sábado, 26 de setembro de 2009

ii!! DIA DOS SURDOS !!ii

Há muito tempo me sentia atraido pela Língua de Sinais. Tive um namorado surdo que me iniciou nesta língua, ele me mostrava seu material escolar onde aprendi os primeiros sinais: casa, amigo, amor.
Foi só a partir de 2008 que iniciei um curso de LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais na DERDIC – Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação da PUC/SP e descobri muito mais que uma língua, descobri uma cultura totalmente diferente, outro jeito de pensar e de ver o mundo. Na DERDIC pude conhecer também a longa história de dificuldades que os surdos enfrentaram e enfrentam até os dias atuais.
Aristóteles manteve os surdos na ignorância por dois mil anos pois para ele, por não ouvirem, os surdos eram considerados desprovidos de razão, o que tornava sua educação uma tarefa impossível.
Os surdos foram privados até do céu, pois Santo Agostinho concebeu o ouvido como “a porta da salvação”. Segundo ele, a surdez tornava difícil o recebimento da palavra, do sermão, devido à dificuldade dos surdos compreenderem as palavras faladas.
Mas como sempre aparece alguém do contra, São João de Beverly, arcebispo de York, na Inglaterra, nos anos 700, rejeitou a teoria de Aristóteles e ensinou um rapaz surdo a falar, começando pelas letras, passando depois para as sílabas, vocábulos e frases. Será que este rapaz obteve a salvação da alma também?
Bem mais tarde, Pedro Ponde de Leon (1520-1584), monge beneditino, motivado pela presença de dois padres surdos que viviam em seu mosteiro, desenvolveu um sistema de sinais e foi chamado para a educação dos descendentes surdos de famílias nobres, aristocráticas e inclusive da família real. A existência de descendentes surdos não era incomum devido aos casamentos consanguineos frequentes entre as famílias para conservação de títulos e de posses. Infelizmente todas as anotações sobre este trabalho foram destruídas em um incêndio na biblioteca do mosteiro.
A história da educação de surdos é bastante extensa, e não é meu objetivo escrever um tratado sobre o assunto. Quero apenas destacar que sempre houve uma divisão entre o que se chama de oralidade, que pretende ensinar o surdo a falar, a se inserir no mundo oral, e o uso de sinais, que permite ao surdo o desenvolvimento de uma língua própria.
Infelizmente a ideia que predominou foi a da oralidade, pois acreditava-se que os sinais prejudicassem o desenvolvimento da fala e considerava a Língua de Sinais uma língua inferior. Apenas na década de 1960 os educadores começaram a questionar os baixos resultados obtidos na educação dos surdos através do uso exclusivo da linguagem oral. Paralelamente às análises educacionais, aconteciam estudos e pesquisas linguisticas sobre a Língua de Sinais que demonstraram que, ao contrário do que se poderia pensar à primeira vista, os sinais não se consistiam como gestos holísticos aos quais faltava uma estrutura interna, mas podiam ser descritos em termos de um conjunto limitado de elementos formacionais que se combinavam para definir os sinais.
A análise das propriedades formais da Língua de Sinais revelou que ela apresenta organização formal nos mesmos níveis encontrados nas línguas faladas, incluindo um nível sub-lexical de estruturação interna do sinal (análoga ao nível fonológico das línguas orais) e um nível gramatical, que especifica os modos como os sinais devem se combinar para formar frases e sentenças. Também é possível filosofar na Língua de Sinais.
Em suma, os surdos sempre tiveram que lutar pelo seu lugar neste mundo majoritariamente oralista. Até hoje me perguntam “para que” estudar Libras! Tenho que sorrir perante a ignorância. Se estudasse francês, inglês ou mandarim não existiria tal questionamento. Ora, eu a estudo por ser uma língua visual, diferente de todas as demais, orais.
E a luta não acaba. “A democracia”, afirmou Churchil, “é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos”, hoje, no Brasil, a maioria de falantes tenta obrigar, com o nome de inclusão, a que toda a comunidade surda se matricule em qualquer escola, sem a devida preparação de professores, sem respeito a seu bilinguismo.
Sim. O surdo possui duas línguas. A língua escrita, o português, e a língua de sinais. Além do que, os surdos possuem uma cultura específica, que não é e não será desenvolvida em uma escola oralista.
Sim. A inclusão é necessária, mas não através da eliminação ou ignorância da diferença. Assim como nossos indígenas tem direito ao bilinguismo e a escolas onde sua cultura é valorizada, os surdos também tem o mesmo direito; a escolas que desenvolvam o bilinguismo e valorizem sua própria cultura!
É esta a luta neste Dia dos Surdos! Inclusão, sim. Ignorância, não. (As informações citadas neste texto foram extraídas da Apostila de Libras do Programa de Acessibilidade / LIBRAS da DERDIC e foram adaptadas na composição do texto por mim. Qualquer distorção nas informações é de minha responsabilidade.)

Um comentário:

Paraiso disse...

Lindo! vc! o seu texto! TUDO! VC É TUDO D MUITO BOM!!!!! bjs