segunda-feira, 13 de abril de 2009

Alegria de Pobre

Nesta semana recebi R$ 52,00 referentes à Nota Fiscal Paulista. Este dinheiro eu obtive registrando algumas compras minhas no ano de 2008. Uma parte é do primeiro semestre de 2008 mas, como o valor não era suficiente para resgate tive que esperar mais um semestre até que, finalmente, meu imposto recolhido atingisse um valor que permitisse o depósito. Alegria de pobre. No primeiro momento fiquei feliz, afinal, R$ 50,00 não é um valor desprezível. Posso até comprar uma peça de roupa, o quê no momento é um artigo de luxo para mim. Mas depois, como não assisti à final do BBB9, pensei... R$ 52,00 são 3% do valor que paguei de ICMS no ano passado. Fazendo o cálculo inverso fiquei chocado: paguei mais de R$ 1.730,00 de ICMS no ano passado. Isto porque não pedi nota fiscal paulista em todas as minhas compras. Portanto, devo ter pago mais de R$ 3.000,00 de ICMS!!! Isto representa mais de 2 meses de salário!! Isto é, do meu salário. É. Eu sei que está todo mundo cansado de falar e escrever e reclamar e denunciar este assunto mas o que me resta a fazer? Quando eu era criança ou, pelo menos jovem, recebi a informação de que "o trabalho enobrece". Acreditei nesta frase por muito tempo. Mas hoje, com os conhecimentos de Matemática que adquiri nas Escolas que freqüentei, chego à conclusão de que "o trabalho enriquece os parasitas do Estado". Talvez minha tese não seja aceita pelos acadêmicos de plantão que eu também incluo na classificação de parasitas do Estado, mas eu realmente não vejo outra finalidade para os impostos recolhidos. A parte ainda mais triste desta história é que, seu eu tiver um aumento de, por exemplo, 6%, o quê seria alguma coisa acima da inflação nos últimos 12 meses, todo o aumento obtido com meu trabalho seria engolido pelo Estado, pois eu entraria na categoria do Imposto de Renda que me obriga a pagar 7,5% de meu salário, todos os meses. Ou seja, eu teria uma redução de salário. Portanto, com certeza, matematicamente falando, o trabalho não enobrece; ele empobrece. Talvez a verdade seja outra: "Quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro." (ouvi minha avó dizer em algum momento perdido na memória). Atualmente, pelo que também podemos observar, as únicas pessoas que tem muito tempo livre são os políticos. Portanto, eles ganham dinheiro. São deduções óbvias! Ou não?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Uni-verso-para-lê-lo

Ele estava logo ali, sentado, quieto, fones no ouvido. Assim como eu, apreciava bolo de café recheado com chocolate. Pela presença, também tínhamos em comum o apreço pelo lugar; décimo quinto andar em um dos pontos mais alto da cidade. Àquela hora, final da tarde, a bela paisagem, paisagem urbana, a segunda natureza igualmente incontrolável ao redor desta ilha de tranquilidade. Lá embaixo, distante, filas intermináveis de carros, pessoas, casas edifícios. Esparsamente mas sempre presente, árvores. No horizonte uma parede de montanhas. Estávamos em um momento de ausência. Se fosse meditação, estaríamos naquele momento onde o corpo se acalmou, a mente está serena e a respiração suave. Todos os problemas estão distantes e bem próximo a nós somente o aroma do café, a textura e sabor do bolo e as pessoas ao redor comungando da mesma magia. Acho que foi por isto que me identifiquei com ele. Estávamos os dois tomando uma xícara de café e comendo um bolo recheado com chocolate bem cremoso. Até a música no fone de ouvido deveria ser a mesma, sorri comigo. Das belas coisas ao redor, ele me chamou a atenção. Não apenas pela coincidência dos atos mas pela tristeza que havia em seu olhar. Um homem bonito, não tão jovem, alguns cabelos grisalhos em um rosto suave contrastando com um olhar perdido e triste. Comecei a observar que ele falava consigo mesmo, sem palavras, apenas demonstrava expressões, o rosto girava buscando algo ou alguém que não estava ali. Pausava a conversa com suspiros profundos. Eu tentava disfarçar minha observação quase com indiscrição. Olhava de canto de olho, sem querer chamar a atenção ou me comprometer. Olhar esguio. Uma lágrima. Prendi minha respiração. Será que ele iria começar a chorar? Não. Disfarçou. Limpou a lágrima com a mão enquanto começava a sorrir, quase rir. Eu quase comecei a rir também. Que sujeito estranho, pensei. Não é bom prestar atenção em gente assim, instável. Tirei meus olhos dele, tinha terminado meu café com bolo, já era hora de me levantar e voltar à rotina. Arrumei as coisas da mesa para levá-las ao balcão. Já ia me levantar quando notei que ele já estava em pé. Caminhava na direção do canteiro de plantas que nos protegiam do abismo. Subiu na mureta usada para observação além das plantas. Ele ia observar a paisagem. Não. O que ele está fazendo? Perguntei a mim mesmo. Pela mureta ele conseguiu chegar ao canteiro de plantas, passou por elas e sumiu. Quero dizer, pulou. Não. Não foi um pulo ou um salto. Ele apenas continuou seu caminho. Ouvi o grito de uma mulher. Eu mesmo me levantei como em um susto, esbarrei na mesa, derrubei prato e xícara no chão. Uma confusão teve início, pessoas dizendo em voz alta: - Ele pulou, ele pulou. A frase se repetia entre espanto e dúvida. Todos foram até a beira do edifício tentando ver alguma coisa mas as plantas escondiam qualquer vestígio daquele ato, exceto por algumas folhas que se desalinharam no parapeito. Eu fiquei parado, tremendo. Todos começaram a sair em direção ao elevador para descer e ver o final da história. Eu estava tremendo muito, me sentei. Não entendia o que havia acontecido. Senti uma ruptura. Aquilo não era possível. Não seria verdadeira esta história, seria, talvez, algum trecho de livro ou conto bizarro. Fiquei sozinho naquele lugar. Continuava tremendo, incapaz de continuar, mas. Inspirar, expirar. Respirar. Nunca engoli algo tão difícil de tragar, nem mesmo o desprezo de quem amei. Quase engasguei com o vazio que se instalou no meu peito. Me levantei, meio zonzo. Consegui ir até o elevador e também desci. No térreo a multidão e confusão. Todos falando ao mesmo tempo e inventando suas histórias e a história daquele homem. Perguntas e respostas sendo delineadas ao mesmo tempo. Esta é uma das avenidas principais da cidade, o trânsito vai parar, os policiais vão chegar e ambulâncias também. Já temos a notícia para o jornal das oito e até mesmo algum helicóptero já esta a transmitir as imagens ao vivo daquele corpo estendido no chão. Me esquivo de tudo e de todos. Não é meu desejo ver a realidade. Atravesso um jardim de rosas e apareço em outra rua onde nada aconteceu. Os carros se movem, as pessoas estão felizes e satisfeitas com seus empregos e suas vidas. Todos caminham em direção a um destino, contentes consigo mesmas, talvez preocupadas, mas cientes de que este não é o momento para preocupação. Eu também pretendo continuar, não sei como, talvez esquecer esta história. Não vou dizer: eu conheci um suicida, eu fui a última pessoa a conversar com um suicida antes de ele tomar a direção que escolheu. Sim, eu conversei com ele. Na minha covardia, sem palavras, participei da conversa de um suicida consigo mesmo antes de seu ato final. Não vou dizer que o conhecia, pois um homem, este homem, que estava logo ali, sentado, quieto; era eu.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

São Paulo é assim:::

Encontro ocasional na Virada Cultural 2008,
Largo São Bento.

ROLETA RUSSA - Ressurreição...

Alguns minutos para contemplar a ação... A paisagem era bonita, uma quase floresta no centro de São Paulo, barulhos distantes e o silêncio em mim. Vi que havia algumas peças de roupa ao redor, minha carteira estava sobre o banco. Suspiro. Comecei a vestir a roupa e entendi a frase: - Você vai ver a roupa que eu vou deixar para você. A roupa tinha cheiro de carniça. Quando calçei o sapato, sem meia, meu pé saia pela lateral, rasgada. Todos os documentos estavam na carteira, todos os cartões estavam na carteira, menos o real e o passe de ônibus. Ele foi bacana comigo. Ironia. Entendi o que um mendigo sente. As pessoas na rua, ao me perceberem, desviavam a trajetória. Ninguém chegava perto de mim ou deixava que eu me aproximasse. Mas eu precisava da ajuda de alguém, da mísera realidade para pagar o ônibus e chegar até meu apartamento. Mas todos se afastavam de mim, sem ao menos ouvir minha voz. Ele me reconheceu, eu acho, talvez da livraria. Não me disse nada, nem nada perguntou, apenas arregalou os olhos ao me ver. E falei, rapidamente: fui assaltado, levaram minhas roupas, estou assim, preciso de dinheiro para pegar um ônibus e fugir para minha casa. Ele tirou a carteira do bolso e me deu o dinheiro necessário, rapidamente. Sem palavras, apenas assombro. No ônibus, o mesmo desconforto humano. Meu cheiro era insuportável para mim e para todos que se aproximavam. Para tentarem não sentir o cheiro da miséria desviavam o olhar e se afastavam. Ninguém queria me ver. Cheguei na portaria do prédio. Toquei o interfone. O porteiro me ignorou. Na terceira tentativa o porteiro se aborreceu, veio para brigar comigo e levou um susto. Quase sorri. Abriu o portão rapidamente, sem dizer nada... eu também estava mudo. Joguei as roupas no lixo, pus o lixo fora de casa, me sentei no box e deixei muita água correr, metáfora do tempo, para curar a ferida, para fechar o buraco em minha cabeça. Cuiabá. Existe a possibilidade de um novo amor. É para lá que eu vou.

ROLETA RUSSA - O disparo!

Depois de uma longa semana de trabalho naquela livraria, como já era costume, fui tomar algumas cervejas com amigos. Como sempre, muito falatório, muitas risadas, muita zoeira para extravasar toda a tensão da semana. Finda a noite, paga a conta, lá vou eu a caminhar pela alameda em direção a um ponto de ônibus, caminhando atento, procurando encontrar alguém que tornasse a noite ainda mais agradável. Nesta noite a sorte parecia sorrir para mim! Nossos olhos se cruzaram e paramos para aquela conversinha boba há ver se algo poderia acontecer. Aconteceu. Sem dinheiro, casa distante... o parque! Teríamos que pular uma grade e como eu sempre adorei aventuras e riscos, a proposta me deixou ainda mais excitado. Pulamos e grade, caminhamos um pouco, encontramos um banco e começamos a sacanagem. Mas ele estava tenso, distante, estranho. Indaguei o que estava acontecendo. Quando dei por mim estávamos cercados por mais algumas pessoas. Ele era a isca, eu era o peixe. Um grupo de cinco rapazes. Um deles, o líder, mais agressivo, me enconstou em uma árvore próxima e tapava meus olhos com uma das mãos. O outro, a isca, argumentava em minha defesa. - Vai com calma, ele é um cara bacana... Ironia. Eu estava sem dinheiro ou, precisamente, com dois reais na carteira, um passe de ônibus, documentos e cartões. Me tranquilizei e tentei argumentar. Alvo errado, tempo jogado fora, nada a ganhar comigo. - Tira a roupa. Roupa de trabalho, suada, sem marca, sem valor... - Você vai ver a roupa que eu vou deixar para você. Para que tudo isto? Para que a agressividade? O líder aliviava a pressão em meus olhos. Quando eu relaxava a cabeça ele a empurrava para bater minha nuca na árvore. Ele contou a história de um irmão que estava com o HIV, um veado com uma tatuagem na coxa havia transmitido o vírus, ele queria vingança! Suspiro. Não era eu, eu não tinha nenhuma tatuagem, não era desta maneira que ele iria ajudar o irmão. - Vamos ver se você é bacana mesmo! Silêncio. - Pô cara, deixa ele - me ajudou a isca. Consegui vislumbrar a arma que veio encostar em minha cabeça. Silêncio, isto é, eu estava em silêncio, entre eles havia uma conversa tipo defesa e acusação. O disparo. Eles sairam correndo. Eu, encostado na árvore, só de cueca, escorreguei até me sentar no chão. O parque escuro, muitas plantas ao redor, a copa das árvores, luzes invadiam o ambiente vindo da rua. Estou morrendo? Não sinto dor, não sinto nada. Respiro. Levo a mão à cabeça, no local onde o cano do revólver me tocou. Tudo seco, tudo no lugar. Roleta Russa? Ou a arma estava mesmo sem nenhuma bala? Não sei mas, dentro de minha cabeça houve um disparo.