Relatório
do primeiro dia.
Entre
as inúmeras surpresas que tive no decorrer do ano de 2012, esta foi uma
surpresa positiva. Hoje considero toda a propaganda sobre quimioterapia
enganosa. A primeira sessão de quimioterapia foi muito tranquila, até mesmo divertida.
As enfermeiras Cecília e Roberta são maravilhosas, na falta de uma palavra
melhor. A sessão começa com um pouco de soro, depois um medicamento para náusea
e enjoo, depois seguem os quatro medicamentos do tratamento, intercalados por
um pouco de soro.
No
meu caso, não tive nenhuma das reações desagradáveis que tanto propagam. É fato
que, cada caso é um caso. Eu me preparei com uma alimentação mais leve, muita
água, e um omeoprazol logo pela manhã. A sessão durou quase 6 horas, com
direito a almoço (mas eu não almocei desta vez) e muita conversa, afinal, 10
pessoas passam por aquela sala todas as manhãs, com um processo semelhante, com
muitas histórias para contar. Este é um detalhe importante: todos os dias 10
pessoas passam por um processo semelhante. Não sou o único.
Levei
uma sacola de piquenique, mas ela não foi tão necessária. Acabei só tomando um
pouco de iogurte e água de coco, e algumas bolachas com gergelim. Teve um dos
medicamentos que apelidamos de “ardida”, mas também foi sem maiores problemas.
A Cecília começou com gotejação bem lenta e foi aumentando aos poucos, o que
fez com que este medicamento não fosse diferente dos outros, e as etapas de
soro são sempre refrescantes, até agradáveis.
Minha
querida irmã, com meu incrível cunhado estavam me esperando. Sai da sessão da
mesma forma que entrei. Paramos em um restaurante para almoçar e depois fizemos
uma visita rápida na tia Graça, que mora na Pompeia. Foi aí que a situação
ficou um pouco intranquila. Senti calafrios, cansaço, mas não cheguei a ter
febre. Fizemos a viagem para Araras, aonde cheguei bastante abatido. Mas o
descanso foi milagroso. Não era 8 horas da noite e eu já estava bem novamente.
Sem febre, sem calafrios. Não parei de tomar líquidos durante o dia, sempre
tomando água de coco e água. À noite tomei uma sopa, mas não resisti à tentação
de comer um lanche junto com minha irmã e meu cunhado.
No
dia seguinte acordei muito bem, tomei o omeoprazol que vai me acompanhar
durante todo o tratamento e já estava tomando um comprimido de Vonau a cada 8
horas. Existe uma série de medicamentos que “ajudam” no tratamento contra os
efeitos colaterais da quimioterapia, e é muito importante seguir este
procedimento a risca. De resto, tive um dia cheio, fiz minha inscrição para a
prova de mestrado e iniciei a leitura da biografia do Jean Genet escrita por
Edmund White. A partir do terceiro dia, inicia-se uma série de cinco aplicações
subcutâneas de um medicamento para reforçar o sistema imunológico, que é
fortemente abalado pela quimioterapia.
Uma
grande alegria para mim foi que me dei conta que tenho amigos e amigas das mais
diferentes religiões e crenças, e amigos e amigas ateus também. E TODOS, sem
exceção, tem sua participação e colaboração para me ajudar. Os evangélicos são
os mais chatos, pois confundem Deus com igreja (embora afirmem o contrário),
confundem fé com comportamento. Enfim, cada um com seu jeito de ser. Os mais
divertidos são os ateus, que usam o otimismo e a alegria prática, sem recorrer
a orações, embora eu acredite que pensamento positivo seja uma forma de oração.
E eu, de família cristã, que sempre tive as religiões afrodescendentes como
demoníacas, reconheço agora meu erro, é o mesmo Deus em suas diferentes
manifestações.
Ser
professor de História tem me ensinado muito neste aspecto, conhecer e
transmitir estas diferentes histórias de mundo, conhecer e falar sobre
diferentes culturas, tudo isto tem me mostrado que somos os mesmos seres humanos,
na tentativa de construir um mundo que seja melhor, com menos violências, com
menos sofrimentos, com menos miséria econômica e humana, para que as diferenças
sejam motivo de admiração e não de medo, para que as diferenças sejam sinônimo
de riqueza e não de miséria, de liberdade de não de controle, para que as
diferenças sejam sinônimo de fraternidade, e não razão para disputas e
intolerâncias.
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