terça-feira, 29 de setembro de 2009

iiiiiiiiii 45 ANOS iiiiiiiiii

Comemorar, como diz Mário Sérgio Cortella, é memorar junto, lembrar com outros (pg 20 em seu livro “Não espere pelo epitáfio...”).
Sim! Para minha felicidade há muito o quê lembrar e muitos amigos e amigas com quem lembrar junto. Nestes 45 anos foram muitos os momentos difíceis, mas também foram muitos momentos bons. Então, vamos, juntos, memorar?
Trago comigo vastas emoções e memórias. Desde brincar em montes de terra e pedras usados para asfaltar a Rodovia Anhanguera que era uma estradinha naqueles dias longínquos. O primeiro amigo, o Tato, e os vizinhos que eu achava que eram primos. Sim. Eram e são parte do que sinto prazer em chamar de Família.
Naqueles dias viajava quase todo final de semana para o sítio do Tio Pierobom onde subia em árvores enormes, me perdia no mundo mágico da fábrica de mandioca, comia pão caseiro quentinho feito no forno a lenha, mascava cana e chupava laranja no pé.
Me lembro de meu avô Nicola, que morreu nestes tempos. Tenho na memória a imagem dele sentado em um banco da praça, em frente à Igreja Matriz, ao lado de uma árvore. Hoje eu me sento no mesmo banco protegido pela sombra da mesma árvore que ali cresceu. É incrível o tanto que eu o amo tendo vivido tão pouco em sua companhia. O tempo o preservou.
Aqueles eram os bons tempos de brincar de ciranda em volta do coreto ao som da banda que continua a tocar todos os domingos no mesmo lugar, ou ficar parado perto da fonte para sentir as gotículas de água tocarem meu rosto.
Uau! Quanta memória boa! Um cachorro enorme que meu pai tinha (ou eu que era pequeno?), um papagaio que brincava comigo entre toquinhos de madeira que eram o lego daqueles tempos, papagaio que foi morto por um gato, gato que foi morto com uma vassourada pelo meu pai. O papagaio foi enterrado no mesmo quintal que contemplo hoje, nestes dias de sombra e idade.
Logo cedo aprendi a acreditar em Deus enquanto brincava na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Havia um brinquedo chamado Passo-de-Anjo. Tinha o Padre Carlos e eu era coroinha, cantava no coro e celebrei minha primeira comunhão com a Dona Ivone. A eles sempre sou grato!
Nunca me esqueço das viagens para Santos nas férias, ou melhor, São Vicente. Íamos para Santos somente para tomar sorvete. Em São Vicente era o mar, brincar na areia, e o primeiro voo de avião. Avião? Tudo bem, era um teco-teco, mas estávamos nas alturas, sobre a serra, sobre o mar. Delícias infantis.
Depois veio o parque infantil onde meu pai me levava e me buscava todas as manhãs. Chegávamos em casa para o almoço. E então, a escola, o primeiro amigo na escola, o Jaime; a primeira professora, a amada Dona Maria; e a Dalva também, a amiga com quem ganhei uma prenda ao fazermos a dança da maça, aquela onde o casal dança segurando uma maça com a testa. Riso. Alegrias puras!
Veio a puberdade, a porra, os pelos, o primeiro beijo, em um homem, em São Paulo. A primeira namorada. Uma época em que era difícil entender os desejos.
A gente cresce, estuda, aprende a ser adulto, aprende a tocar violão com o grande mestre Ednelson. Começo a trabalhar, tiro minha carteira profissional. Mudo de escola, mudo de igreja.
Muitos amigos e amigas na adolescência, nossa Tchurma, o amor pelo melhor amigo em meio a desejos conflituosos. Muita música, muitos cursos, boas notas, boa vida.
Finalmente, a maior idade, diplomas, viagem para a Europa. A partir deste momento sinto um desapego cada vez maior por credos e comportamentos. Passo a morar em Campinas onde entendo melhor meus desejos e encontro o primeiro namorado, que compõe outra linda história para narrar. E, por falar em história, começo a trabalhar como músico no Grupo de Teatro Téspis, que me leva a novas viagens, novas descobertas, novas amizades, novos mundos.
Entro na Universidade e acabo me envolvendo no movimento estudantil. Com mais novos amigos, todos com muita energia para usar, fundamos o Grupo Gaia, um grupo para organizar viagens e excursões. Foi uma época maravilhosa! Conheci Trindade, ainda vila de pescadores, escalei o Pico das Agulhas Negras e desbravei cavernas no Vale do Alto Ribeita. Vivi momentos de êxtase em cada viagem que realizávamos.
Comecei estudando Matemática pois sempre quis ser professor, mas com a vivência na Universidade e com o Grupo de Teatro, mais as influências de Clarice Lispector, meus sentimentos se modificam e me levam para as Ciências Humanas.
Até aqui vivi em Araras, ia para São Paulo sempre que possível, conheci Londres e Paris, viajei para inúmeras cidades do interior de São Paulo e morava em Campinas há muitos anos, onde aprendi a viver sozinho, fazer comida, me cuidar e me descuidar. Em 1991 conheço Belo Horizonte e encontro um Grande Amor com quem vivi outras lindas histórias para narrar.
Me mudo para Belo Horizonte e descubro um novo mundo, novos sentimentos, meu encanto pelas Minas Gerais. Afirmei para uma amiga que o Amor não morre, mas os relacionamentos mudam... e assim foi, O Grande Amor ficou, mas nosso relacionamento degringolou.
Depois de sofrer a dose suficiente vou embora para São Paulo. Anos 90, histórias, histórias, muitas histórias, Massivo, Hell's, drogas, sexo e bass'n'drums. Anos intensos! O primeiro ácido caminhando pelo Elevado e o apartamento atemporal do Zafiro até o momento da Roleta Russa (leia esta história no blog).
Com tudo acontecendo, busca novas mudanças e tento ir embora para Cuiabá em busca de um novo amor mas acabo pedindo arrego em Araras. Meu pai havia morrido, minha vida e minha casa estavam deteriorando. Era um momento de reconstrução, mas depois do fôlego, um novo horizonte.
Minas definitivamente me enfeitiça. Fui passar uma semana de férias na casa de um amigo em Ouro Preto e acabei ficando por lá. Finalmente conquisto minha primeira graduação, em História. Novos amigos, novos mundos, amigos professores, professores amigos. Mais viagens e fortes emoções. Escalo o Pico da Bandeira durante a noite para ter o privilégio de ver nascer o sol de um lindo dia!
Terminada a graduação São Paulo me ilude e me traz de volta. Mas as expectativas são frustradas, uma apendicite dramática interrompe minhas pretensões. Perdas e mais perdas se sucedem.
A busca interior, sempre presente em minha vida, se torna mais preemente, já que as conquistas exteriores entram em estado de espera. Passo a estudar um pouco de Antroposofia e Filosofia.
A Antroposofia me leva ao estudo da minha biografia onde descubro que, depois de passar pela busca do meu lugar a partir dos 21 anos (Campinas), da conquista do meu lugar a partir dos 28 (Belo Horizonte) e da consolidação do meu lugar a partir dos 35 (Ouro Preto), entro, a partir dos 42 anos, na fase do autodesenvolvimento, da busca da verdade e realismo interior, o fazer o que é essencial.
Assim as perdas adquirem um significado diferente, Viktor Frankl aparece para me dizer que, quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando a circunstância não é favorável, devemos transformar a circunstância; e quando a circunstância não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos.
Enfim, um texto longo, uma vida intensa, não me esqueci de muita coisa, mas não cabe contar todas as história aqui, e este é um momento de comemoração. Aqui estamos, compartilhando minha história, não só memorando mas também memoriando juntos. E cito Ed René Kivitz para finalizar: a experiência depende da capacidade de transcender ao próprio eu ao buscar a unidade plural que formamos vivendo juntos.
Agradeço a Deus por tudo o que vivi, por todos que encontrei, e por tudo que viver hei!

3 comentários:

xxxx disse...

Lindo! E me orgulho de fazer parte dessa história. Te amo! bjs!

Bogado disse...

muito bom! Parabéns, pelo aniversário e pelo texto. Atrasado,diga-se de passagem...

Edwards Jr disse...

Muito bom querido...