QUAIS
INFORMAÇÕES E CONHECIMENTOS PRÉVIOS FORAM MOBILIZADOS PELOS ALUNOS PARA
COMPREENDEREM AS IMAGENS E EXPLICAÇÕES DA PROFESSORA NOS TRECHOS DO EPISÓDIO DA
SÉRIE CIDADE DOS HOMENS?
COMO VOCÊ
EXPLICA ESSAS DIFERENÇAS ENTRE A PESPECTIVA DA PROFESSORA E DOS ALUNOS?
Gosto de ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo.
(FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura. p 53).
(FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura. p 53).
Tomando
da Introdução de Marc Bloch ao seu texto “Apologia da História”, coloco neste
tópico o mesmo problema colocado por ele ao ouvir a pergunta de um garoto:
“Papai, então me explica para que serve a história.” O problema que esta
pergunta coloca não é nada menos do que o da legitimidade da história. É o que
diz Marc Bloch.
O que
sugere os trechos do episódio da série Cidade
dos Homens e os desafios apresentados nas Orientações Curriculares para
História (pp 35 e 36) reforçam a questão da legitimidade daquilo que queremos
ensinar em sala de aula. Além de “o que” queremos ensinar, mas “como” queremos”
ensinar, e “para que” queremos ensinar.
Meu
livrinho de cabeceira tem sido, e pelo visto, continuará sendo por toda a minha
vida; “Pedagogia da Autonomia”, do mestre Paulo Freire. Vejam o que ele nos diz
na página 55 deste livreto:
“Histórico-sócio-culturais,
mulheres e homens nos tornamos seres em quem a curiosidade, ultrapassando os
limites que lhe são peculiares no domínio vital, se torna fundante da produção
do conhecimento. Mais ainda, a curiosidade é já conhecimento. Como a linguagem
que anima a curiosidade e com ela se anima, é também conhecimento e não só
expressão dele.”
Mas vamos
fazer uma análise de uma experiência prática na cidade de Santos. Vejam o anexo
1 deste texto retirado do site g1.globo.com. A manchete é “Professor de
matemática é suspeito de apologia ao crime em Santos”. Mas será que Acerola e a
professora de História não fizeram apologia ao crime na série Cidade dos Homens? O que os distingue? Quem determina quem é exemplo e quem é criminoso?
A legitimidade.
A legitimidade.
A Rede
Globo tem o poder e o domínio para determinar o que é legítimo e o que não é.
Em uma novela de TV vê-se um exemplo que pode ser aplicado em um curso de
formação de professores. Na prática do professor vê-se o crime. Eu volto a
perguntar: O que os distingue?
E
respondo com Paulo Freire, o mesmo livreto, na página 63:
“É o meu bom senso, em
primeiro lugar, o que me deixa suspeitoso, no mínimo, de que não é possível à
escola, se, na verdade, engajada na formação de educandos educadores, alhear-se
das condições sociais culturais, econômicas de seus alunos, de suas famílias,
de seus vizinhos.”
E
continuo com a página 65:
“A prática
docente especificamente humana, é profundamente formadora, por isso, ética. Se
não se pode esperar de seus agentes que sejam santos ou anjos, pode-se e
deve-se deles exigir seriedade e retidão.”
E fica a
pergunta, esta, sem resposta: Quem determina o que é legítimo e o que não é?
Neste aspecto, tanto a Rede Globo quanto a academia se fazem juízes e condenam,
sem profundidade de conhecimento, apenas com teses, conceitos, teorias e
mercado.
Mas
pretendo ampliar esta questão evitando restringir nossa análise a fatos
singulares, como sugere as Orientações Curriculares. Até onde vai nossa
realidade e nossa responsabilidade?
Vejamos a
tabela de gastos de manutenção de gabinete de vereadores em São Paulo. Vamos
comparar com o gasto de nossas Escolas? A Escola onde trabalho, que atende mais
de 800 alunos, recebeu menos de R$ 50.000 no ano de 2011. A Prefeitura gastou
mais de 7,5 milhões de reais para manter 54 gabinetes, podendo gastar até R$
192.312,56 por gabinete/ano.
Esta é a
triste realidade de nosso cotidiano. Nossos heróis jogam bola e exibem o corpo
“sarado”. Nossos heróis não precisam ler, muito menos estudar. O político que
ganha menos recebe um salário pelo menos duas vezes maior do que qualquer
professor ou médico.
Enquanto
nossos valores estiverem sujeitos ao mercado e não sofrerem uma mudança ética
nossos alunos não serão encorajados à árdua tarefa de transformação do saber
ingênuo em saber produzido. E finalizo este texto com mais uma citação de Paulo
Freire, Pedagogia da Autonomia, página 69, como uma forma de oração:
“Mulheres e homens, somos os únicos seres que,
social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os
únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito
mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir,
reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à
aventura do espírito.”
RESPOSTA SIMPLES PARA AS QUESTÔES POSTAS:
1. Os
conhecimentos prévios mobilizados pelo aluno Acerola para compreender as
imagens e explicações da professora foram as imagens, linguagem e contexto de
seu cotidiano nos morros dominados por traficantes no Rio de Janeiro.
2. A
perspectiva da professora era meramente acadêmica, enquanto a perspectiva do
Acerola era figurativa e vinculada ao seu cotidiano. O grande elo que é
apresentado neste episódio, a meu ver, é o momento em que a professora “ouve” a
narrativa de seu aluno e se apropria dele para desenvolver o tema.
Anexo 1:http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/02/professor-de-matematica-e-acusado-de-apologia-ao-crime-em-santos.html
Anexo 2:
http://ocasional-mente.blogspot.com.br/2012/08/manutencao-de-gabinete-dos-vereadores.html
O episódio de Cidade dos Homens citado é "Coroa do Imperador" (partes 1 e 4):
http://www.youtube.com/watch?v=vIliPChFgRs&feature=player_embedded
Um comentário:
Gostei muito dessa análise. Parabéns pelo conteúdo desse blog.
Postar um comentário