sábado, 21 de julho de 2012

Belém, conhecendo a cidade

Igreja de Santana
     Noite bem dormida em uma cama gostosa. Café da manhã. Pés no chão para conhecer a cidade de Belém do Pará. Como o Robson já me havia dito, muitas igrejas. Não sei o porquê, mas as igrejas me atraem. Obviamente, pelo tamanho da cidade, não existem tantas igrejas quanto em Ouro Preto, mas no centro da cidade, é difícil não cruzar com algumas durante uma caminhada.
Altar da Igreja de Santana















     E caminhando pela cidade, a natureza, sempre dominando.








     Vejam esta garça, imponente, fazendo pose para a foto, nem se importando com o caos urbano que a cerca.

  




Catedral Metropolitana
     A Catedral Metropolitana, de onde sai o Círio de Nazaré. A Igreja mais suntuosa, por fora, por dentro. Em seu interior um imenso orgão de tubos. Infelizmente as celebrações ao som do orgão acontecem apenas nos finais de semana.





Detalhe do altar

Orgão de Tubos da Catedral Metropolitana


     A Igreja do Carmo.

Igreja do Carmo

Altar da Igreja do Carmo

     Aqui, uma imagem desnecessária? Quantas pessoas são necessária para acumular tanto lixo neste lugar? Seriam estas mesmas pessoas capazes de se unirem para deixarem Belém uma cidade ainda mais bonita? Acho que não... aliás, estas pessoas nem devem ser capazes de ver a beleza desta cidade.


     O lugar imperdível. Se não se conhecer o Ver o Peso, você não pode dizer que conhece Belém. Começando pelas barracas de poções, perfumes e ervas. Na foto a Dna Meire. Entre os perfumes, em pequenos vidros coloridos, o de "Amanssar corno", o que "Amarra homem" ou "Amarra mulher", de acordo com a preferência, entre dezenas de outros.


     No Ver o Peso encontramos barracas de todos os tipos de produtos; roupas, cereais, legumes e verduras, comidas. Foi aqui que encontrei um nativo vendendo uma muda de Glogue, ou Lírio da Amazônia, e descobri o nome desta planta, linda e facilmente encontrada em todos os cantos da região.
     O melhor mesmo, para mim, e pela fome, foram as bancas de comidas na beira do rio. Almocei aqui nos dois dias, um delicioso prato com Dourado, por apenas R$ 8.


     Depois do almoço um passeio pela nova Estação das Docas. Um belíssimo projeto de revitalização da região do porto. Lá dentro encontramos lojas, restaurantes, uma cervejaria que fabrica a cerveja no próprio local, com o maquinário à mostra, o delicioso sorvete da Cairu. É quase um Ver o Peso, mais caro e sofisticado, sem a força e graça do mercado popular que fica ao seu lado.


     Saindo da Estação das Docas, subindo a Avenida Presidente Getúlio Vargas, à esquerda, um dos prédios da administração das Docas, mais um exemplo lindo da arquitetura em Belém. Na praça em frente, uma combinação de casas típicas da cidade, muito bem conservadas, duas com a frente toda azulejada. Uma lindeza.

     Depois de um descanso no hotel para fugir do calor causticante mais uma caminhada e sou surpreendido por uma chuva torrencial, outra situação típica da região. A chuva forte não dura mais do que meia hora, e logo depois tudo volta ao normal. Enquanto se espera a chuva uma boa opção é admirar os detalhes da arquitetura da cidade. Fico cada vez mais deslumbrado.




     Caminhei até a Igreja do Carmo onde haverá um show do Festival Cultura de Verão http://festivalculturadeverao.com.br/. Aproveitei para comer um delicioso caldo de caranguejo que estava sendo vendido por devotas na entrada da igreja. Antes do show, uma procissão em volta da Praça do Carmo. Pacote completo para um turista como eu.

     Nesta noite, no palco, uma dupla de violeiros: Bob Freitas e Nego Nelson. Depois deste show que fui até a cervejaria da Estação das Docas experimentar uma River para encerrar a noite.



Belém do Pa'rá

     Ainda no rio, com Belém ao longe... parece que este trecho na viagem nunca termina... para distrair, na margem, duas chaminés com jardins suspensos... curiosidades desta natureza exuberante!

     Finalmente, Belém. Uma cidade que já se mostra maior, diversos edifícios altos, típicos de uma cidade "grande", bem diferente de Manaus e Santarém.





     Até para sair do navio, um tormento... mais de oitocentas pessoas tendo apenas um pequeno corredor para sair, geralmente carregando malas, mochilas, sacolas... 

     Entre as diversas pessoas que conheci durante a viagem estava o Robson, estudante de Letras na UFPa, que me serviu de guia para os primeiros momentos em Belém. Por bobeira não peguei nenhum contato dele na cidade para outro encontro ou mantermos contato.

     Suspiro. Finalmente fora do navio. Uma pequena caminhada até o hotel que já havia sido pesquisado pela internet, estrategicamente localizado próximo aos lugares que eu queria conhecer.
     Liberado da mochila, banho para revigorar o ânimo, comecei meu reconhecimento da cidade. Na Praça da República, o Teatro da Paz e uma feira de artesanato e comidas. Só para manter o costume, tomei suco de Taperebá mais uma vez.
     












     Seguindo a caminhada, peguei a Avenida Nazaré para conhecer o Colégio e a Basília, pontos referenciais para o Círio de Nazaré.


     Reconhecidos os lugares mais típicos e próximos, procurei um restaurante para saciar a fome e voltei para o hotel. Com o calor intenso é sempre bom um pouco de descanso no início da tarde.
     À noite sai a procura de alguma farra, mas infelizmente a cidade estava completamente vazia. Como não era meu intuito ir até muito longe do hotel, acabei estreando o Bar do Parque. Confesso que bebi. Uma longa jornada noite adentro, conhecendo outros notívagos da cidade.

Santarém - Belém

     Triste por sair de Alter do Chão, lá estava eu, de volta ao rio, prestes a embarcar no NM Amazon Star. Este foi o pior trecho da viagem. Talvez por sentir ter que deixar Alter do Chão, mais o cansaço já esperado dos dias de barco e rede. Mas as condições deste navio também não ajudaram em nada. Apesar de toda propaganda sobre ele, suas condições são precárias, tão precárias quanto qualquer outro navio, com a diferença que em seu caso, existem mais de 800 pessoas convivendo no mesmo lugar, nas mesas condições, por dias seguidos. Com o tamanho, mais potente é o motor e portanto, maior o barulho. Imagine o ronco deste motor durante a madrugada... Para piorar, com seu tamanho maior, maior é a capacidade de carga, o que tornava as paradas em cidades mais demoradas (2 a 3 horas), pois maior era o volume de cargas para carregar e descarregar. Enfim, um conjunto de fatores que só pioraram as condições da viagem. Enfim, um problema sem solução, resolvido está. Vamos então falar dos fatores "positivos" da viagem, para compensar os negativos.

     A paisagem, como sempre, é belíssima. A grandeza do rio. A força e beleza da natureza, com suas chuvas, ventos e cores.

      Nas margens, as moradias, conjuntos de pequenas palafitas, alguns pequenos descampados para se jogar futebol. Nenhuma fonte de eletricidade. Apenas o rio, a floresta e seus elementos.













     Também era comum cruzar outros barcos, tanto navios com passageiros que podem ser NM, navio motor, de ferro, ou BM, barco motor, de madeira, ou ainda os FB, ferry boats para transporte de cargas. 



     E sempre o rio, seus afluentes, seus canais. Um labirinto por onde o navio ia se perdendo. 
















     E também as pessoas. É impossível uma viagem como esta sem algum contato com os demais passageiros, a troca de histórias, informações, vidas, curiosidades. Como passava uma boa parte da viagem escrevendo, fui abordado pela Raisy e passei por um longo interrogatório, e até ganhei um poema que ela escreveu em meu caderno de anotações. O mais estranho nestas abordagens era a decepção quando descobriam que eu não era um estrangeiro, mas apenas um caipira do interior de São Paulo. Até mesmo em uma abordagem da Polícia Federal para vistoriar as bagagens, um dos policiais já me abordou com um - Estrangeiro?, seguido de uma risada quando respondi: - Não, caipira, do interior de São Paulo.
     Interessante também foi quando alguns pequenos barcos pegavam "carona" no navio. O navio era literalmente "pescado" com um gancho e depois o barco era amarrado na lateral. Do pequeno barco subiam vendedores de frutas, de camarão ou de polpa de açaí. Havia ainda um pequeno barco ocupado por crianças, que também pegou carona no navio, mas neste caso, para pedir esmolas aos passageiros. Até mesmo no meio da floresta existem os pedintes... 


     Na madrugada do último dia, a última parada do navio. Breves. Uma cidadezinha agradável, apenas incomodou a longa espera de quase 3 horas para descarregar mercadorias. Ainda mais quando se sabe que o destino está bem próximo.



     Chegamos então ao último dia de viagem. O dia nascendo, lua e estrelas se esvanecendo no céu. O rio mar imenso. O sol colorindo o horizonte com seus raios.


Alter do Chão! O ápice da viagem!

     Uma parada que não estava programada, mas se tornou a descoberta mais marcante da viagem.
     Alter do Chão é chamada de "O Caribe brasileiro"... desdenho deste rótulo, ou de qualquer outro. Alter do Chão não precisa de rótulos. Alter do Chão é bela e maravilhosamente Alter do Chão. Nasceu em mim um desejo intenso de querer morar neste lugar, de envelhecer neste lugar, de morrer e deixar meu corpo integrar este lugar. É muito difícil descrever este sentimento...
     A viagem de ônibus foi bizarra. Não é apenas em São Paulo que os ônibus andam lotados. Aqui também. A diferença é a paisagem, a pequena estrada no meio da floresta, e o som alto, tocado músicas dor-de-cotovelo: "está em suas mãos a chave que eu perdi"; "para você o meu amor era um cheque nominal"; "às vezes a gente se entrega demais e se esquece de ouvir a razão"; acordo com frio e penso em ouvir sua voz ... faço amor com você em meu pensamento ... saio pra rua e só volto depois que amanhece"; perdi o endereço da felicidade"; e a mais imponente, "cadê você, cadê você, você passou, o que era doce e o que não era se acabou, cadê você, cadê você, você passou, no videogame da solidão a história acabou"; ou a melhor de todas, "faz 14 anos que a gente namora, agora ela encasquetou que quer se casar". Será que alguém entendeu porque eu estava rindo tanto?
     Chegando na cidade, não demorei muito em escolher um lugar para me hospedar. Ao me aproximar de Alter do Chão eu já sabia que este lugar seria mágico para mim. Não existe explicação para estas situações. É como um amor à primeira vista. Você não sabe o porquê, mas você ama intensamente, sem ao menos conhecer o sujeito amado. Assim foi com Alter do Chão. Acomodei rapidamente minha mochila na primeira pousada que encontrei e sai andando sem rumo.
     A cada respiração um prazer. A paisagem. As casas. A igreja. A escola. As ruas. As praias. O cemitério. As plantas. Para qualquer lado que eu olhava eu sentia algum impacto, como se eu estivesse a nascer naquele instante. Não me cansava de caminhar e já queria ficar mais tempo nesta cidade... mas a passagem para Belém já estava comprada para o dia seguinte. Portanto, teria que aproveitar neste momento ao máximo. E assim fiz.











     A Igreja de Nossa Senhora da Saúde. Simples e bela. A mesa do altar em madeira tendo como suporte duas mãos. No alto, um barrado que mostra a estrutura antiga da igreja. Uma ótima ideia para garantir a restauração e manter uma visão do passado.



     A escola também é um monumento digno de registro. Janelões abertos para a rua, garrafas pet cercando pequenos canteiros com plantas. Placas com dizeres significativos como "Seja bem-vindo, a escola é nossa" e "Mina escola, minha história".











     Outra curiosidade é uma pequena árvore de flores de um branco intenso. Esta árvore está espalhada por diversos lugares aqui na região Norte, é uma árvore muito bonita e ficou para mim como um símbolo da região. Mas ao perguntar o nome desta planta às pessoas, ninguém soube me dar a resposta. Fazem observações do tipo "pega fácil". De fato, um senhor em Alter do Chão me ofereceu um galho desta planta, me informou que era só eu colocar no chão, aguar e a planta criaria raízes e floresceria. Foi como me senti em Alter do Chão, bastou eu fincar meu pé por lá que já quis criar raízes. O nome desta planta eu só fui descobrir em Belém, no Ver o Peso. Um nativo que tem uma banca de plantas, tinha entre elas uma muda desta. Finalmente um nome: Glogue, ou Lírio do Amazonas.


     Descobri também na caminhada que nos dias 13, 14 e 15 de julho irá acontecer o Festival do Borari.  É uma festa que retrata a origem dos índios Borari, os primeiros habitantes desta vila; http://notapajos.globo.com/lernoticias.asp?id=50328&noticia=XVIII%20Festival%20Borari%20ser%C3%A1%20nesta%20sexta-feira. Mais um motivo para aumentar minha tristeza em partir no dia seguinte.
     Voltei à pousada para colocar minha sunga e aproveitar as praias para nadar. Nadar no meio de árvores.  Caminhar pela água rodeado por peixes. Me aproximar de outras pessoas e crianças brincando neste rio com uma alegria deliciosa, sem gritos histéricos, mas com uma alegria forte, fonte e reflexo do prazer de estar ali.
     Passadas algumas horas a fome apertou. Voltei à pousada, tomei um banho, troquei de roupa e fui até a praça central comer um Pacú na brasa no restaurante. Depois do almoço descansei um pouco, mas a vida urgia. Coloquei a sunga novamente e voltei para a praia, aluguei um caiaque e sai remando pelas proximidades, atravessei o rio, fiz um passeio entre as cabanas que ainda estavam alagadas nesta época, parei em vários lugares da ilha e voltei a nadar, a passear entre os peixes, a degustar cada instante deste paraíso.
     Voltando para a praia, devolvi o caiaque e me sentei em uma das mesas onde o som era agradabilíssimo: samba de excelente qualidade, Pink Floyd, Sting, Garfunkel... enfim, uma trilha sonora rara de se ouvir nos dias atuais. Nesta mesa de bar acompanhei o por de sol até o céu ficar estrelinhoso.
     Depois de algumas cervejas e uma caipirinha deliciosa, o dinheiro chegou ao fim... voltei até a pousada, tomei outro banho, troquei os trajes, voltei ao restaurante. Saciada as necessidades básicas sai para a última caminhada por este paraíso.

     Para encerrar esta deliciosa estadia, havia um grupo de Carimbó tocando em uma "pizzaria" na praça. Aproveitei para tomar mais uma cerveja e apreciar o acontecimento. Cansado e satisfeito, me recolhi.
   


     No dia seguinte não queria nem mesmo me despedir. Iria tomar o café da manhã na pousada e pegar o ônibus de volta a Santarém para embarcar para Belém.