Quando me sinto triste, gosto de ficar quieto em minha gruta até a tristeza ir embora.
Mas quando me chega uma tristeza profunda, eu a levo para passear.
Então, tenho alguns lugares por onde gosto de passear com minha tristeza.
[Os amantes de São Paulo, pela foto, já sabem a qual lugar estou me referindo.]
Em São Paulo, um destes lugares, é a Pinacoteca do Estado,
com direito a uma caminhada pelo Parque da Luz.
E como o universo sempre conspira a favor dos loucos e poetas,
me defronto com uma dupla de música caipira cantarolando em um dos bancos da praça:
"levando alegria onde há solidão".
Paro para aspirar a vida que me cerca.
Me sento no chão e admiro as pessoas que me acompanham naquela canção.
Depois de contribuir com uma moeda sigo em frente.
Na Pinacoteca, as deliciosas surpresas sempre novas,
entre elas, o descobrimento de Apeco, um fotógrafo Dominicano.
Além da emoção ao ver suas obras obsorvi também a sabedoria de sua arte:
Segundo Apeco, "arte é descobrimento".
Ele fala sobre a importância da luz em sua obra, mas é à "luz de dentro" que ele se refere.
Sobre a dificuldade de seu trabalho, afirma: "o mais difícil são as histórias",
"o que cada um põe nas imagens", "expressar o que media entre meu ego e meu entorno".
"Meu coração está aí". O meu também.
in memoriam Apeco 1933-2010.
Sigo em frente.
As obras de Vasco Araújo com frases de Padre António Vieira:
"É necessário olhar para o que se vê".
"Só se sabe bem quem se sabe livrar de si".
Finalmente, o objetivo do passeio,
o lugar-ego que venho visitar com frequência:
um dos Atlantes que está no piso térreo da Pinacoteca,
ao lado da entrada do Café.
A mesma imagem está na entrada
do Teatro Municipal de São Paulo, em arenito,
mas é esta, segurando os alicerces da Pinacoteca,
um simples modelo,
a que me representa.
Esta imagem reflete meu ser.
Assim, ao me encontrar,
me sento em uma das mesas do Café
aberto para o Parque da Luz,
tomo o meu café acompanhado por um quindim,
e abandono a companheira que me levou até este lugar.
Meto-me dentro de mim mesmo e acho aí um mundo! (Goethe in Os sofrimentos do jovem Werther)
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sábado, 22 de junho de 2013
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Um linfoma chamado Hodgkin - V
Os chamados “ciclos de quimioterapia” seguiram-se, sem percalços. Houve
uma ameaça de interrupção do tratamento por falta de medicamento na farmácia do
HSPM, mas felizmente sua reposição chegou a tempo sem provocar interrupções no
meu tratamento. O mesmo não pode ser dito no caso de outros pacientes,
infelizmente.
Apesar de nunca faltar nada nos gabinetes de nossos ilustres vereadores;
que também deveriam ser responsáveis pelo bom funcionamento dos serviços
públicos; as escolas, postos de saúde e hospitais de São Paulo só
não estão mais abandonados porque a população sempre “põe a boca no trombone” e
a mídia adora uma notícia destas para ter IBOPE. É mais uma vergonha para nosso
país, tão rico e miserável ao mesmo tempo.
Fisicamente,
o corpo se desgasta com o passar das sessões. O estômago fica mais sensível, as
veias também sofrem com os medicamentos que são injetados (como é dito no
jargão hospitalar, as veias “fritam”). É por esta razão que o cuidado com a
alimentação e com o descanso é muito importante. Uma única vez que não resisti
à tentação de comer uma coxinha, eu passei a vergonha de dar uma mordida nela e
sair correndo para vomitar no banheiro, e nem deu tempo de chegar até lá.
Acabei trocando o meu vício em cerveja e bebidas alcoólicas por vício em água e
sucos (sorriso). É incrível como, mesmo com uma pausa no tratamento, o meu
desejo por estas bebidas ficou menor, e a necessidade por água e sucos ficou
mais intensa. Para o problema das veias, uma boa compressa com chá de camomila
proporciona uma melhora significativa.
Inicialmente
fui encaminhado para 8 ciclos de quimioterapia e terminados estes ciclos,
realizei novos exames de tomografia e cintilografia. Apesar de os exames não
apresentarem mais nenhum linfonodo, o médico me encaminhou para mais 4 ciclos
de quimioterapia afim de aumentar o possibilidade de não reincidência do
linfoma. No caso de reincidência do linfoma, o tratamento é mais agressivo, o
que torna este cuidado, neste momento, muito mais adequado e com menor
sofrimento, já que estou reagindo bem aos medicamentos e o tratamento não tem
causado tantos danos colaterais. O “presente” de mais 4 ciclos de quimioterapia
não é muito animador, mas é necessário, portanto, mais uma vez, é preciso
transformar nossa vida não em uma sucessão de problemas, mas em uma sucessão de
vitórias! Como diz o poeta: “Nunca me esquecerei desse acontecimento / na vida
de minhas retinas tão fatigadas. / Nunca me esquecerei que no meio do caminho /
tinha uma pedra.”
Já
foram cinco meses de tratamento, agora são mais dois meses de quimioterapia e
depois vou passar por sessões de radioterapia, e após tudo isto, alguns anos de
exames e acompanhamento para averiguar se não ocorre a reincidência do linfoma.
Mas posso dizer, com toda a certeza, que todos os resultados são extremamente
positivos.
Um linfoma chamado Hodgkin - IV
Após a terceira sessão de quimioterapia tudo continuou muito bem, nenhum
dos efeitos colaterais desagradáveis apareceram. Passei pela médica que me
acompanha e meu exame de sangue estava sem alterações, todos os níveis de
glóbulos brancos e coloridos excelentes. A Éden (minha querida e admirada
médica) fez um exame de toque nos linfonodos do pescoço e... já sumiram!!!
A tomografia que realizei uma semana antes do inicio do tratamento de
quimioterapia mostrou linfonodos no tórax e no abdomem também, o que indica que
estava no estágio 3 do Linfoma, e não no estágio 2, como estavam prevendo antes
do exame. O único problema é que engordei 1,5kg, o que não é normal para alguém
em processo de quimioterapia (sorriso).
Para os ciclos de quimioterapia é preciso de um acompanhante na saída das
aplicações. Eu chego no hospital às 7h da manhã, e saio entre 11h30 e 12h30.
Assim, é preciso sempre ter alguém no HSPM por volta de 11h. Aí, é só me
acompanhar até minha casa onde já estou com todo o esquema preparado para me
virar sozinho. Então, faço aqui meu agradecimento a estes amigos maravilhosos
que dispuseram de seu tempo para me ajudar neste momento:
A minha irmã e meu cunhado, sempre presentes e carinhosos comigo; à
Márcia Fráguas por seus deliciosos presentes (além da companhia); ao Miguel
Anselmo que além da companhia me ajudou muito sobre como lidar com todo o
processo; ao Adilson Rodrigues, sempre alegre e dando a maior força; à Patrícia
Weiss que me acompanhou mesmo estando em férias; ao Fábio Tamizari com seu
apoio e alegria insuperáveis e a minha queridíssima amiga Michele Krepschi, que
mesmo “atarefada”, conseguiu dedicar uma manhã para mim.
Um linfoma chamado Hodgkin - III
Relatório
do primeiro dia.
Entre
as inúmeras surpresas que tive no decorrer do ano de 2012, esta foi uma
surpresa positiva. Hoje considero toda a propaganda sobre quimioterapia
enganosa. A primeira sessão de quimioterapia foi muito tranquila, até mesmo divertida.
As enfermeiras Cecília e Roberta são maravilhosas, na falta de uma palavra
melhor. A sessão começa com um pouco de soro, depois um medicamento para náusea
e enjoo, depois seguem os quatro medicamentos do tratamento, intercalados por
um pouco de soro.
No
meu caso, não tive nenhuma das reações desagradáveis que tanto propagam. É fato
que, cada caso é um caso. Eu me preparei com uma alimentação mais leve, muita
água, e um omeoprazol logo pela manhã. A sessão durou quase 6 horas, com
direito a almoço (mas eu não almocei desta vez) e muita conversa, afinal, 10
pessoas passam por aquela sala todas as manhãs, com um processo semelhante, com
muitas histórias para contar. Este é um detalhe importante: todos os dias 10
pessoas passam por um processo semelhante. Não sou o único.
Levei
uma sacola de piquenique, mas ela não foi tão necessária. Acabei só tomando um
pouco de iogurte e água de coco, e algumas bolachas com gergelim. Teve um dos
medicamentos que apelidamos de “ardida”, mas também foi sem maiores problemas.
A Cecília começou com gotejação bem lenta e foi aumentando aos poucos, o que
fez com que este medicamento não fosse diferente dos outros, e as etapas de
soro são sempre refrescantes, até agradáveis.
Minha
querida irmã, com meu incrível cunhado estavam me esperando. Sai da sessão da
mesma forma que entrei. Paramos em um restaurante para almoçar e depois fizemos
uma visita rápida na tia Graça, que mora na Pompeia. Foi aí que a situação
ficou um pouco intranquila. Senti calafrios, cansaço, mas não cheguei a ter
febre. Fizemos a viagem para Araras, aonde cheguei bastante abatido. Mas o
descanso foi milagroso. Não era 8 horas da noite e eu já estava bem novamente.
Sem febre, sem calafrios. Não parei de tomar líquidos durante o dia, sempre
tomando água de coco e água. À noite tomei uma sopa, mas não resisti à tentação
de comer um lanche junto com minha irmã e meu cunhado.
No
dia seguinte acordei muito bem, tomei o omeoprazol que vai me acompanhar
durante todo o tratamento e já estava tomando um comprimido de Vonau a cada 8
horas. Existe uma série de medicamentos que “ajudam” no tratamento contra os
efeitos colaterais da quimioterapia, e é muito importante seguir este
procedimento a risca. De resto, tive um dia cheio, fiz minha inscrição para a
prova de mestrado e iniciei a leitura da biografia do Jean Genet escrita por
Edmund White. A partir do terceiro dia, inicia-se uma série de cinco aplicações
subcutâneas de um medicamento para reforçar o sistema imunológico, que é
fortemente abalado pela quimioterapia.
Uma
grande alegria para mim foi que me dei conta que tenho amigos e amigas das mais
diferentes religiões e crenças, e amigos e amigas ateus também. E TODOS, sem
exceção, tem sua participação e colaboração para me ajudar. Os evangélicos são
os mais chatos, pois confundem Deus com igreja (embora afirmem o contrário),
confundem fé com comportamento. Enfim, cada um com seu jeito de ser. Os mais
divertidos são os ateus, que usam o otimismo e a alegria prática, sem recorrer
a orações, embora eu acredite que pensamento positivo seja uma forma de oração.
E eu, de família cristã, que sempre tive as religiões afrodescendentes como
demoníacas, reconheço agora meu erro, é o mesmo Deus em suas diferentes
manifestações.
Ser
professor de História tem me ensinado muito neste aspecto, conhecer e
transmitir estas diferentes histórias de mundo, conhecer e falar sobre
diferentes culturas, tudo isto tem me mostrado que somos os mesmos seres humanos,
na tentativa de construir um mundo que seja melhor, com menos violências, com
menos sofrimentos, com menos miséria econômica e humana, para que as diferenças
sejam motivo de admiração e não de medo, para que as diferenças sejam sinônimo
de riqueza e não de miséria, de liberdade de não de controle, para que as
diferenças sejam sinônimo de fraternidade, e não razão para disputas e
intolerâncias.
Um linfoma chamado Hodgkin - II
Mais
um ano começou: 2012. Minhas férias de janeiro foram dedicadas a esclarecer
minhas preocupações. Através de minha médica, que tinha um amigo que trabalhava
no Hospital Dia, fui orientado a procura-lo com um relatório detalhado, e
tentar conseguir a biopsia através deles. Junto a isto, consegui agendar
atendimento com um Clínico Geral no HSPM.
Depois
de muita dificuldade burocrática, e graças à boa vontade do médico e atendentes
do Hospital Dia, consegui agendar uma biopsia para o início de fevereiro. No
HSPM também estava agendada a consulta com o Clínico Geral. Estes dois
procedimentos foram acontecendo ao mesmo tempo: no Hospital Dia realizei a
biopsia e aguardei o resultado; no HSPM passei pelo Clínico Geral, que me
encaminhou para Moléstias Infecciosas, que me encaminhou para a Dra. Éden, na
Clínica de Hematologia.
Quando
fui atendido pela médica da Hematologia, a maravilhosa Dra. Éden, já estava com
o resultado da biopsia em mãos: linfadenite atípica. Como o atendimento pelo
HSPM acabou sendo mais rápido, eficaz e conveniente que o atendimento pelo SUS,
resolvi focar todo o caso no HSPM. Para
a Dra. Éden a biopsia do Hospital Dia não dizia nada, era totalmente
inconclusivo, e como não havia a possibilidade de solicitar uma nova análise do
material obtido na biopsia, foi necessário outro encaminhamento, para a Clínica
de Pescoço e Cabeça no HSPM, e a realização de uma nova biopsia.
Mais
consultas, mais exames, biopsia agendada. Já estávamos em junho, final de
semestre, minha viagem pelo Rio Amazonas (Manaus-Santarém-Belém) estava
completamente programada. Meu querido amigo Ulisses me acompanhou durante a
biopsia, mas o resultado só ficaria disponível após minhas férias. Uma
preocupação a menos, pois considero que um problema sem solução, resolvido
está. Novas consultas com a Dra. Éden e na Clínica de Pescoço e Cabeça para
conhecimento do resultado da biopsia foram agendadas para a última semana de
julho, depois da viagem.
Minha
viagem de descobrimento pelo Rio Amazonas foi maravilhosa: os dias no barco
foram lindos e instrutivos, meu único dia em Alter do Chão foi paradisíaco e
Belém foi uma grande festa de encerramento da viagem. Tudo fotografado e
relatado, como é de meu feitio.
De
volta à realidade, com o resultado da biopsia em mãos, desta vez, sem dúvidas:
Linfoma de Hodgkin.
Nada
a fazer senão encarar os fatos e enfrenta-los. A Dra. Éden, com seu
comprometimento além de qualquer expectativa já havia encaminhado alguns exames
que seriam necessários e agendado uma consulta com o médico que iria
administrar o tratamento do Linfoma: quimioterapia e radioterapia.
No
site da ABRALE consegui inúmeras informações e orientações, entre elas, um
excelente “Manual de Cuidado Nutricional em Quimioterapia”. Outro amigo que já
passou por um processo semelhante me tranquilizou e me orientou ainda mais.
Enfim, todas as providências foram tomadas, e no dia 9 de agosto, praticamente
um ano após eu ter observado a alteração em meu pescoço, eu iniciei meu
tratamento com quimioterapia para me curar do Linfoma de Hodgkin.
Um linfoma chamado Hodgkin - I
Tudo
começou em mais um daqueles momentos em que nos defrontamos com nós mesmos na
frente do espelho. O final de semana havia sido intenso e uma nova semana com
sua rotina devia começar. Lá estava eu, na frente do espelho, averiguando quem
estava ali comigo; se havia ocorrido alguma mudança; se os cabelos brancos
continuavam desalinhados; se o diâmetro da cintura continuava maior do que o
desejado; se o meu olhar tinha algo para me dizer. Foi entre estas divagações e
olhares que notei algo estranho no meu pescoço; o lado esquerdo estava maior do
que de costume; havia um inchaço que deformava a linha do pescoço. Apalpei o
inchaço para averiguar sua existência, não havia dor, curvei a cabeça para
todos os lados; o inchaço continuava lá.
Estávamos
em agosto de 2011 e os compromissos da vida eram inadiáveis, assim sendo, segui
minha rotina, sem abandonar o pensamento sobre aquela alteração em minha
fisionomia. Alguns dias se passaram sem que ninguém observasse algo diferente
em meu pescoço, além de mim mesmo. A possibilidade de ser apenas algo
momentâneo foi sendo eliminada com o passar dos dias e a permanência da
alteração. Junto com o pensamento vieram as preocupações e uma consequente
busca de informações que indicaram várias alternativas: lipodistrofia, tireoide,
um simples deslocamento na musculatura, um linfoma chamado Hodgkin.
Passadas
algumas semanas tive uma consulta com a médica que me acompanhava e apresentei
minha preocupação sobre a alteração em meu pescoço. A médica examinou e eliminou a possibilidade
sobre a musculatura; havia pelo menos um nódulo grande no pescoço. Iniciou-se
então uma sequência de exames e encaminhamentos para diagnóstico. Após alguns exames a tireoide foi descartada
e passamos então ao encaminhamento para uma biopsia do nódulo. Já estávamos em
novembro e pelo nosso Sistema Único de Saúde (SUS) este exame poderia demorar
alguns meses para ocorrer. Sendo professor na rede pública municipal de São
Paulo uma amiga me aconselhou a procurar o Hospital do Servidor Público
Municipal (HSPM). O ano estava chegando ao fim, com muitos compromissos e
atividades na agenda, o inchaço no pescoço não apresentava dor ou qualquer
incômodo, os dias foram se passando e qualquer atitude mais incisiva foi
postergada para o ano seguinte.
No
decorrer do processo, já com a possibilidade de ser o Linfoma de Hodgkin, ou
algo pior, o Linfoma de não-Hodgkin, procurei orientações no site da ABRALE e
recebi ótimas e rápidas orientações sobre como proceder. Mas como disse, o ano
estava acabando, e as ações foram deixadas para o início do ano seguinte.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Passando roupa com Alexandre Machado
Ontem foi um dia difícil. Um daqueles dias em que várias pequenas coisas não acontecem como gostaríamos que ocorressem. Foi assim que cheguei em minha gruta; cansado e aborrecido. E bem na minha frente, sobre o sofá, pilhas de roupas para passar. Como sou um professor da rede municipal de ensino na cidade de São Paulo não tenho condições de me dar ao luxo de pagar uma diarista para executar esta tarefa, portanto, me dedico também a este cuidado pessoal.
Esta visão poderia ser mais um fato desagradável, mas não foi. Me peguei sorrindo e pensando no dia seguinte, o dia que sempre vem até que eu deixe de existir. Me peguei sorrindo pois já antecipei a manhã seguinte, manhã em que começaria meu dia passando roupa com Alexandre Machado.
Já faz um tempo que realizo este ritual, passar minhas roupas ouvindo a Cultura FM, e como geralmente realizo esta atividade logo cedo, inicio o processo ouvindo o programa “Começando o dia com Alexandre Machado”. Agora vocês já entenderam o título desta postagem. É assim que uma atividade rotineira e que poderia ser aborrecida transforma-se em um momento de relaxamento, de descontração, de prazer.
Vamos então, ao dia seguinte.
Acordei em um horário habitual, entre 6 e 7 horas da manhã. Liguei a televisão para ver os noticiários matinais e preparar meu cappuccino e torradas. Infelizmente, recordando o dia anterior, todas as notícias se resumiam ao jogo do Corintians no Japão. Após a terceira chamada sobre o mesmo tema resolvi não repetir a tragédia do dia anterior. Transferi a sintonia da minha televisão a cabo dos canais televisivos para os canais de música, e como já está programado, iniciei meu processo de relaxamento ouvindo uma música clássica pela Cultura FM e acendendo um incenso de patchouli. É incrível como uma simples troca de canais pode transformar o contexto de um dia inteiro.
E assim pude seguir meu dia, finalizando o café matinal, lavando os pratos e talheres, preparando o ferro e a tábua de passar roupas. Adquiri esta rotina; primeiro as calças e bermudas, depois as camisetas de algodão e por último as camisas e camisetas mais finas. Separo os cabides vagos, vou dobrando e separando as roupas sobre a cama e no final do processo organizo tudo dentro do armário. Pode parecer algo cansativo, banal e aborrecido, mas não é.
Na televisão vem a voz de Alexandre Machado anunciando as músicas e outras notícias matinais. Ao contrário da mesmice de outros canais de comunicação, as notícias informadas e comentadas pelo Alexandre e seus colaboradores são esclarecedoras. Não são apenas notícias soltas e desconexas, são informações contextualizadas e comentadas, sem força de julgamento, mas com a consistência necessária para uma verdadeira formação de opinião. E tudo isto embelezado por uma seleção inteligente e primorosa de músicas.
Infelizmente não participei do sorteio de livros pois, como já escrevi, estava passando minhas roupas, e não quis interromper meu processo para acessar uma página no facebook.
Tudo foi seguindo seu rumo até a inevitável notícia: o jogo do Corintians no Japão. Seria querer demais que Alexandre Machado ignorasse tal informação. Mas, com uma pitada sútil de humor ele introduziu a notícia e depois comentou sobre o adversário do time brasileiro, um time do Egito que havia passado por uma ocorrência onde morreram em torno de 70 torcedores em seu país. Foi então me dei conta de que, até aquele momento, desconhecia o adversário do time brasileiro. Apesar de me sentir sufocado pela constante repetição e imposição da informação referente a este jogo de futebol, mesmo com as dezenas de minutos e até mesmo horas de programação dos outros canais de comunicação dedicados a este jogo de futebol, foi apenas neste momento no qual posso afirmar que apreendi alguma coisa, foi apenas neste momento no qual pude perceber que além de um jogo de futebol havia algo mais para saber e conhecer, foi apenas neste momento em que me dei conta de que o time do Brasil iria jogar com um time do Egito, no Japão.
“Começando o dia com Alexandre Machado” chegou ao fim, mas não a minha pilha de roupas para passar, e este é mais um dia que eu estou apenas começando. As músicas da Cultura FM seguiram sua programação, minhas atividades seguiram a minha rotina, mas não poderia deixar passar este momento sem dizer: Obrigado Alexandre Machado por eu começar tão bem este dia.
sábado, 21 de julho de 2012
De volta à realidade...
O que dizer quando acordamos de um sonho bom?
O que dizer quando tudo o que vivemos ainda tem o gosto de "quero mais"?
O que dizer quando as memórias estão tão vivas que o coração bate como se movesse o mesmo sangue, a mesma emoção?
O que dizer quando não nos sentimos mais a mesma pessoa, o mesmo ser, nem mesmo o mesmo, corpo, alma?
Talvez, dizer o que disse nestas linhas escritas. Descrever cada momento, cada sensação, não todas, absolutamente, mas aquelas que continuam a gritar.
Até a volta Alter do Chão!
Perdido rio, ah meu rio... você é meu rio e eu pedra de rio.
Um dia eu volto.
Passada a floresta e seus rios. Passadas as nuvens altas que cobriam a terra. Eis as luzes de cidades, eis a luzes que se movem como formiguinhas no chão. Eis a cena de ficção científica das cidades iluminadas e suas estradas. Saio de um lindo sonho para voltar à realidade.
Que este dia passe logo e que os sonhos voltem a imperar em minha noite!
Já vou embora, mas sei que vou voltar
Amor não chora, se eu volto é pra ficar
Amor não chora, que a hora é de deixar
O amor de agora, pra sempre ele fica
Eu quis ficar aqui, mas não podia
O meu caminho a ti, não conduzia
Um rei mal coroado,
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Amor não chora, se eu volto é pra ficar
Amor não chora, que a hora é de deixar
O amor de agora, pra sempre ele fica
Eu quis ficar aqui, mas não podia
O meu caminho a ti, não conduzia
Um rei mal coroado,
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Não ia ser amado
Amor não chora, eu volto um dia
O rei velho e cansado já morria
Perdido em seu reinado
Sem Maria
Quando eu me despedia
No meu canto lhe dizia
Amor não chora, eu volto um dia
O rei velho e cansado já morria
Perdido em seu reinado
Sem Maria
Quando eu me despedia
No meu canto lhe dizia
A despedida
Teatro Cuíra |
Para encerrar a viagem, uma noite de espetáculos, de festa, de Amigos.
Comecei minha festa particular de despedida indo ao Teatro Cuíra para ver Aldeotas, de Gero Camilo, pelo Grupo Grutas. Mais um espaço de resistência de artistas que lutam para terem um espaço além daqueles mantidos pelo status quo. Fiquei muito feliz ao ver que este trabalho está incluído na programação do Festival Cultura de Verão, inclusão esta que propiciou a nova pintura do teatro. Nem vou questionar de isto é realmente motivo para ficar feliz. Estes atores maravilhosos que o digam.
Sala de espera do Teatro Cuíra |
E para minha despedida, ganhei este show maravilhoso, nas margens do rio, no chamado Pier da Casa das Onze Janelas.
Descobri que o melhor lugar para assistir aos shows era ao lado de uma lata de lixo. As pessoas mais bonitas da noite passaram pertinho de mim, de muitas sorrisos ganhei! Os detalhes não lhes contarei...
O primeiro show, STROBO, com base eletrônica, uma guitarra furiosa e bateria. No telão, animações incríveis para deixar o show ainda melhor.
Logo depois, uma banda de rock, com músicas em português, maravilhosa: Johny Rockstar! Alguns refrões da banda:
"Alcalina é uma menina fatal. Beija minha boca e me faz passar mal"
"O mundo está cheio de mortos vivos em eterna escuridão"
E para completar a noite, a banda trouxe este guitarrista irado como convidado, não guardei seu nome... Mas tirei a foto para o povo do Ilú Obá de Min!
Apenas para ilustrar, logo na entrada do pier, temos esta praça. Ao fundo está a Casa da Onze Janelas, cuja parede foi utilizada para a projeção de imagens do palco. Um pouco à frente, um conjunto de fontes com águas brincantes. Sem falar do litrão de Skol por R$ 6. Dá para acreditar que um lugar assim existe? Precisei fotografar, senão ninguém iria acreditar!
Durante o dia encontrei um lugar indicado como "imperdível" por uma Pessoa chamada Cristina, o Bar do Rubão. Terminado o show, caminhei até lá, que era próximo do pier, para tomar mais uma cerveja e tomar um caldo de caranguejo. Infelizmente, o Bar do Rubão sem a Cristina não é a mesma coisa, mas valeu, e vai valer mais quando eu voltar lá em sua companhia.
Na esquina do Bar do Rubão existe esta sereia, pois é aqui que acontece a Festa da Sereia! O melhor desta terra, tem festa para tudo!!!
Últimas fotos.
Últimos momentos.
Para o encerramento oficial, voltei ao Bar do Parque, onde encontrei Amigos de Belém. Vania, uma das autoras do livro "Escritos feitos de amor" http://www.estantevirtual.com.br/livreirodosaracas/Varios-Autores-Escritos-Feitos-de-Amor-52409274, o Matheus e o Romário... como nomeá-los? Artistas da terra? Artistas não-acadêmicos? Para que nomeá-los? Foi uma noite maravilhosa
e ponto final
Belém, conhecendo um pouco de nossa história
Museu de Arte e Museu Histórico |
E começando mais um dia. Na segunda-feira os museus não abrem, portanto, hoje, será o dia deles. Aqui temos o Museu de Arte e ao fundo o Museu Histórico. O prédio do Museu Histórico era a antiga Casa dos Governadores. Foi daqui que saiu o primeiro Círio de Nazaré, pois o governador da época foi curado pela graça da Santa e lhe fez a promessa do Círio. Assim, ele convidou a população para a celebração e, logo nesta "estréia", 9.000 pessoas compareceram. Depois do sucesso a igreja tentou impedir a continuidade da cerimônia mas o povo sempre se revoltava contra as determinações da igreja e realizada o Círio mesmo com a proibição dos padres e bispos.
Museu de Arte de Belém |
Não se pode tirar qualquer foto dentro do Museu Histórico, nem mesmo do Hall, que é magnífico, com seu lustre em bronze, as escadarias suntuosas e os vitrais. Infelizmente esta imagem vai ficar apenas na minha memória. Os salões do Museu Histórico também são magníficos.
No Museu de Arte também não são permitidas fotografias, mas pelo menos me deixaram fotografar o hall, as escadarias de acesso ao Museu. Fica esta foto como referência da grandiosidade do lugar.
Atrás do Museu Histórico fica esta pequena Igreja, Igreja de São João Batista, obra do arquiteto italiano Antonio Landi. Este arquiteto é muito conhecido em Belém e possui um salão dedicado a sua história e sua obra no Museu Histórico.
Dentro da Igreja de São João Batista, dois quadros, um de cada lado da igreja, um com a imagem de São João anunciando a vinda de Cristo, no outro sua cabeça na bandeja para Salomé.
Museu de Arte Sacra e Igreja de Santo Alexandre |
Na mesma praça em que encontramos a Catedral Metropolitana e o Museu de Arte Sacra, está a Casa das Onze Janelas, ao lado do rio. Infelizmente sua visitação só é permitida a partir da quarta-feira.
Entre o Museu de Arte Sacra e a Casa das Onze Janelas, encontramos o Forte do Presépio, ou Forte do Aquartelamento. Neste local está a origem do povoamento de Belém e do Amazonas.
Este forte já foi objeto de inúmeras pesquisas arqueológicas e mantém um pequeno museu que nos mostra todo o trabalho que foi realizado. É o único lugar onde encontrei alguma referência aos povos indígenas que habitavam esta região antes da dominação portuguesa.
Abaixo, uma vista do Ver o Peso e das Docas a partir do Forte.
Nesta foto tirada de dentro do forte, vemos, logo em frente, a Catedral Metropolitana. Um exemplo claro da combinação Estado/Igreja para estabelecer o domínio desejado.
O que mais me incomodou em toda este passeio foi a completa ausência de monumentos ou obras retratando os verdadeiros fundadores de nosso país, os habitantes originais desta terra. O que vemos são os símbolos de dominação, o nativo sempre ajoelhado e recebendo "as bençãos" de seus dominadores e assassinos. É a típica história dos vencedores. Será que um dia teremos realmente orgulho de sermos filhos de Pindorama? Será que um dia seremos capazes de questionar nossa nacionalidade, não mais como dominados e batizados por europeus?
O que temos é apenas uma história da Europa na América.
O que temos é apenas uma história da Europa na América.
Belém, conhecendo a cidade
Igreja de Santana |
Noite bem dormida em uma cama gostosa. Café da manhã. Pés no chão para conhecer a cidade de Belém do Pará. Como o Robson já me havia dito, muitas igrejas. Não sei o porquê, mas as igrejas me atraem. Obviamente, pelo tamanho da cidade, não existem tantas igrejas quanto em Ouro Preto, mas no centro da cidade, é difícil não cruzar com algumas durante uma caminhada.
Altar da Igreja de Santana |
E caminhando pela cidade, a natureza, sempre dominando.
Vejam esta garça, imponente, fazendo pose para a foto, nem se importando com o caos urbano que a cerca.
Catedral Metropolitana |
A Catedral Metropolitana, de onde sai o Círio de Nazaré. A Igreja mais suntuosa, por fora, por dentro. Em seu interior um imenso orgão de tubos. Infelizmente as celebrações ao som do orgão acontecem apenas nos finais de semana.
Detalhe do altar |
Orgão de Tubos da Catedral Metropolitana |
A Igreja do Carmo.
Igreja do Carmo |
Altar da Igreja do Carmo |
Aqui, uma imagem desnecessária? Quantas pessoas são necessária para acumular tanto lixo neste lugar? Seriam estas mesmas pessoas capazes de se unirem para deixarem Belém uma cidade ainda mais bonita? Acho que não... aliás, estas pessoas nem devem ser capazes de ver a beleza desta cidade.
O lugar imperdível. Se não se conhecer o Ver o Peso, você não pode dizer que conhece Belém. Começando pelas barracas de poções, perfumes e ervas. Na foto a Dna Meire. Entre os perfumes, em pequenos vidros coloridos, o de "Amanssar corno", o que "Amarra homem" ou "Amarra mulher", de acordo com a preferência, entre dezenas de outros.
No Ver o Peso encontramos barracas de todos os tipos de produtos; roupas, cereais, legumes e verduras, comidas. Foi aqui que encontrei um nativo vendendo uma muda de Glogue, ou Lírio da Amazônia, e descobri o nome desta planta, linda e facilmente encontrada em todos os cantos da região.
O melhor mesmo, para mim, e pela fome, foram as bancas de comidas na beira do rio. Almocei aqui nos dois dias, um delicioso prato com Dourado, por apenas R$ 8.
Depois do almoço um passeio pela nova Estação das Docas. Um belíssimo projeto de revitalização da região do porto. Lá dentro encontramos lojas, restaurantes, uma cervejaria que fabrica a cerveja no próprio local, com o maquinário à mostra, o delicioso sorvete da Cairu. É quase um Ver o Peso, mais caro e sofisticado, sem a força e graça do mercado popular que fica ao seu lado.
Saindo da Estação das Docas, subindo a Avenida Presidente Getúlio Vargas, à esquerda, um dos prédios da administração das Docas, mais um exemplo lindo da arquitetura em Belém. Na praça em frente, uma combinação de casas típicas da cidade, muito bem conservadas, duas com a frente toda azulejada. Uma lindeza.
Depois de um descanso no hotel para fugir do calor causticante mais uma caminhada e sou surpreendido por uma chuva torrencial, outra situação típica da região. A chuva forte não dura mais do que meia hora, e logo depois tudo volta ao normal. Enquanto se espera a chuva uma boa opção é admirar os detalhes da arquitetura da cidade. Fico cada vez mais deslumbrado.
Caminhei até a Igreja do Carmo onde haverá um show do Festival Cultura de Verão http://festivalculturadeverao.com.br/. Aproveitei para comer um delicioso caldo de caranguejo que estava sendo vendido por devotas na entrada da igreja. Antes do show, uma procissão em volta da Praça do Carmo. Pacote completo para um turista como eu.
Nesta noite, no palco, uma dupla de violeiros: Bob Freitas e Nego Nelson. Depois deste show que fui até a cervejaria da Estação das Docas experimentar uma River para encerrar a noite.
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