Neste período, desenvolvi diversos resumos e mapas mentais para auxiliar minhas aulas, nunca prontos, sempre em aprimoramento:
Meto-me dentro de mim mesmo e acho aí um mundo! (Goethe in Os sofrimentos do jovem Werther)
terça-feira, 2 de abril de 2019
Projeto de HistóriaS
Obtive minha formação em História pela Universidade Federal de Ouro Preto em 2003 (Bacharelado e Licenciatura) e iniciei minha carreira como Professor na Rede Municipal de Ensino de São Paulo em 2010.
Neste período, desenvolvi diversos resumos e mapas mentais para auxiliar minhas aulas, nunca prontos, sempre em aprimoramento:
Neste período, desenvolvi diversos resumos e mapas mentais para auxiliar minhas aulas, nunca prontos, sempre em aprimoramento:
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
Independência ou dívida?
O
Brasil de fato conquistou a sua Independência pagando milhões de
libras esterlinas a Portugal numa negociação mediada pelo
Excelentíssimo Cavaleiro de Sua Majestade Britânica Sir Charles
Stuard, Grão Cruz da Ordem da Torre e Espada, em 1825.
O
Brasil comprou a sua Independência. O tratado que oficializou o ato,
chamado de reconhecimento, foi publicado em vários jornais
brasileiros, inclusive em Salvador. O Correio
da Bahia
publicou a íntegra do documento, em setembro de 1825; não fala em
valores e para isso usa do eufemismo “aceitando a mediação de sua
majestade britânica para o ajuste de toda a questão incidente à
separação dos dois estados”. A “questão incidente” era de 2
milhões de libras esterlinas, valor pago a título de indenização.
Pelo
tratado publicado no jornal baiano, em setembro de 1825, Portugal
reconhece o Brasil como país independente e “promete não aceitar
proposições de quaisquer colônias portuguesas para se reunirem ao
Império do Brasil”. O dinheiro foi tomado de empréstimo nos
bancos ingleses, mas não chegou na íntegra dos valores conveniados
aos cofres de Portugal. A operação bancária passou por Londres que
reteve 1,4 milhões de libras esterlinas, a título de pagamento da
dívida externa de Portugal para com os britânicos. Está explicado
o interesse dos britânicos em mediar o tratado.
Em 7
de setembro, D. Pedro proclamou a famosa frase: Independência
ou Morte.
Esse mote foi um impulso para a multiplicação de hinos,
representações e sentimento de amor à pátria. Porém, nesse
momento ainda não se tinha com precisão a data da independência.
Em junho havia tido a convocação da Assembleia
Constituinte
para o Reino do Brasil, em outubro se deu a aclamação
de D. Pedro I
no Rio de Janeiro e somente em dezembro é que ele foi oficialmente
coroado.
Assim, a firmação do 7
de setembro
como data oficial da Independência foi mais uma conveniência
simbólica
do processo todo.
sábado, 16 de junho de 2018
DA NECESSIDADE DE ESTUDAR HISTÓRIA
"... o estudo da história visa acima de tudo nos tornar cientes de possibilidades que talvez não levássemos em consideração. Historiadores estudam o passado não para poder repeti-lo, e sim para poder se libertar dele.
Cada um de nós e todos nós nascemos numa determinada realidade histórica, governada por normas e valores específicos e conduzida por um sistema econômico ímpar. Vemos essa realidade como fato consumado e a achamos natural, inevitável e imutável. Esquecemos que nosso mundo foi criado numa cadeia de eventos acidental e que a história configurou não apenas a tecnologia, a política e a sociedade, mas também nossos pensamentos, temores e sonhos. A mão fria do passado emerge na direção de um único futuro. Sentimos essa constrição desde o momento em que nascemos, e assim presumimos que ela é parte natural e inescapável do que somos. Portanto, raramente tentamos nos livrar dela para antever futuros alternativos.
O ESTUDO DA HISTÓRIA TEM O OBJETIVO DE NOS LIVRAR DESSA SUBMISSÃO AO PASSADO. ELE NOS PERMITE VOLTAR A CABEÇA PARA MAIS DE UMA DIREÇÃO E COMEÇAR A PERCEBER POSSIBILIDADES INIMAGINÁVEIS PARA NOSSOS ANTEPASSADOS. AO OBSERVAR A CADEIA ACIDENTAL DE EVENTOS QUE NOS TROUXE ATÉ AQUI, NOS DAMOS CONTA DE COMO NOSSOS PENSAMENTOS E SONHOS GANHARAM FORMA - E PODEMOS COMEÇAR A PENSAR E SONHAR DE MODO DIFERENTE. O ESTUDO DA HISTÓRIA NÃO DIRÁ QUAL DEVE SER NOSSA ESCOLHA, MAS AO MENOS NOS DARÁ MAIS OPÇÕES."
(HOMO DEUS, de Yuval Noah Harari, p 67)
domingo, 21 de agosto de 2016
O início de uma nova ditadura no Brasil (?)
Há algum tempo estou postando e comentando que está em curso um novo
golpe semelhante e duradouro ao que iniciou-se em 1964. É uma frase
simples e que provoca reflexão. Mas será verdadeira? Não estou
recorrendo à mesma estratégia da mídia manipuladora e dos
defensores acéfalos da elite medíocre e reacionária existente
em nosso país? Ou seja, não estou usando uma falácia poderosa para
convencer leitores menos aparelhados conceitualmente? Existe
realmente consistência crítica em minha afirmação?
Bem, como professor e estudioso de História, não posso me dar ao luxo de
garantir minha afirmação apenas baseado em minha pressuposta
experiência acadêmica e profissional. Portanto, me dispus a deixar
a preguiça de lado e comecei a ler a obra de Elio Gaspari sobre a
Ditadura Militar (seus quatro livros publicados até agora, A
Ditadura Envergonhada, A Ditadura Escancarada, A Ditadura Derrotada e a Ditadura Encurralada).
Comprei estes livros na época em que trabalhava na extinta Livraria Cultura
e tinha o privilégio de adquirir mais livros do que era capaz de ler
pois, sim, a leitura crítica exige esforço, o estudo sério exige
esforço intelectual. E vem daí a crítica aos comentaristas e
críticos sem consistência, sem formação e sem conteúdo. Repetir
frases feitas é fácil. Decorar versículos bíblicos e usá-los
como verdades absolutas é ainda mais fácil. Entender e compreender exige dedicação,
exige tempo, exige esforço.
Para minha satisfação, logo no primeiro volume, A
Ditadura Envergonhada – as ilusões armadas,
Elio Gaspari faz uma “Introdução” à sua extensa obra onde já se evidencia muito do que estou afirmando.
Não. Minha tarefa não se reduzirá à leitura de um único capítulo. Vou ler a obra toda. Se encontrar paradoxos ou
antagonismos, estou pronto a enfrentá-los, sem medo, sem preguiça.
Mas nesta pequena introdução (são apenas 20 páginas), Elio Gaspari destaca exatamente o aspecto de que comandar
uma ação não implica que o resultado esteja sob seu comando. Existir uma boa intenção ao se defender uma ideia não implica que
a realização desta ideia produza os efeitos esperados.
Assim, podemos aprender com um erro, ou repeti-lo até a morte. E o erro não
está apenas no grupo de pobres empregados que defendem a riqueza de
seus patrões. O erro está também em uma proposta de partido que se utiliza de concessões como
forma de barganha do poder para efetivar seus projetos. Junto a
forças maiores estão os interesses mesquinhos. No tabuleiro de
xadrez movimentam-se peões e rainhas, peças brancas e peças
pretas. E no tabuleiro da vida a diversidade das peças é tão
imensa quanto o número de pessoas que dela participam.
A diferença está basicamente na instituição utilizada para efetivar
o golpe nas diferentes épocas. Se em 1964 foi utilizado o poder
militar para garantir o golpe, nos dias atuais está sendo utilizado
o poder jurídico.
Enfim, não posso reproduzir aqui todas as vinte páginas da introdução da
obra, mas recortei alguns trechos que destacam a minha ideia. Se
alguém dispuser de tempo e disposição, poderá ler o capítulo
todo, até mesmo a obra toda, porque não?
(21) INTRODUÇÃO
...
(22) - Frota, nós não estamos mais nos entendendo. A sua administração no ministério não está seguindo o que combinamos. Além disso você é candidato a presidente e está em campanha. Eu não acho isso certo. Por isso preciso que você peça demissão.
(22) - Frota, nós não estamos mais nos entendendo. A sua administração no ministério não está seguindo o que combinamos. Além disso você é candidato a presidente e está em campanha. Eu não acho isso certo. Por isso preciso que você peça demissão.
- Eu não peço demissão – respondeu Frota.
- Bem, então vou demiti-lo. O cargo de ministro é meu, e não deposito
mais em você a confiança necessária para mantê-lo. Se você não
vai pedir demissão, vou exonerá-lo.
...
(33) No início da noite do dia 12 o presidente empossou o novo ministro
no palácio do Planalto, diante das principais autoridades do país.
Nessa cerimônia deu-se um rápido episódio. Durou apenas alguns
segundos, e, afora as pessoas nele envolvidas, ninguém o percebeu.
Logo que Bethlem assinou o termo de posse, o presidente da Câmara
dos Deputados, Marco Maciel, moveu-se na direção do general.
Geisel, que estava ao seu lado, supôs que o jovem deputado fosse
cumprimentar o ministro. Congelou a cena chamando Bethlem: “Ministro,
quero apresentá-lo ao presidente da Câmara”. Passaram-se anos sem
que Maciel desse importância ou buscasse explicação para a cena.
Para Geisel, tudo fora muito simples: “Não é o presidente da
Câmara quem se apresenta ao ministro (34) do Exército, mas o
ministro do Exército, um colaborador do presidente, que deve ser
apresentado ao presidente da Câmara”.
...
No dia 12 de outubro de 1977, com a demissão de Frota, dissolveu-se a
mais perversa das anomalias introduzidas pela ditadura na vida
política (35) brasileira, restabelecendo-se a autoridade
constitucional do presidente da República sobre as Forças Armadas.
Encerrou-se o ciclo aberto em 1964, no qual a figura do chefe do
governo se confundia com a de representante da vontade militar,
tornando-se ora seu delegado ora seu prisioneiro. A maioria dos
instrumentos jurídicos do regime ditatorial sobreviveria ainda por
alguns anos, mas a recuperação do poder republicano do presidente
significou a disponibilidade do caminho da redemocratização.
Paradoxalmente, essa restauração partiu não só de um presidente
militar, mas do mais marcial dos generais que ocuparam a Presidência.
Geisel restabeleceu o primado da Presidência por meio de uma crise
militar da qual manteve afastados os políticos, a imprensa e a
opinião pública. Podem-se contar nos dedos de uma só mão os civis
que tiveram algum tipo de relevo na jornada de 12 de outubro e 1977.
Nesse paradoxo, contudo, não está mais uma das charadas da vida
política do país, e sim a solução do enigma que acompanha tanto
os mecanismos pelos quais os militarem tomam o poder como aqueles
pelos quais o deixam.
...
Desde 1968, quando através da vigência do Ato Institucional nº 5 o
Brasil entrara no mais longo período ditatorial de sua história,
dois presidentes prometeram restaurar as franquias democráticas.
Geisel, o único a não fazer essa promessa, acabou com a ditadura.
Entre 1974, ao assumir o governo, e 1979, ao deixá-lo, transformou
uma Presidência inerte, entregue a um colegiado de superministros,
num governo imperial. Converteu uma ditadura amorfa, sujeita a
períodos de anarquia militar, num regime de poder pessoal, e quando
consolidou esse poder – ao longo de um processo que culmina no dia
12 de outubro de 1977 – desmantelou o regime. Quando assumiu, havia
uma ditadura sem ditador. No fim de seu governo, havia um ditador sem
ditadura. No dia 31 de dezembro de 1978, 74 dias antes da conclusão
de seu mandato, acabou-se o Ato Institucional (36) nº 5, o
instrumento jurídico que vigorava por dez anos, por meio do qual o
presidente podia fechar o Congresso, cassar mandatos parlamentares e
governar por decretos uma sociedade onde não havia direito a habeas
corpus em casos de crimes contra a segurança nacional. Antes,
acabara com a censura à imprensa e com a tortura de presos
políticos, pilares dor regime desde 1968.
O objetivo desta obra é contar por que e como Geisel e Golbery, dois
militares que estiveram na origem da conspiração de 1964 e no
centro do primeiro governo constituído após sua vitória,
retornaram ao poder dez anos depois, com o propósito de desmontar a
ditadura. Geisel era um moralista, defensor convicto de um Executivo
forte, adversário do sufrágio universal como forma de escolha de
governantes e crítico acerbo do Parlamento como instituição
eficaz. Golbery, que em 1956 – em pleno governo constitucional –
pedia a criação de um Serviço Nacional de Informações, fundou-o
em 64 e dirigiu-o até 67. Conviveu com ele a partir de 1974, ajudou
a transformar o seu chefe, general João Baptista Figueiredo, em
presidente da República e, em 81, chamou sua criatura de “monstro”.
Deixou o governo amaldiçoando o que se denominava Comunidade de
Informações: “Vocês pensam que vão controlar o país cometendo
crimes e encobrindo seus autores, mas estão muito enganados. Vão
ser postos daqui para fora, com um pé na bunda”, disse Golbery ao
general Octavio Aguiar de Medeiros, chefe do SNI, no dia em que saiu
do palácio do Planalto, em agosto de 1981.
...
(37) O Sacerdote e o Feiticeiro acreditavam no Brasil e nele mandaram como poucas pessoas o fizeram.
Suas trajetórias ensinam como é fácil chegar a uma ditadura e como
é difícil sair dela.
(38) … No poder, os generais raramente contam as maquinações políticas
de que participam. …
O mais caudaloso dos generais que tomaram o poder no século XX,
Charles de Gaulle, escreveu cinco volumes de memórias… Quando se
trata de procurar os mecanismos políticos a que recorreu para
desmontar a associação dos militares com a extrema direita, a
repressão política e o colonialismo na Argélia, tudo somado não
junta dez páginas.
É possível arriscar uma explicação para esse fenômeno. Os militares
procuram preservar a própria mística segundo a qual, em quase todos
os idiomas, as Forças Armadas, por suas virtudes, colocam-se acima
dos partidos e da política civis. …
Se há uma grande diferença entre a política dos civis e a dos
militares, ela está no fato de que esta envolve uma corporação
burocrática fechada que precisa acima de tudo preservar alguma forma
de coesão. … (39) Prefeitos e médicos podem brigar abertamente.
Ambos podem mudar de partido, de hospital e, até mesmo, deixar a
política ou a medicina. Os militares não podem fazer isso com a
mesma facilidade, pois um capitão-de-fragata não pode trocar de
Marinha nem um major de cavalaria, de Exército. Permanecendo na
corporação, convivem com a mesma geração de colegas, respeitando
praticamente a mesma hierarquia ao longo de todas as suas vidas. …
Jamais se esquecem, por exemplo, os apelidos da juventude, ganhos no
tempo das escolas militares. Para um aspirante dos anos 30, o Brasil
foi presidido de 1964 a 1985 por Tamanco, Português, Milito, Alemão e Figa.
O silêncio dos generais foi compensado pela utilização maciça de
conceitos teóricos. Com isso, frequentemente misturaram-se ideias
brilhantes e preconceitos, dando-se força de dogma a algumas
racionalizações que, no máximo, seriam bons instrumentos de
especulação. Para explicar a brutalização da política,
recorreu-se demais ao que se chama de Doutrina da Segurança Nacional
ou, na sua denominação crítica, Ideologia da Segurança Nacional. …
...
(41) Para quem quiser cortar caminho na busca do motivo por que Geisel e
Golbery desmontaram a ditadura, a resposta é simples: porque o
regime militar, outorgando-se o monopólio da ordem, era uma grande
bagunça.
Como ela tomou conta do país e como a desmancharam é uma história mais
comprida. Começa na noite de 30 de março de 1964, quando a
democracia brasileira tomou o caminho da breca.
Gaspari, Elio. A Ditadura Envergonhada – as ilusões armadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
domingo, 7 de agosto de 2016
Quando a emenda saiu pior que o soneto
Diz-se
que a expressão “a emenda saiu pior que o soneto” envolve um jovem
aspirante a escritor e Bocage. Em uma ocasião, o jovem solicitou a
Bocage que fizesse anotações em um de seus sonetos, assinalando os
erros. Futuramente, Bocage devolveu o soneto sem nenhuma anotação sob a
justificativa de que seriam tantas as correções que “ e emenda ficaria
pior que o soneto”, consolidando a expressão que se transformou em
ditado popular.
Todos
já tivemos nossos sonetos. Aqueles em que as emendas se tornam bola de
neve e que nos mostram que o quanto antes voltarmos atrás melhor será.
Não é verdade?
Hoje
nosso principal soneto ruim é o intento golpista de Temer e que
sabemos, ele não pretende abandoná-lo. Sabemos que mesmo que um surto de
grandeza ocorresse, isso não seria possível pela quantidade de acordos
escusos com o qual já se comprometera
Assumir
a peripécia antidemocrática mesmo que sem volta é, contudo, ainda
melhor que qualquer tentativa de reparação ou legitimação como as que
vem ocorrendo de maneira descarada. As tentativas de esconder seu nome
em eventos, bloqueios de perfil no facebook, e a massiva tentativa de
conter vaias e manifestações contrárias são exemplos de emendas que
tornam seu péssimo soneto muitas vezes pior que o original.
As
respostas são piadas das mais diversas, memes de internet, vídeos
documentando a truculência da polícia retirando inofensivos cartazes de
“FORA TEMER” e o aumento do número de descontentes documentados com uma
riqueza sem precedentes na história.
Assim,
o soneto do jovem escritor e a tentativa de golpe tem algo em comum:
ambos tomarão o mundo e continuarão marcados na história. A diferença
reside no fato do jovem escritor ter ficado anônimo e de que Temer
carregará a alcunha de golpista por toda a sua vida e futuras gerações.
por Alexandre Carrasco (https://medium.com/@alexandrecarrasco/quando-a-emenda-saiu-pior-que-o-soneto-652ba1c74ff4#.xq0dhvgzo)
Bolsonaro não é homofóbico (?)
*Arquivo de provas*
Estímulo à violência contra homossexuais
"Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se
beijando na rua, vou bater", disse Bolsonaro depois que FHC posou com a
bandeira gay em 2002. (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1905200210.htm)
Bater em filho gay
Em um debate na TV Câmara, em 2010, ele sugeriu que a melhor forma de
corrigir a homossexualidade seria através da violência. “O filho começa a
ficar assim, meio gayzinho, leva um couro e muda o comportamento dele.
Olha, eu vejo muita gente por aí dizendo: ainda bem que eu levei umas
palmadas, meu pai me ensinou a ser homem. A gente precisa agir”, afirmou
ele que repetiu a declaração várias vezes. Foi baseada nessa declaração
que Ellen Page o questionou na entrevista. (https://www.youtube.com/watch?v=JZtaYvzzeTQ e https://www.youtube.com/watch?v=YVq4qYWnOZY)
Pouca vergonha
Em entrevista ao programa de humoristas do CQC, ele deu diversas
declarações homofóbicas e racistas. Inclusive, foi condenado a pagar
R$150 mil reais por essas declarações. Ele declarou que seus filhos
nunca seriam gays porque foram bem educados, sugerindo que a
homossexualidade é um comportamento ruim e um mau costume." (https://www.youtube.com/watch?v=HyaqwdYOzQk)
Parente gay não frequentaria a sua casa
“Gostaria de saber qual seria a sua reação se alguém de sua família
decidisse abertamente pela homossexualidade”, sugeriu a pergunta um
internauta... Jair Bolsonaro respondeu: “Seria problema dele. Se essa
fosse sua opção para ser feliz não estaria (nem poderia) ser proibido
por mim mas, certamente, não iria me convencer a frequentar minha casa”.
http://revistaepoca.globo.com/…/…/0,,EMI245890-15223,00.htmlO valor do gay na sociedade?
“O que esse pessoal tem para oferecer para a sociedade? Casamento gay?
Adoção de filhos? Dizer que se seus jovens, um dia, forem ter um filho,
que se for gay é legal? Esse pessoal não tem nada a oferecer.” (http://g1.globo.com/…/n…/2011/03/estou-me-lixando-para-esse-...)
Não sou homofóbico
"Não tenho nada a ver. Cada um faz o que quer com seu corpinho cabeludo
entre quatro paredes. O que eles têm para me oferecer não interessa.
Agora, eu não quero que o público LGBT crie currículo para as escolas
públicas de primeiro grau." http://g1.globo.com/…/n…/2011/03/estou-me-lixando-para-esse-...
Direito da maioria
Em entrevista, ele compara gays a pedófilos e diz que a minoria deve
ser calar. “Que respeitar homossexual. Eles que tem que nos respeitar”. (https://www.youtube.com/watch?v=mdUSEQw-SxI e https://www.youtube.com/watch?v=HGhLceaxCjE)
Sangue gay
Bolsonaro polemizou em 2011 sobre doação de sangue dizendo que
hospitais deveriam separar sangues de gays e homos para transfusões.
Para ele, sangue de gays tem 17 vezes mais risco de transmitir a Aids,
mas deu a entender que não queria receber sangue de um homossexual.
Usando os riscos acrescidos de gays se infectarem com o HIV sexualmente,
ele deturpou a informação e abriu uma campanha por uma lei para separar
os sangues, que acabou abandonada. "O sangue de um homossexual pode
contaminar o sangue de um heterossexual". (https://www.youtube.com/watch?v=Z1oGuNkGV2g)
Órgão excretor
O Deputado Federal usou sua boca para vomitar baboseiras em resposta
contra o projeto de lei que defende punições contra ações homofóbicas.
Ele diz que não dá para saber que uma pessoa é gay, transexual, lésbica
ou travesti antes de agredi-la e que só porque uma pessoa faz sexo com o
órgão excretor (antes mesmo de Levy Fidelix usar o termo e chocar o
país no debate eleitoral de 2014), não merece uma lei de proteção. (https://www.youtube.com/watch?v=adtWbjpjjeg)
Preconceituoso com Orgulho
Em uma entrevista concedida aos leitores da Revista Época, Bolsonaro afirmou: “Sou preconceituoso, com muito orgulho”.
Gays são pedófilos
No programa do Danillo Gentile, ele fala, a partir dos 17m10, sobre seu
posicionamento contra os homossexuais. “90% dos adotados vão ser
homossexuais e vão ser garotos de programa deste casal” (referindo-se
aos filhos adotados de casais homossexuais). (https://www.youtube.com/watch?v=3yxvUIp8GnY)
Morte de um filho gay
“Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de
hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que
apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo”
disse em 2011, quando deu entrevista à Playboy. (http://noticias.terra.com.br/…/bolsonaro-prefiro-filho-mort…...)
Bolsonaro diz que vizinhos gays desvalorizam um imóvel
Ainda na entrevista de Playboy em 2011: "Se um casal homossexual vier
morar do meu lado, isso vai desvalorizar a minha casa ! Se eles andarem
de mão dada e derem beijinho, desvaloriza" (http://noticias.terra.com.br/…/bolsonaro-prefiro-filho-mort…...)
União gay
“O próximo passo será a adoção de crianças por casais homossexuais e a
legalização da pedofilia”. “O Supremo extrapolou. Quem tem de decidir
isso é o Legislativo, com a sanção do Executivo. Agiu por pressão da
comunidade homossexual e do governo. Unidade familiar é homem e mulher.”
(http://www.fabiocampana.com.br/…/proximo-passo-sera-a-legal…...)
Direito de discriminar
O deputado afirma ainda que quer garantir o direito de não querer
alugar um imóvel ou contratar se a pessoa for LGBT, e acusa gays de
quererem direitos especiais. E diz que vai lutar contra o casamento gay.
“Primeiro que eles não tem na testa escrito que é homossexual. Eu alugo
o meu apartamento para quem eu quiser... Agora se dá o azar deste cara
ser homossexual, e ele vai em uma delegacia e registra uma queixa... e
eu vou ser preso em flagrante só porque esse cara faz sexo com o seu
aparelho excretor?... Se eu for contratar um motorista para levar o meu
filho em uma escola e descobrir que ele é gay... eu vou contratar?” (https://www.youtube.com/watch?v=TcOpf2d9mNM)
Beijo gay – Família gay
“A sociedade é ofendida, a família é ofendida...” “A sociedade é
conservadora. Eu considero agressivo”. “Lógico que me incomoda”.
“Família gay não existe”. (https://www.youtube.com/watch?v=KL-eiuRZrDE)
Não é normal
“Ensinar para a criança que ser gay é normal? Não!” “Eu não deixaria
meu filho de 5 anos de idade brincar com o filho da mesma idade filho de
um casal gay”. (https://www.youtube.com/watch?v=7ftFLFcQTQg)
Dissimulado
“Não sei porque tanta discriminação. Minhas melhores professoras foram
as prostitutas. Eu queria saber se isso também vale pro outro lado, se
isso também vale para ele ser um bom professor ser gay”, provocou ele na
Comissão de Direitos Humanos e foi censurado pelos colegas. (https://www.youtube.com/watch?v=S5Apq5CAdDw)
Kit Gay
“Dá nojo. Esses gays e lésbicas querem que nós a maioria entubemos como
exemplo de comportamento a sua promiscuidade... Nós não podemos nos
submeter aos escárnio da sociedade”. ( https://www.youtube.com/watch?v=gNJKJLCPrT4)
Não existe homofobia
“Não existe homofobia no Brasil” e “a sociedade brasileira não gosta de
homossexuais”. Em entrevista ao apresentador Stephen Fry, Bolsonaro diz
que pais não tem filhos de orgulho gay e defende a passeata de orgulho
hétero. “Bolsonaro é o típico homofóbico que eu encontrei por todo o
mundo, com seu mantra de que gays querem dominar a sociedade, recrutar
ou abusar das crianças. Mesmo em países progressistas como o Brasil,
suas mentiras criam histeria coletiva entre os ignorantes, de onde a
violência pode surgir e acabar em ataques brutais como o que matou
Alexandre Ivo”. (https://www.youtube.com/watch?v=Hxh_laUnt3I)
Organizado por André Felipe de Souza
sexta-feira, 1 de julho de 2016
Erundina com @s LGBTs
No dia 17 de junho realizou-se um maravilhoso encontro da comunidade LGBT de São Paulo com a candidata a Prefeita Luzia Erundina (PSOL). Tive a honra de transcrever a fala desta Mulher Maravilhosa e tenho muito orgulho em poder compartilhar suas palavras aqui em meu blog. Conheçam a coerência, dignidade e visão desta Política rara em nosso país!
Eu quero agradecer a vocês
o carinho, a receptividade, a confiança e essa energia enorme que vocês
mobilizam. Eu quero agradecer também o que vocês representam de força de
mudança na sociedade, não só na sociedade brasileira, mas no mundo todo, e a um
custo altíssimo, haja vista a tragédia que ocorreu em Orlando. Esta é uma
tragédia que se dá em todo lugar desse mundo e desse país todos os dias. Que se
juntou naquele momento e houve aquela expressão coletiva de um massacre só pelo
fato de as pessoas se amarem e colocarem o amor como uma coisa importante em
suas vidas. E Isso me dá a consciência do quanto vocês representam nos dias de
hoje não só para São Paulo, para o Brasil, mas para o mundo. Vocês estão
rompendo uma cultura milenar que insiste em se preservar e se impor às relações
humanas, às opções de vida, à existência e à realização da vida. Vocês não tem
talvez consciência do que vocês representam potencialmente; da ruptura de um
mundo que envelheceu. É o fim de um ciclo histórico-social. Tem uma lógica que
constrói a história e que obedece a uma espiral dialética. Essa espiral
dialética realiza ciclos históricos em tempos não precisos, mas em cada momento
dessa história esse ciclo atinge seu ápice, ele retorna e não volta no marco
zero onde ele começou, ele volta num outro nível e quando recomeça um outro
ciclo este outro ciclo se constrói de forma potencializada, vai para um outro
nível, superior àquele primeiro nível, e cada mudança de ciclo representa uma
transição dolorosa, a transição de um ciclo transitando para um outro ciclo
histórico-social. Isso é um imperativo da realidade, e a realidade é dinâmica,
é dialética; seja a realidade pessoal, seja a realidade social, seja a
realidade da natureza, seja a realidade da política, seja a realidade da cultura.
Obedece a essa lei, a lei da dialética. E é uma dialética que se impõe nos
processos sociais, nos processos humanos, em diferentes ciclos da história
humana. E nós estamos vivendo isso, uma virada de ciclo. É um ciclo que já está
no seu estertor, por isso que ele vem com tanta virulência, essa reação
homofóbica, essa reação conservadora, fundamentalista, autoritária, repressora;
reprimindo e comprometendo as conquistas que os grupos sociais conseguiram a
duras penas. Eles estão muito inseguros. Eles estão com muito medo. Eles tem
medo do novo. E vocês são o novo. Vocês estão rompendo com uma cultura.
Daí a importância e o peso
político que vocês têm. Vocês não se dão conta disso. Vocês estão rompendo com
aquilo que sustenta os alicerces de uma sociedade velha, antiga, esgotada; que
é a ideologia, que é a cultura. É nisso que vocês estão mexendo, estão
provocando, estão questionando, estão criticando, estão botando um outro
caminho. Quem quiser enxergar que enxergue. Quem não quiser vai de roldão, porque
é um determinismo histórico.
Eu estou dando essa fala
inicial. Eu não estou querendo fazer discurso. Eu lamento não ter chegado mais
cedo para ouvir todos os depoimentos que vocês fizeram aqui. É Exatamente o que
a gente está provocando nos ciclos de conversa. Essa campanha está se dando
exatamente neste modelo. Já fizemos dezenas de rodas de conversa. Estamos vindo
de uma. Dos mais diversos grupos. Grupos plurais. E essa campanha, ela tem uma
característica, e ela tem um significado, que é exatamente viver esse momento
de um fim de um ciclo histórico-social, transitando para um outro ciclo
histórico-social. Nós estamos num processo que está rearticulando as pessoas,
está resgatando essas pessoas, está voltando a interessá-las pela política,
pelo debate político. E tudo é política. E a solução dos problemas do mundo. A
solução dos problemas, dos vários grupos sociais, como o de vocês, não é outro
senão a política, como expressão de poder. E vocês são uma força política com
enorme potencial.
Sobretudo porque vocês
mexem na essência das vidas, das relações de uma sociedade. Vocês estão mexendo
com a cultura, com valores, com conceitos. Vocês estão mostrando que esses
valores, esses conceitos, esses preconceitos, essa exclusão que existe na
sociedade, é algo velho, não cabe mais na evolução humana, em pleno século XXI.
Então não se pensem na sociedade como um grupo que vai edificar uma política
própria de saúde, ou uma política própria de educação, ou uma política própria
de emprego. Vocês tem que lutar pelo espaço de vocês como uma força política
que tem o que dizer para a sociedade no sentido da transformação desta
sociedade. Essas coisas virão como consequência. Vocês tem que disputar o
poder. Não só o poder institucional, mas o poder da fala, o poder de decidir as
questões que lhes dizem respeito diretamente, o poder de serem respeitados e
respeitadas, de serem reconhecidos, de serem ouvidos. É disto que se trata.
Eu não era candidata. Eu
nunca pensei em ser candidata mais uma vez para a Prefeitura de São Paulo. Eu
estava mudando de partido porque eu não aguentava mais aquela coisa horrorosa
que era o partido que eu estava nele. Fui para o PSOL, que há muito tempo vinha
insistindo nisso. Mas antes de ir para o PSOL nós já estávamos construindo uma
outra via, que não é melhor nem pior do que as outras. É algo diferente. É algo
que veio no bojo, nessa busca que existe no mundo de outras formas. Essas
formas estão todas superadas. Seja a forma partido, seja a forma movimento
sindical, seja a forma movimento popular, seja a forma que for. Forma não cabe
mais numa realidade em transformação, em movimento. É revolucionário. Essa
campanha, companheiras e companheiros, não está sendo uma campanha para
disputar votos. É uma campanha que está servindo para reencantar a política.
Para trazer de novo as pessoas a serem sujeitos da política. Se chegarmos lá
isso vai se transformar em uma outra forma de exercer o poder na cidade. E não
tenham dúvidas, nós vamos para as cabeças e vamos radicalizar a forma de
governar essa cidade.
Quando o PSOL conseguiu me
seduzir – e foi sedução mesmo – eu cheguei a dizer para o Ivan (Ivan Valente):
– Oh, Ivan, ou você diminui esse assédio ou eu vou dedar você a tua mulher. Mas
já são vários mandatos juntos, tem muita coisa, e ao mesmo tempo nós estávamos
nessa busca de um outro caminho, de uma outra via, sem excluir as que existem e
que tem identidade entre si, entre PSOL, RAIZ, PARTIDA e outros grupos que não
tem nome, não tem título, não tem rótulo, mas vem nessa onda do novo, da
descoberta, da criatividade, da busca de saídas. Não quero falar em crise. Eu
não vim aqui para falar em crise. Eu vim aqui para falar do futuro. Este
futuro. E este futuro está nas nossas mãos.
E vejam vocês,
companheiras e companheiros. Vamos supor que se consiga derrotar a tese do
impeachment no Senado. O que que virá depois? O que que virá a seguir? O mesmo
governo anterior? Vai resolver? Não vai. Se perder e o impeachment for
aprovado, esse governo já nasceu morto. É um natimorto. Portanto há um vazio no
cenário político do país e do mundo que explica a emergência dessa força nova,
dessa energia sem modelo, dessa força criativa, dessa irreverência que vocês
representam; e quanto mais isso for forte e presente na sociedade mais rápido a
gente rompe com esse velho dessa sociedade. É disso que se trata.
E aí eu vim para o PSOL. E
ai vem a pressão para eu ser a candidata a prefeita. Minha gente, eu estou com
oitenta anos, oitenta e um anos. Vocês acham que isso faz sentido? Eu já estava
me preparando para encerrar – eu não gosto desse negócio de carreira não,
carreira complica a vida política. Mas eu não ia deixar nunca de fazer
política. Mas, evidentemente, eu ia deixar de ser candidata, da militância
partidária. Eu queria passar para a Muna (Muna Zeyn) e para outros que estão se
assumindo no institucional. Mas a gente não faz aquilo que é da vontade da
gente, sobretudo quando a gente decide na vida da gente a fazer aquilo que o
povo dita e quer que a gente faça. É isso que me convenceu, junto com meus
companheiros da RAIZ, com meus companheiros do PSOL, numa plenária que eu
convidei para prestar contas dos mandatos. Tinha mais de quatrocentas pessoas
naquele plenário. E eles não queriam discutir “prestar conta” nenhuma. Eles
queriam me pressionar pra eu ser candidata a prefeita.
E aí eu não escapei. E de
lá pra cá essa pressão é cada vez mais forte. A ponto de me dar a compreensão
de que há uma determinação. Não sei de onde vem. Mas vem do povo. É energia do
povo. Dom Tomás Balduino era um bispo que trabalhava com os índios, que
enfrentava o latifúndio, a repressão no campo. Ele dizia que o novo, o povo é
quem cria. A gente não cria nada de novo. Quem cria o novo é o povo. Mas a
gente tem que estar junto dele para que ele nos diga para onde ir. Então, se
isso a gente acredita de fato, a gente não se perde, e a gente não recusa, e a
gente não escolhe, e a gente vai junto, e as coisas não secam.
Então essa campanha está
servindo para isso; trazer de volta quem havia se afastado, se desinteressado
da política, os mais antigos, os mais velhos, os mais experientes, e ao mesmo
tempo está havendo uma convergência, de um encontro, dessa energia nova da
juventude. De todo lado vem movimento de jovens; sem nome, com nome, com
projeto, sem projeto; mas é uma energia tão poderosa, tão forte, tão criativa,
tão emergente, que eu acho que tem um fenômeno novo que está acontecendo nesse
processo. Eu estou aberta a ele junto com vocês. Não quero discutir política de
saúde, de educação, de trabalho com vocês. Essas políticas nós vamos construir
juntos.
Quando eu penso em
governar essa cidade pela segunda vez depois de mais de vinte anos. Eu não
estou querendo repetir aquela experiência do passado, que hoje é reconhecida.
Tem propostas que não se viabilizaram naquele momento, mas estão vindo pelas
mãos dos movimentos, como o passe livre, que era uma proposta nossa e de Lúcio
Gregori. Porque depois de mais de vinte anos essa cidade é outra cidade. Os
problemas, muitos são os mesmos, mas agravados. Antes nós éramos 9 milhões e
quinhentos mil habitantes. Hoje nós somos onze milhões e quinhentos mil
habitantes, numa região metropolitana de vinte milhões de habitantes. E os
problemas de São Paulo não começam e terminam em São Paulo. Começam e terminam,
e não terminam, porque os problemas vão para além da região metropolitana. E
numa segunda gestão nossa nós temos que pensar São Paulo não dentro dos seus
contornos. A gente tem que pensar São Paulo na região metropolitana. Pensar São
Paulo no Brasil. E outra coisa; ser prefeito ou prefeita desta cidade não é
simplesmente administrar. É sobretudo fazer política, é liderar politicamente.
Não posso entender que a
cidade que tem o terceiro orçamento do país, é maior do que o orçamento de
todos os Estados, com exceção do Estado de São Paulo. Que essa cidade não tenha
voz e influência nas decisões sobre política econômica desse país. E nós
queremos, junto com o povo, organizado, politizado, e protagonizando um novo
governo, impor os interesses, não só de São Paulo, da região metropolitana, do
país inteiro. Nós temos que fazer a macropolítica. E a questão econômica está
no foco. Ouvi o companheiro, ele colocava aqui com muita precisão, com muita
oportunidade. Nós não queremos só administrar os recursos, embora sejam
grandes. São mais de 50 bilhões, o orçamento da cidade. Mas vendo a dívida
social e a demanda reprimida, isso não representa nada, sobretudo a questão da
dívida, e o companheiro tem toda razão. Nós temos que começar a discutir a
questão da dívida. Mas não é pra zerar a dívida. É bobagem zerar a dívida. O problema
não é ter dívida. É que esta dívida não veio para a área de investimento, não
veio para um crescimento, não veio para dinamizar a economia da cidade e do
país. Não. É uma dívida que veio para reproduzir juros sobre juros e portanto,
fortalecer o capital, reproduzir o capital, a concentração de capital. Nós
temos que quebrar essa lógica. E uma cidade como São Paulo, com o peso político
que tem, o peso econômico que tem, o peso social que tem, o peso científico que
tem, o peso cultural que tem, é uma força política que tem que ser mobilizada.
Mas não é um prefeito ou uma prefeita, ou um vereador ou uma vereadora, ou o
poder institucional. É o poder popular.
E a governabilidade não
passa pela Câmara Municipal. Nós não vamos ter maioria na Câmara Municipal.
Vamos querer eleger o maior número de vereadoras e vereadores. Mas vamos
governar da mesma forma como fizemos há vinte e sete anos atrás em que tínhamos
minoria na Câmara. Para ter maioria na Câmara teria sido mais fácil. Mas eu
teria que ter feito concessões éticas. E para fazer concessão ética a direita
faz melhor. Porque a direita está no poder há mais de 500 anos.
A economia não pode se
limitar só à macroeconomia. Esse modelo que está aí, no neoliberalismo, da
política, em que há um superavit primário. O superavit primário, que é aquele
excedente que não é excedente, porque se deixa de aplicar nas políticas
públicas e se reserva quatro e meio por cento do PIB, quando não é mais, para
pagar os juros da dívida. Em 2015 foram 505 bilhões de reais para pagar os
juros da dívida pública. E os juros de uma dívida que se multiplica, porque não
é uma dívida, é uma dívida especulativa, é um dinheiro que entra para
especular. Os títulos públicos que o governo vende ao sistema bancário para
manter o próprio Estado, numa roda viciosa, viciada, que não tem saída. A saída
é política. É ter o povo com você, e a força do poder popular, e impor as
regras, inclusive na negociação dessa dívida. Nós temos de renegociar essa
dívida alongando o perfil dela, negociando os prazos de pagamento de parcelas.
Isso sem sacrificar os direitos sociais básicos da nossa população. Isso só se
faz com força, e força política. E auditoria! Isso está associado a uma luta
pela solução do problema da dívida pública do país. A dívida do país já é mais
de três trilhões. Com essa sangria, todo dia, toda hora, uma criança que está
nascendo, ela está nascendo devendo uma certa quantidade de dólares. Isso não é
justo. Isso não é razoável. E nós temos que enfrentar isso politicamente.
Então gente. Só vai valer
a pena uma nova tarefa dessas. E ela já está se dando. Não pensem que só vamos
começar a campanha quando chegar o período eleitoral. Até porque no período
eleitoral nós não vamos ter tempo de televisão. Não vamos ter tempo de nada.
Mas nós já nos antecipamos tanto na conversa política com o povo e os nossos
compromissos com quem é possível, que queremos fazer juntos, que nós vamos
levar de roldão, seja os candidatos que estejam aí, com tempo ou sem tempo. Se
eles não nos derem o tempo para participar do debate com os outros candidatos
nós vamos fazer o debate na porta da emissora que estiver fazendo debate. Nós
vamos alugar um caminhão, com um som e o gogô para a gente conversar com o
povo, na frente da televisão, enquanto eles estiverem disputando aqueles
segundos para responder aquelas perguntas absurdas, fazer aquele teatrinho que
é feito na televisão. Seria até bom mesmo que eles não deixassem a gente
participar do debate que a gente produziria esse debate nas portas das
emissoras, de todas elas, quantos debates eles tiverem que fazer. Eu não
preciso de tempo de televisão, para a gente fazer chegar o recado ao povo e
trazer esse povo junto para fazer valer esse recado.
Minha gente, meu povo. Eu
estou muito animada.
Não se justifica, nós que
somos socialistas. E a palavra é esta mesma. Não tenham medo da palavra nem das
implicações desta palavra. Socialismo é o futuro da humanidade. É um modo de
vida, é um modo de existir. É uma referência que dá significado e sentido à
nossa existência. E nós vamos mostrar que é possível, para justificar que
pessoas que tem uma vocação para o socialismo, que tem uma opção de vida pelo
socialismo, que é possível, que vai fazer diferença. Para justificar inclusive
o governo, uma esfera do poder do Estado. Nós não mudamos o Estado quando
ganhamos uma Prefeitura. Nós não ganhamos o controle do Estado quando ganhamos
o governo do Estado nem mesmo quando se disputa e ganha o governo federal.
Vejam o que aconteceu com
os governos do PT. Cederam. Abrindo mão e capitulando o seu projeto original.
Não jogo o PT como se joga a água, a criança e a bacia fora. Foi um grande
momento da vida da juventude naquele tempo, e eu costumo dizer: eu não sai do
PT, o PT que saiu de mim. Porque aqueles princípios, aqueles valores, ainda orientam
a minha vida, ainda dão sentido à minha militância pública. Mas não posso
concordar com o rumo que os governos do PT tomaram, fazendo concessões em claro
e tentando governar só com uma base congressual de A a Z do espectro ideológico
e de uma certa forma esvaziando a luta popular.
O movimento sindical foi
domesticado no governo Lula. Não se tem mais oposição nem situação sindical.
Eles já negociaram, através do imposto sindical, aqueles dez por cento do
imposto sindical, que está sendo distribuído pelas centrais sindicais que se
multiplicaram. Eram duas centrais sindicais. Hoje tem mais de dez centrais
sindicais, pelos dez por cento do imposto sindical. Enquanto isso há um fosso
entre a base sindical e a direção desses sindicatos através das centrais sindicais.
Tanto é que eu tenho dúvida. Será que no extremo dessa crise o movimento
sindical teria condições de chamar uma greve geral? Eu tenho minha dúvida.
Porque não se faz luta, sobretudo luta a um nível de comprometer um determinado
regime, fazer valer a vontade popular, com sindicatos que desapareceram das
portas de fábrica, que não tem mais bandeira, nem sequer do ponto de vista
econômico, muito menos do ponto de vista político.
Então meu povo, para
justificar que a gente, com essa visão da política, e com essa visão de mundo,
e com esse compromisso com a história que a gente tem, que faz muito sentido ir
para um governo de uma cidade, quão importante, grande, potente que ela seja.
Mas o caráter do Estado é o mesmo. Seja no município, seja no estado, seja na
união. A única coisa que diferencia, e a única coisa que justifica, que a gente
vá pra lá, disputar o poder e exercer o poder, se esse poder for dividido com a
fonte do poder e a sociedade, são os setores populares. E a nossa proposta de
gestão é radicalmente democrática. Nós vamos diminuir a cabeça do poder,
diminuir o número de secretarias. Vamos empoderar as subprefeituras.
Potencializando os conselheiros, os conselhos de representantes de cada
subprefeitura. E vamos fazer o planejamento da cidade à base de cada região
administrativa da cidade. E vamos planejar o orçamento de acordo com cada
região da cidade. Nós vamos distribuir a gestão financeira no âmbito de cada
subprefeitura. Portanto nós vamos empoderar o poder local. E o poder local são
as subprefeituras através do conselho de representantes eleito diretamente. E
que o subprefeito possa ser resultado da decisão que aquele coletivo de pessoas
eleitas diretamente pela população, numa relação direta, permanente. E para
isso nós temos hoje os meios, que são as redes sociais, que é a internet, que é
essa tecnologia fantástica que nós não tínhamos naquele tempo. E isso nos dá
uma enorme possibilidade de governar online. Todas as decisões, todos os
controles, toda essa emoção de toda decisão, ser acompanhada dia a dia pela
cidadania, pelos cidadãos, em cada recanto, em cada ponto dessa cidade.
E aí podemos, quem sabe,
começar um novo tempo na cidade de São Paulo. E a partir dela, quem sabe, a
gente possa começar um novo tempo no país. Eu acredito nisto. Isto é um
imperativo histórico. Nós temos potencialidades para isto. Nós temos uma
juventude incrível que está sedenta de participação, com uma capacidade
criativa imensa, uma generosidade fantástica, e vocês sem dúvida nenhuma são
parte principal dessa força e da energia que está revolucionando a cultura em
nosso país. Não é pouca coisa. Vocês estão mexendo na essência, naquilo, como
dizia Gramsci, que é a semente da sociedade, é o alicerce da sociedade, é a
ideologia, são os valores, é a cultura, são as concepções, é o modo de ver o
mundo, de ler a realidade. Vocês estão mexendo nisso. Por isso que vocês
incomodam tanto. Por isso vocês são tão reprimidos. Vocês estão balançando as
bases, estão mexendo nas bases, nos alicerces, nas colunas que sustentam esse
estado velho, carcomido, fundamentalista, impotente, incapaz. E o novo não se
sustenta num vasilhame velho, não se sustenta com um vinho novo, borbulhando
dentro dele, com a energia que tem um vinho novo. Vocês são esse vinho novo. E
esse estado brasileiro, em todas as suas expressões, seja município, seja
estado, seja união, é uma vasilha velha, onde se põe vinho, que não sustenta
mais a vitalidade do vinho, que é essa juventude, essa energia nova, que está
vindo, que está rompendo com as barreiras, com os obstáculos, e colocando o
novo que está nascendo. Vocês são parteiros de um novo tempo, parteiras de um
novo tempo. Isso não é pouca coisa.
Quando essa experiência
for histórica, os historiadores verão o que isto significou. É preciso que a
gente tenha consciência disso para a gente inclusive ser capaz de resistir aos
ataques, às pressões, às violências, ao morticínio que existe contra vocês e
contra os pobres dessa cidade, desse país. Na cidade mais rica do mundo a
população de rua está morrendo de frio nas calçadas da cidade. É como diz uma
jornalista que escreveu um artigo sobre aquelas minhas perguntas ao prefeito.
Muitos dizem que não gostaram. Paciência. Eu não quero dizer nada para fazer
ninguém gostar. Eu quero fazer aquilo que a minha consciência me diz. E aquela
jornalista dizia o seguinte: a cegueira política mata mais do que o frio. E
mostrava o quanto aquelas reações ou aquele silêncio inicial em relação a essa
situação trágica, tratar seres humanos como objeto. A guarda civil metropolitana
tirando os colchões, e tirando os papelões, que dava condições para se
protegerem do frio de três graus e meio, como ocorreu dias atrás, dia esse em
que morreram cinco, entre um dia e outro morreram cinco moradores de rua. Não
gostaram que eu tivesse falado aquilo. Era melhor o silêncio para eles. Estão
alegando que eu estou dividindo a esquerda. Que esquerda? Eu não estou falando
isso porque eu sou candidata. Eu não estou falando essas coisas porque eu sou
candidata. Eu estou falando essas coisas porque eu sou uma cidadã. E mais, eu
sou uma cidadã que tem um mandato popular. Eu tenho a responsabilidade de não
ser omissa, de dizer as coisas tal qual elas se colocam. Não faço as coisas
para agradar ninguém, sobretudo se a minha consciência está me dizendo o que eu
devo dizer. Pagar o preço que for.
Então meus companheiros e
minhas companheiras. Desculpem que é um certo desabafo também. A gente, para
fazer as coisas, têm que fazê-la com alegria, sendo felizes, tendo paixão,
tendo tesão. É isso que nós precisamos ter nesse momento. Ter paixão por essa
luta, ter paixão por esse momento que estamos vivendo, e que a história nos
confia e nos delega como cidadãos. E fazendo dessa cidade uma cidade e um
espaço para todos. A própria palavra cidade nos reporta ao termo cidadão,
cidadania. Uma cidade tem que ser uma cidade para todos os cidadãos dessa
cidade, e portanto toda as suas energias, todo o seu potencial, todas as suas
ações, todas as suas políticas, tem que ter o crivo da sociedade organizada que
tem que realmente atender de forma, o máximo possível e necessário, ao direito
de cidadania de todos os que vivem, moram e constroem essa extraordinária e
generosa cidade. Nenhuma outra cidade, nem Uiraúna, onde eu nasci, teria me
eleito prefeita como me elegeu naquele tempo. Sofri muito preconceito também.
Eu recebia carta com fezes dentro, durante muito tempo enquanto eu estava como
prefeita. Mas isso não me intimidou, nem isso me tornou vítima. Não. Eu fiquei
com pena de quem vai no banheiro, pega o seu papel, faz cocô e põe um pedaço de
cocô lá dentro e ainda põe no correio. Naquele tempo era o correio. A carta era
no correio. Era mais infeliz do que eu, se eventualmente. Entendeu? Então. Eu
não paro no negativo. Eu faço do povo de São Paulo, cuja metade é de nordestino,
que me elegeu prefeita pela primeira vez. E agora, muito mais do que só os
nordestinos, muito mais gente numa cidade que é pluricultural, a cidade dos mil
povos, quem sabe, vai nos levar de novo para lá, e ajudar a levar o povo para o
poder, nessa cidade, e para usar, e para exercer e para transformar esse poder
na força real do povo construindo o seu destino em São Paulo, e a partir dela,
em todo o país.
Obrigada a todos vocês.
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