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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Não espere pelo aniversário...

Em alguns dias completarei 45 anos de Vida. Estou no afamado inferno astral. Riso. Bem dizendo, venho em um processo infernal desde 2007.
Um estudo de minha biografia pelo viés da Antroposofia (ver “Tomar a Vida nas Próprias Mãos”, de Gudrun Burkhard) apresenta este momento como o de uma virada para dentro de mim, de um olhar mais introspectivo, de uma necessária ausência do mundo em virtude de uma busca do significado de minha presença no mundo. Talvez as sucessivas perdas sejam um sintoma deste processo para que meu foco e minha força estejam mais no que sou, no que vivo, do que naquilo que adquiri, incluindo no que adquiri todos os diplomas e livros.
Tenho pensado na comemoração de meus 45 anos já há algum tempo. Com certeza será uma comemoração memorável pelo simples fato de haver muito há ser lembrado. E como citamos o ser transcendente, não podemos ignorar as sincronias.


“Não espere pelo epitáfio...” é um livro que eu conhecia pela fama, mas nunca o havia lido. Seu autor é Mário Sergio Cortella, filósofo.

Foi um prazer imenso desvendar este livro neste momento. Para quem, como eu, está agarrado às inquietações sobre Deus, sobre Vida, sobre homens convivendo em pretensa harmonia, sobre ideais e realidades cruas, “Não espere pelo epitáfio...” traz os anjos que acalentaram Jesus depois da tentação.
É muito bom curtir estes momentos que complementam meus 45 anos com as frases e referências que Mário (me permitam chamá-lo pelo primeiro nome) nos brinda:
pg 16; Radicalidade é uma virtude, o vício está na superficialidade.
pg 20; O lado mais positivo disso tudo é a comemoração e o revigorar da esperança; comemorar significa “memorar junto”, lembrar com outros.
pg 24; de Mário Quintana: “Todos esses que aí estão / atravancando meu caminho, / eles passarão... / eu passarinho!”
pg 44; de Carlos Drummond de Andrade, expresso no poema Memória: “Pois as coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão.”
pg 49; do mineiro Ari Barroso; “creia, toda quimera se esfuma, como a brancura da espuma que se desmancha na areia...”
pg 55; de Pedro Nava; “Eu não tenho ódio; eu tenho é memória”.
pg 57; Nosotros!
Suspiro; palavra/ato que nunca me faltará; pelo mistério do simples. (pg 61)
E pelo livro adentro... lindo, mágico, resgata de dentro de nós o que de nós é humanamente mais belo.
Refocilar hei, Mário, refocilar hei! (pg 73)
E vou assim, virando cada página, vivendo cada dia, ocasionalmente escrevendo algumas palavras até o fina, pois “um sentimento pode ser superficial, mas não mentiroso (pg 154, de Koestler).
pg 158; Você corta um verso? Eu escrevo outro... Você me prende vivo? Eu escapo morto... De repente... olha eu de novo.

PS1: pg 116, de Rousseau; “quem cora já está culpado; a verdadeira inocência não tem vergonha de nada”.
PS2: pg 117, de Pasolini – “pecar não é praticar o mal; o verdadeiro pecado é não fazer o bem”.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

SEDA - Alessandro Baricco

39 (pg 73)
...
- Mas você não sabe por que Jean Berbek parou de falar? - perguntou-lhe.
- Essa é uma das muitas coisas que ele jamais disse.
Os anos tinham passado, mas ainda havia quadros pendurados nas paredes e panelas no escorredor, ao lado da pia. Aquilo não era nada alegre, e Baldabiou bem que gostaria de ir embora. Mas Hervé Joncour continuava a olhar fascinado para aquelas paredes bolorentas e mortas. era evidente: buscava algo, lá.
- Talvez seja porque a vida, às vezes, se apresenta de uma maneira tal que não há mais nada a dizer.
Disse.
- Mais nada, para sempre.
Baldabiou não era talhado para assuntos sérios. Fitava a cama de Jean Berbeck.
- Talvez qualquer um emudecesse, numa casa tão horripilante.
Hervé Joncour continuava a viver retirado, indo pouco à cidade, e passava o tempo trabalhando no projeto do parque que cedo ou tarde construiria. Enchia folhas e mais folhas com desenhos estranhos que pareciam máquinas. Uma noite Hèlene lhe perguntou
- O que são?
- Um viveiro.
- Um viveiro?
- Sim.
- E para que serve?
Hervé Joncour mantinha os olhos fixos nos desenhos.
- Você o enche de pássaros, tantos quanto puder, e depois, um dia em que lhe acontece alguma coisa boa, você o escancara, e os vê sair voando.
- o -
Em resumo, um livro mágico, como poucos, que nos remetem a universos para de apenas lê-los.
Existem capítulos de apenas uma frase que nos remetem a profundos diálogos.
Enfim, melhor que comentá-lo é lê-lo, mais uma vez. E isto é fácil, lê-se em poucas horas de imenso prazer!
Não perca esta oportunidade.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Inimigo no meu Quarto

de Yoram Yovell. Editora Record, 2008. Compre "O Inimigo dentro de mim" aqui!
Estamos ou continuamos em uma onda de livros cujo assunto é a psicanálise. O primeiro que li, há muitos anos atrás, foi o primeiro livro de Oliver Sacks publicado no Brasil: "Um Antropólogo em Marte". Oliver Sacks é um neurocirurgião e nos apresenta as histórias de seus pacientes; pessoas que tiveram algum tipo de lesão ou distúrbio no cérebro e cujas vidas foram imensamente afetadas por tais circunstâncias. Como neurocirurgião, o autor deste livro e de outros semelhantes apresenta como seus pacientes reagiram a um problema concreto e irreversível, como estes pacientes transformaram em diversidade algo que poderia ser encarado como limitação. Foi uma leitura muitressante e gostosa. Compre "Um Antropólogo em Marte" aqui! Recentemente tivemos outro best seller; Irvin D. Yalom, que entre inúmeros livros publicados vou destacar "Quando Nietzsche Chorou" e "A Cura de Schopenhauer". Infelizmente ainda não li nenhum livro deste autor mas, referenciado por Yoram Yovell e muitos leitores, sei que Yalom trabalha mais, e muito bem, no formato de romance. Ele romantiza a história do surgimento da Psicanálise tendo Freud como personagem no livro "Quando Nietzsche Chorou". Assim, enquanto Oliver Sacks é mais descritivo, narrando os casos com os quais teve contato, Yalom escreve romances baseados em sua experiência como psicanalista.
Mas tudo isto foi escrito para introduzir um novo nome: Yoram Yovell. Acabo de ler "O Inimigo no meu Quarto" e fiquei admirado. Além da narrativa emocionante Yoram é profundamente didático. Ele divide as narrativas em três aspectos: psicanálise (a palavra), psiquiatria (o medicamento) e neurociência (a biologia). Em cada caso descrito ele aborda a terapia utilizada, seu surgimento, desenvolvimento e resultados obtidos no caso em particular. É uma leitura para os leigos entenderem um pouco sobre o universo psicanalítico e para os estudiosos apreenderem experiências marcantes e esclarecedoras. Enfim, mais um livro para ficar na cabeceira da cama, e não na estante. A quem interesse, boa leitura!

Hermann Hesse

Pois é. Existe um grupo de pessoas que fala muito mal dos livros que Paulo Coelho escreve... eu concordo com este grupo! E eu não fiz como José Saramago. Eu li Paulo Coelho. Comecei com "O Alquimista", depois li "Diário de um Mago". Quando comecei a ler "Brida" fiquei em dúvida... será que o alquimista ou o mago teriam feito uma cirurgia de resignação sexual? A história se repetia, as frases apenas trocavam os adjetivos, as personagens apenas reencarnavam com outro nome, para viver o mesmo processo... Houve um dia em que eu estava conversando com um novo amigo e ele dizia algumas frases de efeito, me pareciam conhecidas... arrisquei: - É Paulo Coelho? Ele ficou feliz e animadamente me perguntou: - Você também gosta de Paulo Coelho? Suspiro. A decepção foi mutua, mas a amizade continuou! Eu nunca havia falado mal do Paulo Coelho, respeitava sua "penetração" no mercado, afinal, muitas pessoas estavam lendo seus livros. Eu havia lido "Sidarta" muito tempo antes do mago aparecer, até que li uma entrevista com Paulo Coelho nas páginas amarelas da revista Veja. Quando? Nem lembro. Faz tempo. Pois Paulo Coelho teve a petulância dizer, sobre "Sidarta", que uma história que termina com um homem olhando para um rio não lhe diz nada... Paulo Coelho deve ter lido "Sidarta" no Reader´s Digest. Me desculpem os leitores de Paulo Coelho espalhados pelo mundo, mas ele tem muito o que aprender com Hermann Hesse.
Bem, Hermann Hesse. O que eu li? "Lobo da Estepe", livro referência para jovens na década de 1960, "Demian", "Gertrud", "Knulp" (meu preferido), "Narciso e Goldmund" e o último escrito por ele, "O Jogo das Contas de Vidro". Todos dignos de permanecerem na cabeceira da cama ou correrem mundo na mão dos amigos! É uma injustiça manter um livro do Hermann Hesse na prateleira, distante de olhos e mentes humanas. Mas não precisamos comparar Paulo Coelho com o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1946, podemos simplesmente compará-lo a Alberto Vasquez-Figueroa, autor de "Tuareg", onde qualquer semelhança com, por exemplo, "Diário de um Mago", também será mera influência positiva.