quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ROLETA RUSSA - O disparo!

Depois de uma longa semana de trabalho naquela livraria, como já era costume, fui tomar algumas cervejas com amigos. Como sempre, muito falatório, muitas risadas, muita zoeira para extravasar toda a tensão da semana. Finda a noite, paga a conta, lá vou eu a caminhar pela alameda em direção a um ponto de ônibus, caminhando atento, procurando encontrar alguém que tornasse a noite ainda mais agradável. Nesta noite a sorte parecia sorrir para mim! Nossos olhos se cruzaram e paramos para aquela conversinha boba há ver se algo poderia acontecer. Aconteceu. Sem dinheiro, casa distante... o parque! Teríamos que pular uma grade e como eu sempre adorei aventuras e riscos, a proposta me deixou ainda mais excitado. Pulamos e grade, caminhamos um pouco, encontramos um banco e começamos a sacanagem. Mas ele estava tenso, distante, estranho. Indaguei o que estava acontecendo. Quando dei por mim estávamos cercados por mais algumas pessoas. Ele era a isca, eu era o peixe. Um grupo de cinco rapazes. Um deles, o líder, mais agressivo, me enconstou em uma árvore próxima e tapava meus olhos com uma das mãos. O outro, a isca, argumentava em minha defesa. - Vai com calma, ele é um cara bacana... Ironia. Eu estava sem dinheiro ou, precisamente, com dois reais na carteira, um passe de ônibus, documentos e cartões. Me tranquilizei e tentei argumentar. Alvo errado, tempo jogado fora, nada a ganhar comigo. - Tira a roupa. Roupa de trabalho, suada, sem marca, sem valor... - Você vai ver a roupa que eu vou deixar para você. Para que tudo isto? Para que a agressividade? O líder aliviava a pressão em meus olhos. Quando eu relaxava a cabeça ele a empurrava para bater minha nuca na árvore. Ele contou a história de um irmão que estava com o HIV, um veado com uma tatuagem na coxa havia transmitido o vírus, ele queria vingança! Suspiro. Não era eu, eu não tinha nenhuma tatuagem, não era desta maneira que ele iria ajudar o irmão. - Vamos ver se você é bacana mesmo! Silêncio. - Pô cara, deixa ele - me ajudou a isca. Consegui vislumbrar a arma que veio encostar em minha cabeça. Silêncio, isto é, eu estava em silêncio, entre eles havia uma conversa tipo defesa e acusação. O disparo. Eles sairam correndo. Eu, encostado na árvore, só de cueca, escorreguei até me sentar no chão. O parque escuro, muitas plantas ao redor, a copa das árvores, luzes invadiam o ambiente vindo da rua. Estou morrendo? Não sinto dor, não sinto nada. Respiro. Levo a mão à cabeça, no local onde o cano do revólver me tocou. Tudo seco, tudo no lugar. Roleta Russa? Ou a arma estava mesmo sem nenhuma bala? Não sei mas, dentro de minha cabeça houve um disparo.

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