sábado, 21 de julho de 2012

Alter do Chão! O ápice da viagem!

     Uma parada que não estava programada, mas se tornou a descoberta mais marcante da viagem.
     Alter do Chão é chamada de "O Caribe brasileiro"... desdenho deste rótulo, ou de qualquer outro. Alter do Chão não precisa de rótulos. Alter do Chão é bela e maravilhosamente Alter do Chão. Nasceu em mim um desejo intenso de querer morar neste lugar, de envelhecer neste lugar, de morrer e deixar meu corpo integrar este lugar. É muito difícil descrever este sentimento...
     A viagem de ônibus foi bizarra. Não é apenas em São Paulo que os ônibus andam lotados. Aqui também. A diferença é a paisagem, a pequena estrada no meio da floresta, e o som alto, tocado músicas dor-de-cotovelo: "está em suas mãos a chave que eu perdi"; "para você o meu amor era um cheque nominal"; "às vezes a gente se entrega demais e se esquece de ouvir a razão"; acordo com frio e penso em ouvir sua voz ... faço amor com você em meu pensamento ... saio pra rua e só volto depois que amanhece"; perdi o endereço da felicidade"; e a mais imponente, "cadê você, cadê você, você passou, o que era doce e o que não era se acabou, cadê você, cadê você, você passou, no videogame da solidão a história acabou"; ou a melhor de todas, "faz 14 anos que a gente namora, agora ela encasquetou que quer se casar". Será que alguém entendeu porque eu estava rindo tanto?
     Chegando na cidade, não demorei muito em escolher um lugar para me hospedar. Ao me aproximar de Alter do Chão eu já sabia que este lugar seria mágico para mim. Não existe explicação para estas situações. É como um amor à primeira vista. Você não sabe o porquê, mas você ama intensamente, sem ao menos conhecer o sujeito amado. Assim foi com Alter do Chão. Acomodei rapidamente minha mochila na primeira pousada que encontrei e sai andando sem rumo.
     A cada respiração um prazer. A paisagem. As casas. A igreja. A escola. As ruas. As praias. O cemitério. As plantas. Para qualquer lado que eu olhava eu sentia algum impacto, como se eu estivesse a nascer naquele instante. Não me cansava de caminhar e já queria ficar mais tempo nesta cidade... mas a passagem para Belém já estava comprada para o dia seguinte. Portanto, teria que aproveitar neste momento ao máximo. E assim fiz.











     A Igreja de Nossa Senhora da Saúde. Simples e bela. A mesa do altar em madeira tendo como suporte duas mãos. No alto, um barrado que mostra a estrutura antiga da igreja. Uma ótima ideia para garantir a restauração e manter uma visão do passado.



     A escola também é um monumento digno de registro. Janelões abertos para a rua, garrafas pet cercando pequenos canteiros com plantas. Placas com dizeres significativos como "Seja bem-vindo, a escola é nossa" e "Mina escola, minha história".











     Outra curiosidade é uma pequena árvore de flores de um branco intenso. Esta árvore está espalhada por diversos lugares aqui na região Norte, é uma árvore muito bonita e ficou para mim como um símbolo da região. Mas ao perguntar o nome desta planta às pessoas, ninguém soube me dar a resposta. Fazem observações do tipo "pega fácil". De fato, um senhor em Alter do Chão me ofereceu um galho desta planta, me informou que era só eu colocar no chão, aguar e a planta criaria raízes e floresceria. Foi como me senti em Alter do Chão, bastou eu fincar meu pé por lá que já quis criar raízes. O nome desta planta eu só fui descobrir em Belém, no Ver o Peso. Um nativo que tem uma banca de plantas, tinha entre elas uma muda desta. Finalmente um nome: Glogue, ou Lírio do Amazonas.


     Descobri também na caminhada que nos dias 13, 14 e 15 de julho irá acontecer o Festival do Borari.  É uma festa que retrata a origem dos índios Borari, os primeiros habitantes desta vila; http://notapajos.globo.com/lernoticias.asp?id=50328&noticia=XVIII%20Festival%20Borari%20ser%C3%A1%20nesta%20sexta-feira. Mais um motivo para aumentar minha tristeza em partir no dia seguinte.
     Voltei à pousada para colocar minha sunga e aproveitar as praias para nadar. Nadar no meio de árvores.  Caminhar pela água rodeado por peixes. Me aproximar de outras pessoas e crianças brincando neste rio com uma alegria deliciosa, sem gritos histéricos, mas com uma alegria forte, fonte e reflexo do prazer de estar ali.
     Passadas algumas horas a fome apertou. Voltei à pousada, tomei um banho, troquei de roupa e fui até a praça central comer um Pacú na brasa no restaurante. Depois do almoço descansei um pouco, mas a vida urgia. Coloquei a sunga novamente e voltei para a praia, aluguei um caiaque e sai remando pelas proximidades, atravessei o rio, fiz um passeio entre as cabanas que ainda estavam alagadas nesta época, parei em vários lugares da ilha e voltei a nadar, a passear entre os peixes, a degustar cada instante deste paraíso.
     Voltando para a praia, devolvi o caiaque e me sentei em uma das mesas onde o som era agradabilíssimo: samba de excelente qualidade, Pink Floyd, Sting, Garfunkel... enfim, uma trilha sonora rara de se ouvir nos dias atuais. Nesta mesa de bar acompanhei o por de sol até o céu ficar estrelinhoso.
     Depois de algumas cervejas e uma caipirinha deliciosa, o dinheiro chegou ao fim... voltei até a pousada, tomei outro banho, troquei os trajes, voltei ao restaurante. Saciada as necessidades básicas sai para a última caminhada por este paraíso.

     Para encerrar esta deliciosa estadia, havia um grupo de Carimbó tocando em uma "pizzaria" na praça. Aproveitei para tomar mais uma cerveja e apreciar o acontecimento. Cansado e satisfeito, me recolhi.
   


     No dia seguinte não queria nem mesmo me despedir. Iria tomar o café da manhã na pousada e pegar o ônibus de volta a Santarém para embarcar para Belém.

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