uma ordem industrial e acabando com as raízes dos povos indígenas tribais montanheses.
I ouço influentes cientistas Soviéticos dizendo que quando o urânio estiver exaurido, outras alternativas serão encontradas. Eu vejo Vietnamitas invadindo plantas de energia nuclear abandonadas pelo exército dos Estados Unidos. Eles a desmontaram e destruíram? Não, eles as estão usando. Eu vejo a China explodindo bombas nucleares, desenvolvendo reatores nucleares, e preparando um programa espacial a fim de colonizar e explorar planetas da mesma maneira que os Europeus colonizaram e exploraram este hemisfério. É a mesma velha ladainha, mas talvez com maior velocidade desta vez.
Os argumentos dos cientistas Soviéticos é muito interessante. Eles sabem qual será esta fonte de energia alternativa? Não, eles simplesmente tem fé. A ciência encontrará um caminho. Eu ouço Marxistas revolucionários dizendo que a destruição do ambiente, poluição e radiação serão todos controlados. E eu os vejo agindo de acordo com suas palavras. Eles sabem como estas condições serão controladas? Não, eles simplesmente tem fé. A ciência encontrará um caminho. A industrialização é boa e necessária. Como eles sabem disto? Fé. A ciência encontrará um caminho. Fé deste tipo sempre foi conhecida na Europa como religião. A ciência se tornou a nova religião Europeia para capitalistas e Marxistas; eles são verdadeiramente inseparáveis; eles são parte e parcela da mesma cultura. Portanto, em ambas teorias e práticas, o Marxismo exige que povos não-Europeus desistam de seus valores de suas tradições, de sua existência cultural completamente. Nós todos nos tornaremos viciados em ciência industrializada em uma sociedade Marxista.
Eu não acredito que o capitalismo em si seja realmente responsável pela situação na qual os Índios Americanos tem sido declarado um sacrifício nacional. Não, esta é a tradição Europeia; a cultura Europeia em si é responsável. O Marxismo é apenas a continuação mais recente desta tradição, não é uma solução para isto. Aliar-se ao Marxismo e se aliar com as mesmas forças que nos declararam um custo aceitável.
Existe outro caminho. Existe o caminho tradicional dos Lakota e os caminhos dos povos Indígenas Americanos. Este é o caminho que sabe que os humanos não tem o direito de degradar a Mãe Terra, que existem forças além de qualquer coisa que a mente Europeia tenha concebido, que os humanos devem estar em harmonia com todas as relações ou as relações irão eventualmente eliminar a desarmonia. A ênfase torta nos humanos pelos humanos – a arrogância Europeia de agir como se eles estivessem além da natureza de tudo como coisas relacionadas – pode apenas resultar na total desarmonia e um reajuste que reduzirá o número de humanos arrogantes, dando-lhes o gosto desta realidade além de sua compreensão ou controle e restaure a harmonia. Não é necessário uma teoria revolucionária para que isto aconteça; isto está além do controle humano. Os povos naturais deste planeta sabem disto e portanto eles não teorizam sobre isto. Teoria é uma abstração; nosso conhecimento é real.
Distilada em seus termos básicos, a fé Europeia – incluindo a nova fé na ciência – é equivalente à crença de que o homem é Deus. A Europa sempre procurou um Messias, seja este o homem Jesus Cristo ou o homem Karl Marx ou o homem Albert Einstein. Índios Americanos sabem que isto é totalmente absurdo. Os humanos são as criaturas mais frágeis de todas, tão fracas que outras criaturas estão dispostas a desistir de sua própria vida para que nós possamos viver. Os Humanos são capazes de sobreviver apenas através do exercício da racionalidade pois eles não possuem as habilidades de outras criaturas para obter comida através do uso de garras e presas.
Mas a racionalidade é uma maldição se ela pode fazer com que os humanos esqueçam da ordem natural das coisas que outras criaturas não esquecem. Um lobo nunca se esquece de seu lugar na ordem natural. Índios Americanos podem se esquecer. Europeus quase sempre se esquecem. Nós oramos em agradecimento ao cervo, por nossas relações, por nos permitir comer sua carne; Europeus simplesmente comem a carne como se fosse seu direito e consideram o cervo um ser inferior. Afinal, Europeus se consideram à semelhança de deus em seu racionalismo e ciência. Deus é o Ser Supremo; tudo mais deve ser inferior.
Toda a tradição Europeia, incluindo o Marxismo, tem conspirado para desafiar a ordem natural das coisas. A Mãe Terra tem sido abusada, poderes tem sido abusados, e isto não continuará para sempre. Nenhuma teoria é capaz de alterar este simples fato. A Mãe Terra vai retaliar, o meio ambiente todo vai retaliar, e os abusadores serão eliminados. Todas as coisas compõe um círculo perfeito, que volta ao ponto onde começou. Isto é revolução. E esta é uma profecia do meu povo, do povo Hopi e de outros povos.
Os Índios Americanos tem tentato explicar isto para os Europeus por séculos. Mas, como eu disse no antes, os Europeus tem provado que são incapazes de ouvir. A ordem natural vencerá, e os infratores vão morrer, assim como o cervo morre quando ele fere a harmonia ao procriar demais em uma certa região. É apenas uma questão de tempo até que a chamada "catástrofe de proporções globais" pelos Europeus aconteça. Este é o papel dos povos Indígenas Americanos, o papel de todas os seres naturais, sobreviver. Uma parte de nossa sobrevivência é resistir. Nós resistimos não para derrubar um governo ou para tomar o poder político, mas porque é algo natural resistir à exterminação, sobreviver. Nós não queremos ter poder sobre as instituições dos brancos; nós queremos que as instituições dos brancos desapareçam. Isto é revolução.
Os Índios Americanos ainda estão em contato com essas realidades – as profecias, as tradições de nossos ancestrais. Nós aprendemos de nossos anciãos, da natureza, dos poderes. E quando a catástrofe terminar, os Índios Americanos ainda estarão aqui para habitar o hemisfério. Eu não me importo que seja apenas um punhado de pessoas vivendo no alto dos Andes. Os povos Indígenas Americanosvão sobreviver; a harmonia será reestabelecida. Isso é revolução.
Neste ponto, talvez, Eu precise ser mais claro sobre outra questão, que já deveria estar claro a partir do que eu já disse. Mas a confusão nasce facilmente nos dias atuais, portanto eu quero reforçar este ponto. Quando eu uso o termo Europeu, Eu não estou me referindo à cor da pela ou a uma estrutura genética em particular. Eu estou me referindo a uma estrutura de pensamento, a uma visão de mundo que é um produto do desenvolvimento da cultura Europeia. Os povos não são geneticamente codificados para sustentar esta perspectiva; eles são aculturados para sustentá-la. O mesmo é verdadeiro para os Índios Americanos ou para os membros de qualquer cultura.
É possível para um Índio Americano compartilhar valores Europeus, uma visão de mundo Europeia. Nós temos um termo para estas pessoas; nós os chamamos de “maçãs” - vermelhos por fora (genética) e brancos por dentro (seus valores). Outros grupos tem termos semelhantes: os Negros tem seus "oreos"; Hispânicos tem "Coconuts" e assim por diante. E, como eu disse antes, existem excessões para o padrão branco: pessoas que são brancas por fora, mas não são brancas por dentro. Eu não estou certo sobre que termo eu deveria usar em relação a eles a não ser "seres humanos".
O que eu estou expondo aqui não é uma proposição racial, mas uma proposição cultural. Aqueles que recentemente tem advogado a favor e defendido as realidades da cultura Europeia e seu industrialismo são meus inimigos. Aqueles que resistem a isto, que lutam contra isto, são meus aliados, os aliados do povo Indígena Americano. E eu não dou a mínima para qual seja a cor de sua pele. Caucasiano é a palavra branca para a raça branca: Europeus é a perspectiva à qual eu me oponho.
Os Vietnamitas Comunistas não são exatamente o que se considera um Caucasiano geneticamente falando, mas agora eles estão funcionando como Europeus mentais. O mesmo é verdade para os Chineses Comunistas, para os Japoneses capitalistas ou para os Católicos Bantu ou Peter "MacDollar" abaixo na Reserva Navajo ou Dickie Wilson acima na Pine Ridge. Não existe nenhum racismo envolvido nisto, apenas um reconhecimento da mente e espírito que compõe uma cultura.
Em termos Marxistas eu suponho que eu seja um "nacionalista cultural". Eu trabalho primeiramente com meu povo, o povo tradicional Lakota, porque nós comungamos de uma visão de mundo em comum e compartilhamos de uma luta direta. Além disto, Eu trabalho com outros povos Indígenas Americanos tradicionais, novamente devido a uma certa comunhão na visão de mundo e na forma de luta. E além disto, eu trabalho com qualquer um que tenha vivido a opressão colonial da Europa e que resista a seu absolutismo cultural e industrial. Evidentemente, isto inclui Caucasianos geneticamente falando que lutam para resistir ao padrão dominante da cultura Europeia. Os Irlandeses e os Bascos me vem imediatamente à mente, mas existem muitos outros.
Eu trabalho primeiramente com meu próprio povo, com minha própria comunidade. Outros povos que sustentam perspectivas não-Europeias deveriam fazer o mesmo. Eu acredito no ditado, "Acredita na visão de seu irmão", embora eu gosto de acrescentar irmãs também na questão. Eu confio na comunidade e na visão culturalmente baseada de todas as raças que resistem naturalmente à industrialização e à extinção do humano. É claro que indivíduos brancos podem compartilhar disto, dado apenas que eles tenham alcançado a consciência de que a continuidade dos imperativos industriais Europeus não são um ponto de vista, mas o suicídio da espécie. O Branco é uma das cores sagradas para o povo Lakota – vermelho, amarelo, branco e preto. As quatro direções. As quatro estações. Os quatro períodos de vida e emadurecimento. As quatro raças da humanidade. Misturando o vermelho, o amarelo, o branco e o preto nós temos o marrom, a cor da quinta raça. Esta é a ordem natural das coisas. E me parece natural portanto que todas as raças, cada qual com seu princípio, identidade e mensagem especiais.
Mas existe um comportamento peculiar entre a maioria dos Caucasianos. Assim que eu me tornei um crítico da Europe e de seu impacto sobre outras culturas, eles se tornaram defensivos. Eles começaram a se defender. Mas eu não os estou atacando pessoalmente; Eu estou atacando a Europa. Ao personalizar minhas observações sobre a Europa eles estão personalizando a cultura Europeia, identificando a si mesmos com ela. Ao se defenderam neste contexto, eles estão em última instância defendendo a cultura da morte. Existe uma confusão que dever ser superada, e deve ser superada rapidamente. Nenhum de nós tem energia para desperdiçar em lutas falsas.
Os Caucasianos tem uma visão mais positiva para oferecer à humanidade do que a cultura Europeia. Eu acredito nisto. Mas para que os Caucasianos tenham esta visão é necessário que eles saiam da cultura Europeia – se alinhem ao resto da humanidade – para ver o que a Europa é e o que ela tem faz.
Agarrar-se ao capitalismo e ao Marxismo e todos os outros "ismos" é simplesmente permanecer dentro da cultura Europeia. Não tem como evitar este fato básico. Como um fato, isto determina uma escolha. Entender que a escolha está baseada na cultura, não na raça. Entender que escolher a cultura e a industrialização Europeia é escolher ser meu inimigo. E entender que esta escolha é sua, não minha.
Isto me leva de volta a me dirigir àqueles Índios Americanos que estão vagando por universidades, favelas nas cidades, e outras instituições Europeias. Se vocês estão aí para resistir ao opressor de acordo com seus costumes tradicionais, que assim seja. Eu não sei como você consegue combinar as duas coisas, mas talvez você consiga ter sucesso. Mas mantenha o seu senso de realidade. Esteja atento a vir a acreditar que o mundo branco agora oferece soluções para os problemas que nos atinge. Esteja atento, também, de não permitir que as palavras dos povos nativos sejam usados para vantagem de nossos inimigos. A Europa inventou a prática de aproveitar as palavras para si mesmos. Basta que vocês olhem para os tratados entre Índios Americanos e vários governos Europeus para saber que isto é verdade. Desenvolva sua força a partir do que você é.
Uma cultura que regularmente confunde revolta com resistência, não tem nada útil para te ensinar nem nada a te oferecer como forma de viver. Os Europeus tem já há um longo tempo perdido todo o contato com a realidade, se é que alguma vez eles estabeleceram algum contato com o que vocês são como Índios Americanos.
Portanto, para concluir este discurso, eu quero deixar bem claro que direcionar qualquer um ao Marxismo é a última coisa que passa pela minha mente. O Marxismo é tão alienígena à minha cultura quanto o capitalismo e o Cristianismo são. De fato, eu posso dizer que eu não penso que eu esteja tentando conduzir qualquer pessoa em direção a qualquer coisa. Até um certo ponto eu tentei ser um “líder", no sentido que a mídia branca gosta de usar este termo, Quando o Movimento Indígena Americano era uma organização nova. Este é o resultado de uma confusão que eu não tenho mais. Você não é capaz de ser tudo para todos. Eu não me proponho a ser usado desta forma por meus inimigos. Eu não sou um líder. Eu sou um membro da comunidade Oglala Lakota. Isto é tudo o que eu quero e tudo o que eu preciso ser. E eu estou completamente confortável com o que eu sou".

Texto original: http://theanarchistlibrary.org/library/russell-means-for-america-to-live-europe-must-die